segunda-feira, 22 de abril de 2024

Primeiros primeiros-ministros em Portugal

«Ministro universal assistente ao despacho» ― Mota
«Primeiro Ministro do Gabinete para o despacho universal» ― Pombal em 1775 (v. Monteiro 2008, D. José, p. 321)

Ministro assistente ao Despacho
1736-1747 cardeal Dom João da Mota e Silva (de jure)
1747-1750 Frei Gaspar da Encarnação [Dom Gaspar de Moscoso e Silva] (de facto)
1750-1772 Sebastião José de Carvalho e Melo, 1.º marquês de Pombal (de facto)
1772-1777 cardeal Dom João Cosme da Cunha (de jure)
1777-1787 Dom Pedro José de Noronha, 3.º marquês de Angeja (de jure)
1787-1788 Frei Inácio de São Caetano [nome secular?], arcebispo titular de Tessalónica (de jure[1]
1788-1800 Dom Tomás Xavier de Lima, 1.º marquês de Ponte de Lima (de facto)
1801-1801 Dom João Carlos de Bragança e Ligne, 2.º duque de Lafões (de jure)
1801-1804 Luís Pinto de Sousa Coutinho, 1.º visconde de Balsemão (de facto)
1804-1806 Dom Diogo José de Noronha, 8.º conde de Vila Verde (de jure)
1806-1807 António de Araújo de Azevedo, 1.º conde da Barca
1808-1817 Dom Fernando José de Portugal e Castro, 2.º marquês de Aguiar
1817-1817 João Paulo Bezerra de Seixas, 1.º barão de Itaguaí (de jure)
1817-1821 Tomás António de Vila Nova Portugal
1821-1821 Inácio da Costa Quintela (de facto)
1821-1823 Filipe Ferreira de Araújo e Castro (de facto)
1823-1825 Manuel Inácio Martins Pamplona Côrte-Real, 1.º conde de Subserra

Secretário do Gabinete
1736-1750 Frei Gaspar da Encarnação [Dom Gaspar de Moscoso e Silva]
Secretário do Rei (Escrivão da Puridade)
1740-1750 Alexandre de Gusmão

Secretário de Estado dos Negócios Interiores do Reino
1736-1755 padre Pedro da Mota e Silva (irmão do cardeal da Mota)
1756-1777 Sebastião José de Carvalho e Melo, 1.º marquês de Pombal
1777-1788 Dom Tomás Xavier de Lima, 1.º marquês de Ponte de Lima
1788-1799 José de Seabra da Silva
1801-1804 Luís Pinto de Sousa Coutinho, 1.º visconde de Balsemão
1804-1806 Dom Diogo José de Noronha, 8.º conde de Vila Verde
1806-1807 António de Araújo de Azevedo, 1.º conde da Barca
1808-1816 Dom Fernando José de Portugal e Castro, 2.º marquês de Aguiar
1816-1817 António de Araújo de Azevedo, 1.º conde da Barca
1817-1817 João Paulo Bezerra de Seixas, 1.º barão de Itaguaí
1817-1821 Tomás António de Vila Nova Portugal
1821-1821 Inácio da Costa Quintela
1821-1823 Filipe Ferreira de Araújo e Castro

Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra
[1736-1739 António Guedes Pereira (de facto, Coutinho em Londres)]
1736-1750 Marco António de Azevedo Coutinho 
1750-1756 Sebastião José de Carvalho e Melo, 1.º marquês de Pombal
1756-1775 Dom Luís da Cunha Manuel
1775-1786 Aires de Sá e Melo
1786-1786 Martinho de Melo e Castro (interino)
1786-1788 Dom Tomás Xavier de Lima, 1.º marquês de Ponte de Lima (interino)
1788-1801 Luís Pinto de Sousa Coutinho, 1.º visconde de Balsemão
1801-1801 Dom João Carlos de Bragança e Ligne, 2.º duque de Lafões
1801-1803 Dom João de Almeida de Melo e Castro, 5.º conde das Galveias
1803-1804 João Rodrigues de Sá e Melo, 1.º conde de Anadia (interino)
1804-1804 Dom Diogo José de Noronha, 8.º conde de Vila Verde
1804-1808 António de Araújo de Azevedo, 1.º conde da Barca
1808-1812 Rodrigo de Sousa Coutinho, 1.º conde de Linhares
1812-1814 Dom João de Almeida de Melo e Castro, 5.º conde das Galveias (interino)
1814-1816 Dom Fernando José de Portugal e Castro, 2.º marquês de Aguiar
1816-1817 António de Araújo de Azevedo, 1.º conde da Barca
1817-1817 João Paulo Bezerra de Seixas, 1.º barão de Itaguaí (interino)
1817-1820 Tomás António de Vila Nova Portugal
1820-1821 Pedro de Sousa e Holstein, 1.º duque de Palmela

