domingo, 14 de junho de 2020

Filósofos Portugueses dos Séculos XIX e XX

Vou listar aqui, apenas para nota pessoal (que pode ser útil aos internautas), os 75 nomes que aparecem no livro de António Braz Teixeira, O essencial sobre a Filosofia Portuguesa (Sécs. XIX e XX), Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2008. Escrevo ainda algumas notas avulsas sobre esse texto no fim deste