Secretário de Estado dos Negócios da Marinha e dos Domínios Ultramarinos
1736-1750 António Guedes Pereira
1750-1756 Diogo de Mendonça Côrte-Real, filho
1756-1760 Tomé Joaquim da Costa Côrte-Real
1760-1769 Francisco Xavier de Mendonça Furtado (irmão de Pombal)
1770-1795 Martinho de Melo e Castro
1795-1801 Rodrigo de Sousa Coutinho, 1.º conde de Linhares
1801-1809 Dom João Rodrigues de Sá e Melo, 1.º conde de Anadia
1809-1814 Dom João de Almeida Melo e Castro, 5.º conde das Galveias
1814-1814 Dom Fernando José de Portugal e Castro, 2.º marquês de Aguiar
1814-1817 António de Araújo de Azevedo, 1.º conde da Barca
1817-1818 Tomás António de Vila Nova Portugal
1818-1821 Dom Marcos de Noronha e Brito, 8.º conde dos Arcos

Contador-mor da Casa dos Contos do Reino e Casa Real
[1389-1761]
1746-1761 Lourenço Rudolfo Van-Zeller
Inspector-geral do Tesouro (presidente ao Real Erário)
1761-1777 Sebastião José de Carvalho e Melo, 1.º marquês de Pombal
1777-1788 Dom Pedro José de Noronha, 3.º marquês de Angeja
1788-1788 Martinho de Melo e Castro (interino)
Presidente do Real Erário e Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda
1788-1800 Dom Tomás Xavier de Lima, 1.º marquês de Ponte de Lima
1801-1803 Rodrigo de Sousa Coutinho, 1.º conde de Linhares
1804-1807 Dom Luís de Vasconcelos e Sousa, 4.º conde de Figueiró
1808-1816 Dom Fernando José de Portugal e Castro, 2.º marquês de Aguiar
1816-1817 António de Araújo e Azevedo, 1.º conde da Barca
1817-1817 João Paulo Bezerra de Seixas, 1.º barão de Itaguaí
1817-1821 Tomás António de Vila Nova Portugal
1821-1822 Dom Diogo de Eça de Meneses, 3.º conde da Lousã
extinção do cargo em 1832, passou a ministro da Fazenda

Secretário de Estado dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça
1821-1823 José da Silva Carvalho
1823-1923 José António Guerreiro
extinção do cargo em 1910, passou a ministro da Justiça

Referências
[1] https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/38187/1/203035178.pdf
• Júlia Platonovna Korobtchenko (2011) A Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra. A Instituição, os Instrumentos e os Homens (1736-1756). Dissertação de Mestrado em História Moderna. Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa.
• Nuno Gonçalo Monteiro, II Parte ― Idade Moderna in Rui Ramos et al. (2009) História de Portugal. A Esfera dos Livros.
• http://mapa.an.gov.br/index.php/dicionario-periodo-colonial/232-secretaria-de-estado-dos-negocios-do-brasil
• https://erario.tcontas.pt/pt/apresenta/historia/tc1389-1761.shtm
• https://purl.sgmf.pt/COL-MF-0065/1/COL-MF-0065_master/COL-MF-0065_PDF/COL-MF-0065_VersaoIntegral.pdf
• https://200anos.justica.gov.pt/os-ministros-da-justica-monarquia-constitucional/
• http://mapa.an.gov.br/index.php/dicionario-periodo-colonial/233-secretaria-de-estado-dos-negocios-estrangeiros-e-da-guerra

terça-feira, 9 de abril de 2024

72 livros de Filosofia que toda a gente devia ler


Filosofia Política
• John Rawls, Justice as Fairness: A Restatement (2001)
• Gerald Cohen, If You're An Egalitarian, How Come You're So Rich? (2000)
• Ronald Dworkin, Justice for Hedgehogs (2011)

Pós-modernismo
• Friedrich Nietzsche, On the Genealogy of Morality (1887)
• Michel Foucault, Discipline and Punish (1975)
• Jacques Derrida, Spurs (1978)

Pós-colonialismo
• Hannah Arendt, The Origins of Totalitarianism (1951)
• Frantz Fanon, Black Skin, White Masks and The Wretched of the Earth (1952)
• Walter Benjamin, The Arcades Project (left incomplete at his death in 1940, published posthumously in 1982)

Filosofia Analítica Moderna
• Gottlob Frege, The Foundations of Arithmetic (1884)
• Bertrand Russell, Logic and Knowledge (1956)
• Ludwig Wittgenstein, Tractatus Logico-Philosophicus (1921)

Filosofia da Mente
• William James, The Principles of Psychology (1890)
• Aristotle, De anima (c. 350 BC)
The Routledge Handbook of Panpsychism (2018)

Filosofia da Ciência
• Karl Popper, The Logic of Scientific Discovery (1934)
• Thomas Kuhn, The Structure of Scientific Revolutions, 1962 (importantly modified edition in 1970)
• Paul Feyerabend, Against Method (1975)

Existencialismo
• Simone de Beauvoir, The Second Sex (1949)
• Albert Camus, The Myth of Sisyphus (1942)
• Jean-Paul Sartre, Being and Nothingness (1943)

Fenomenologia
• Edmund Husserl, Logical Investigations (1900-1901)
• Adolf Reinach, The A priori Foundations of the Civil Law (1913)
• Roman Ingarden, The Literary Work of Art (1931)

Filosofia Africana
The Tale of the Eloquent Peasant, translated by R. B. Parkinson. (1850 BCE) 
• Aboubakar Fofana, The Manden Charter, translated into French by Jean-Louis Sagot (1236)
• Zera Yacob, The Treatise of Zera Yacob (1667)
• Ahmad Baba al-Timbukti, Mi'raj al Su'ud: Ahmad Baba's Replies on Slavery (1615)
• Henry Odera Oruka, Sage Philosophy: Indigenous Thinkers and Modern Debate on African Philosophy (1990)

Feminismo
• Mary Wollstonecraft, A Vindication of the Rights of Woman (1792) 
• Virginia Woolf, A Room of One's Own (1929)
• Simone de Beauvoir, The Second Sex (1949)

Idealismo Alemão
• Immanuel Kant, Critique of Pure Reason (1781)
• Georg Wilhelm Friedrich Hegel, The Phenomenology of the Spirit (1807)
• F. W. J Schelling, Stuttgart Seminars (1810)

Iluminismo
• Descartes, Meditations on First Philosophy (1641)
• Spinoza, Tractatus Theologico-Politicus (1677)
• Locke, Essay Concerning Human Understanding (1690)
• Locke, Second Treatise of Government (1690)
• Hume, Inquiry Concerning Human Understanding (1748)
• Montesquieu, The Spirit of the Laws (1748)
• Rousseau, Émile, or On Education (1762)

Filosofia Analítica Indiana
• Gaṅgeśa, Tattvacintāmaṇi (The Gemstone of Truth) (1325)
• Raghunātha, Padārthatattvanirūpaṇa (Inquiry into the Nature of Things) (1510)
• Gadādhara, Śaktivāda (Treatise on Meaning) (1650)

Filosofia Medieval Cristã
• Augustine, The City of God (426)
• Aquinas, On Being and Essence (13th century)
• Buridan, Summulae de Dialectica (14th century)

Filosofia Medieval Islâmica
• Ibn Ṭufayl, Ḥayy ibn Yaqẓān, trans. L.E. Goodman. (12th century CE)
• Averroes, On the Harmony of Religion and Philosophy, trans. G.F. Hourani. (12th century CE)
The Philosophical Works of al-Kindī, trans. P. Adamson and P.E. Pormann. (9th century CE)

Filosofia Japonesa
• Heisig, James W., Thomas P. Kasulis, and John C. Maraldo, eds. Japanese Philosophy: A Sourcebook (2011)
• Dōgen, Treasury of the True Dharma Eye: Zen Master Dōgen’s Shobo Genzo, Kazuaki Tanahashi, ed. (1233–1253)
• Nishida Kitarō, An Inquiry into the Good, trans. by Masao Abe and Christopher Ives.  (1911)
• Watsuji Tetsurō, Watsuji Tetsurō’s “Rinrigaku”: Ethics in Japan, trans. Yamamoto Seikaku and Robert E. Carter. (1937–1949)
• Yuasa Yasuo (1925–2005). The Body: Toward an Eastern Mind-body Theory, trans. Shigenori Nagatomo and Thomas P. Kasulis. (1977)

Filosofia Romana Antiga
• Lucretius, On the Nature of Things (50 BCE)
• Cicero, On Ends (1st century BCE)
• Seneca, Letters (c. 65 CE)
• Musonius Rufus, Discourses (1st century CE)
• Marcus Aurelius, Meditations (161-180 CE)

Filosofia Grega Antiga
• Platão, Last Days of Socrates (Euthyphro, Apology, Crito, Phaedo) (Penguin Classics) (399 BCE)
• Platão, Republic (380 BCE)
• Aristóteles, Nicomachean Ethics (350 BCE)
• Epicteto, Discourses (108 CE)

Filosofia Chinesa
• Confucius, Analects
The Daodejing: A short book on Daoist philosophy
• Huineng, The Platform Sutra of the Sixth Patriarch

Filosofia Indiana Antiga
• The Upaniṣads (the old Radhakrishnan translation is still a good one) (between 8th and 1st century BCE for both early and late Upanisads)
• Bhagavad-Gītā (Stoller-Miller translation) (5th to 3rd century BCE)
• Abhinavgupta’s commentary on Bhārata (KC Pandey translation) (10th century BCE)
• The Questions of King Milinda, Nāgārjuna’s Mūlamadhyamakakārikā (either my translation or Siderits and Katsura) (2nd to 3rd century BCE)
• Dignāga. Investigation of the Percept, with commentaries (Duckworth et al.) (5th century)
• Śāntideva’s Bodhicāryāvatāra, trans. Wallace and Wallace or Crosby and Skilton (8th century AD)

domingo, 31 de março de 2024

Origem das Palavras Divergentes

 Origem das Palavras Divergentes

via POPULAR ― via ERUDITA
adro ― átrio
alhear ― alienar
aprender ― apreender
areia ― arena
auto ― acto
avesso ― adverso
cabido ― capítulo
cadeira ― cátedra
caldo ― cálido
catar ― captar
chama ― flama
chantar ― plantar
chão ― plano
chave ― clave
cheio ― pleno
ciclo ― círculo
coalhar ― coagular
conceição ― concepção
cuidar ― cogitar
dedo ― dígito
delgado ― delicado
desenho ― desígnio
direito ― directo
dobro ― duplo
escutar ― auscultar
eu ― ego
feito ― facto
fogo ― fócus/foco
frio ― frígido
herdeiro ― hereditário
inteiro ― íntegro
lavrar ― laborar
leal ― legal
leigo ― laico
limpo ― límpido
logro ― lucro
macho ― másculo
madeira ― matéria
mãe ― madre
meio ― médio
mèzinha ― medicina
nédio ― nítido
olho ― óculo
paço ― palácio
pai ― padre
palavra ― parábola
partilha ― partícula
povoação ― população
primeiro ― primário
receitar ― receptar
redondo ― rotundo
rezar ― recitar
rotura ― ruptura
sé ― sede
segredo ― secreto
selo ― sigilo
senhor ― sénior
sobrar ― superar
solteiro ― solitário

https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/palavras-divergentes-etimologia/21827
https://recursos.portoeditora.pt/recurso?id=2902849

sexta-feira, 22 de março de 2024

Citações sobre ciência e história, explicação e ideologia

"We now live in the paradoxical situation that the physicists who are supposed to deal with matter describe an animated universe which is inseparable from consciousness, and the life scientists who are supposed to be dealing with a living world see only a machine."

― Iain McGilchrist, in conversation with John Cleese, 11:28. https://youtu.be/qMTA1qP4yC0?t=687


"Today’s 'Do-it-yourself biologists' are different [from the great thinkers of ancient Greece or the gentlemen scientists of the 18th and 19th centuries], because they are not following mainstream science. In the last half century, as technology grew prohibitively expensive, researchers were forced to turn to central funding sources, and science became increasingly institutionalized. Tinkerers were no longer welcome. The 21st-century DIYbio movement is now challenging that dogma."

― Jef Akst, News Editor of "The Scientist" magazine, March 2013, p. 12 (Editorial) 


"As luzes das cidades não só impedem cagarras, toutinegras e tartarugas de encontrarem o seu caminho, mas também nos impedem a nós, humanos, de desfrutar do céu noturno. Em 1994, quando um terramoto cortou a eletricidade em Los Angeles, muitos habitantes da cidade contactaram os centros de emergência, preocupados com uma «nuvem prateada gigante» no céu noturno. Era a Via Láctea, que há anos estava encoberta pelo brilho urbano."

― «Quando a noite se torna dia», in Pardela: Revista da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, N.º 65 Outono/Inverno 2022, pp. 19-20.


"Laplace, que vivia numa época em que se acreditava num universo determinístico, imaginou que se alguém conhecesse todas as causas determinaria os efeitos, conheceria o futuro. O intento que ele imaginou ficou conhecido como demónio de Laplace. A sobriedade da razão dar-lhe-ia uma visão da perspectiva da eternidade, mas hoje a ciência tende a crer num universo incerto, probabilístico, em que a aleatoriedade tem um papel fundamental. O andar do bêbedo faz parte do próprio tecido do Universo."

― Afonso Cruz (2019) O macaco bêbedo foi à ópera. Da embriaguez à civilização. FFMS, p. 57.


"Professional mathematicians, for their part, tend to keep calculation at arm’s length. (...) Entire branches of mathematics are removed from calculation, and even where calculations surface, the creative elements of mathematical intelligence reside in dreaming up such methods in the first place, understanding their inner workings and applying them in novel settings. The specific act of calculation is secondary and offers little joy or illumination."

― Junaid Mubeen (2022), Mathematical Intelligence: A Story of Huma Superiority over Machines, p. 13.


"[Francis] Bacon contesta os filósofos gregos, em especial Aristóteles, desconhecendo que cem anos antes D. João de Castro e até mesmo os seus navegadores tinham identificado os perigos do raciocínio dedutivo, assim como a sua inutilidade para a compreensão dos novos mares, territórios e astros que iam encontrando no caminho para o Atlântico Sul." (p. 173)

"(...) «arte» aqui, como então, tem o sentido grego de techné, ou technéi, de onde derivam técnica e tecnologia (...) Um curto parêntese sobre conhecimento e tecnologia: os anglo-americanos usam uma distinção útil entre «saber» (to know that) e «saber como» (to know how). O primeiro tipo de conhecimento resulta da penetração nos segredos da natura. O segundo traduz a aplicação desses conhecimentos a práticas; aliás, não só os aplicam como os desviam do seu lugar natural. Por outras palavras, a techné é uma alteração da natureza para fins utilitários." (pp. 241-242)

"(...) Os estudos pós-coloniais insistem na acentuação da verdade de lana caprina das intenções imperiais do processo dos Descobrimentos, como se se tratasse de uma descoberta do nosso tempo, que apenas Marx, Foucault e os demais gurus dos estudos culturais e pós-coloniais nos tivessem permitido detectar. Na verdade, o que vimos presenciando na produção «científica» proveniente desse campo é, acima de tudo, uma denúncia fortemente condenatória de um processo que nunca procurou esconder as suas motivações de fundo, pelo simples facto de, na época da sua ocorrência, nunca antes ter sido posta em causa a sua legitimidade. Hoje, tocados que estamos todos pela generalização de um dos valores contidos já na ideia de modernidade, o da igualdade ― que o século XX arvorou como sua grande conquista, primeiro concentrando-se no estatuto das mulheres e depois alargando-o a todos os outros segmentos da população até então inferiorizados pela hegemonia branca de raiz europeia, ― esse valor está presente em tudo, inclusivè num campo como a história, por vezes catapultando moralizações completamente anacrónicas, a despeito de todos os efeitos benéficos gerados por uma reiterada tomada de consciência da sua relevância. Quer dizer, pois, que a novidade trazida por muitos estudos de história pós-colonial consiste fundamentalmente no juízo ético sobre acontecimentos, sem contribuir de modo significativo para o entendimento dos mesmos." (p. 244)

― Onésimo Teotónio Almeida (2018) O Século dos Prodígios. A Ciência no Portugal da Expansão. Quetzal.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Algumas notas sobre a Filosofia Portuguesa

Isto são apenas alguns excertos do livro de Onésimo que me fizeram relembrar o meu espanto quanto à «Filosofia Portuguesa» com que concluí uma anterior postagem. Afinal houve (ou há), ainda por cima, um movimento que se quis filosófico e que se (auto-?)intitulou, com grande falta de criatividade, Filosofia Portuguesa, o que ainda complica mais o assunto. Vale a pena ler os textos completos, mas isto é só uma nota para mim próprio, que agora não tenho tempo de escrever um comentário coeso.

«Perante tais arrojos, parece justificar-se a ignorância displicente que à Filosofia Portuguesa vota a maioria da camada intelectual lusa ou lusófila.» p. 155

«Nós sabemos hoje, depois de Wittgenstein, que o sentido é o uso.» p. 220

«Ora, em semântica é regra fundamental que o significado é o uso. Dito de outro modo: para se saber o que significa uma palavra ou uma expressão, analisa-se o contexto em que é usada.» p. 225

«Quando [Ramón] Piñeiro diz que "en realidade cada home tem a súa filosofía", quer dizer que cada homem (e mulher, naturalmente) tem a sua mundividência (...).» p. 221

«(...) sobre a famigerada questão da filosofia portuguesa (...) [Manuel Antunes] resolv[eu] a questão com uma frase lapidar: "Se é nacional não é filosofia, se é filosofia não é nacional." (...) [a] sua explicação do que a filosofia não é; especificamente ela não é visão do mundo (...). (...) filosofia, em si, e visão do mundo, em si, não são plenamente idênticas nem sequer identificáveis.» p. 231

― Onésimo Teotónio Almeida (2017) A Obsessão da Portugalidade. Quetzal.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Citações de Vergílio Ferreira

"... não vejo, sou. É bom ser apenas. Fecho os olhos e o Lucinho abre-mos, põe as mãos sobre eles ou a boca. Gosta de encostar a boca aberta e de babar-me a cara na comunicação fundamental que é a das secreções."
― Vergílio Ferreira, Nítido Nulo, p. 57, Quetzal.

"É estranho que ninguém me conheça ― estarei morto? Porque eu existo, bem o sei. Para eles e para mim ― serei talvez uma ideia, uma fórmula abstracta como a dos livros. Como um velho taralhouco, que foi gente e não há maneira de marrar para se amar enfim, sem empecilhos, no que foi."
― Vergílio Ferreira, Nítido Nulo, p. 62, Quetzal.

"Hei-de contar tudo a seu tempo e em voz baixa, as pessoas não gostam de em voz alta. Em voz alta é como por exemplo, querer ter graça porque há logo quem não ache graça nenhuma. (...) Quem fala tem de falar à parte nobre do homem e a parte nobre do homem tem sempre uma cara de pau."
― Vergílio Ferreira, Nítido Nulo, p. 138, Quetzal.

"A história do homem é a da luta contra as suas limitações. Mas as suas limitações foi ele que as inventou. É um jogo curioso, só agora o sabemos. Não bastava o que naturalmente o limita ― o frio, a fome, todas as misérias do corpo. Arranjou também as do espírito que não havia. Deve dar-lhe um gozo imenso inventar sarilhos para os desensarilhar. (...) Tirava o medo de um lado, punha-o noutro. Entendia que sem coragem não era homem. Mas para haver coragem tem de haver um medo qualquer. É um jogo divertido. O homem precisa do medo para ter que o vencer. Mas depois de o vencer, tem de inventar outro para não estar à boa vida."
― Vergílio Ferreira, Nítido Nulo, pp. 141-142, Quetzal.

"Uma coisa é eu poder liquidar um terror. Outra coisa á descobrir que ele não tem direito a ser terror. Esta coisa é que é difícil. Porque um terror também protege (...) Saber que nada está acima do homem para que nem sequer ele esteja acima, que é o que de mais perigoso pode estar acima por não ter contas a dar ao que estivésse ainda acima."
― Vergílio Ferreira, Nítido Nulo, p. 144, Quetzal.

"O meu lugar era dependurado na parede, entre os antepassados. (...) os antepassados políticos são úteis. Dão encosto, fiam responsabilidade. Agacham-se para a gente pôr um pé. São dóceis, não protestam. Acumulam bens, a gente gasta. Eles é que pagam. Todas as nossas dívidas são para a conta deles. (...) Mas sobretudo são discretos, falam só o preciso."
― Vergílio Ferreira, Nítido Nulo, p. 200, Quetzal.

"Eu dizia, por exemplo, «se és livre, defende a liberdade» e Teófilo acrescentava «quando não, vais para a cadeia». Eu dizia «não recebas ordens de ninguém, porque tu és a tua ordem.» ― Essa é a ordem que te dou, dizia logo Teófilo."
― Vergílio Ferreira, Nítido Nulo, p. 200, Quetzal.

"Como quando procuramos um guarda-sol e não reparamos que um guarda-chuva faz o mesmo."
― Vergílio Ferreira, Nítido Nulo, p. 200, Quetzal.

"...os que morreram por uma ideia e os que morreram por outra ideia que veio logo a seguir e só durou enquanto se estava distraído a ver que a anterior afinal já não era ideia nenhuma; os que lutaram a vida inteira para tirar o chicote das mãos de um tipo e metê-lo nas mãos de outro tipo que dava mais gozo quando chicoteava; os que se puseram à roda de uma palavra e se bateram como leões contra os que estavam à roda de outra palavra que queria dizer o mesmo (...), os que levaram a vida inteira à espera de ter razão e quando era a altura de a terem, já não servia."
― Vergílio Ferreira, Nítido Nulo, p. 203, Quetzal.

"Porque a arte não é nada, é uma forma de nos comovermos ― comovemo-nos já com tanto mono. Com o cristo a sangrar, com as pernas de vénus, com. Que é que justifica essa homenagem? (...) Sei que os altares estão vazios e que a um momento de desatenção nos põem lá outro santo."
― Vergílio Ferreira, Nítido Nulo, p. 203, Quetzal.

"Eu semeio uma árvore, a árvore cresce e os homens põem nela uma forca ― também semeei a forca?"
― Vergílio Ferreira, Nítido Nulo, p. 239, Quetzal.

"...ó Deus, ó Deus ― outra vez? Que Deus não saia de ao pé dos seus querubins, quero resolver tudo sozinho."
― Vergílio Ferreira, Nítido Nulo, p. 239, Quetzal.

"...mas a verdade, como uma amante, não é daquele de quem gosta, mas de quem a pode sustentar."
― Vergílio Ferreira, Nítido Nulo, p. 243, Quetzal.

"Isto já deve ter sido dito pelos pensadores profissionais que tiraram carta para isso e nos não deixarem pensar a nós, que não temos diploma."
― Vergílio Ferreira, Nítido Nulo, p. 246, Quetzal.

"As coisas têm um fim. O fim começa no começo."
― Vergílio Ferreira, Nítido Nulo, p. 260, Quetzal.

"Porque o mais difícil é sempre o que não existe. Numa sala às escuras, o mais difícil é o que lá não está. E tanto lá não está que se a gente acender a luz, não está lá mesmo. Se nos apontarem uma pistola sem balas, a gente tem medo. A gente vê que não tem balas e tem medo. Há máscaras pintadas que nos arrepiam. É um medo de tinta, de nada, mas existe real nesse nada. (...) As coisas que existem são o que são, mas as que não existem são o que não são, e isso é muito maior."
― Vergílio Ferreira, Nítido Nulo, p. 264, Quetzal.

"Mas as coisas evidentes são difíceis de ver. O que está mais perto dos olhos são os olhos e aos olhos ninguém os vê. Têm de se tirar do lugar, pô-los noutro sítio à distância para se verem. Por exemplo, num espelho. (...) A gente derruba a divindade e fica lá o altar. A gente derruba o altar e fica a igreja. A gente derruba a igreja e fica lá o sítio dela. A gente derruba tudo e fica ainda o gesto de derrubar. O gesto de derrubar é que é difícil. (...) como glorificar o gesto, sem glorificar o gesticulador? A como glorificar seja o que for, sem lhe erguer um altar? (...) Mas erguido o altar, tudo o mais vem por si, desde a igreja ao padre, ao sacristão. E às beatas."
― Vergílio Ferreira, Nítido Nulo, p. 266, Quetzal.

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Ainda sobre Camões nos seus 500 anos

Publicações coevas das obras de Camões:
• Os Lusíadas (poesia épica, 1572, 1584, 1591, 1597, 1609, 1612, 1639, 1817) [ref];
• El-Rei Seleuco (teatro, 1587, 1616, 1654); 
• Auto de Filodemo (teatro, 1587); 
• Anfitriões (teatro, 1587);
• Rimas (poesia lírica, 1595, 1598, 1616, 1668, 1685-1689, 1861, 1932, 1953);
• Cartas (prosa epistolar, 1595).

Epopeia:
• Os Lusíadas
Teatro:
• El-Rei Seleuco
• Auto de Filodemo
• Anfitriões
Rimas:
• Canções
• Éclogas
• Elegias
• Epigramas
• Odes
• Oitavas
• Redondilhas
• Sextinas
• Sonetos
Cartas:
• Carta de Ceuta
• Carta de Goa
• Outra carta de Goa

«A conclusão a tirar é a de que tudo o que se pode com segurança dizer sobre as origens sociais de Camões é que era filho do cavaleiro-fidalgo Simão Vaz e era, ele próprio, homem sujeito a foro plebeu. São obscuros os pontos do sangue ― se cristão-novo ou velho ― e da filiação, se legítima se ilegítima. A pobreza é certa. E entre esses negrumes ― pobreza, bastardia, sangue hebraico ― se hão-de procurar as infelizes estrelas do nascimento.» (JHS, Vida ignorada, p. 47)

«Pode, portanto e por agora, dar-se por assente o seguinte (JHS, Vida ignorada, p. 185):
a) Camões manteve uma ligação amorosa com uma jovem, que era a imagem e semelhança da sua ama, D. Violante de Andrade;
b) Isso valeu-lhe uma perseguição, o desamor da ama, antiga amante, e o ciúme entre esta e a amada jovem;
c) A jovem morreu muito nova e foi sepultada no mar;
d) A essa jovem chama Camões, na écloga, Natércia e, em dois sonetos, Dinamene;
e) Foram cometidas falsificações de documentos para ocultar a identificação quer de Violante de Andrade, quer da jovem amada, filha dela;
f) O autor de uma dessas falsificações (a da Igreja das Chagas) foi Diogo Paiva de Andrade, sobrinho de D. Violante e primo direito da filha desta;
g) Há alguns indícios de as falsificações terem todas e mesma origem, sendo possível encontrar relações entre qualquer delas e Diogo Paiva.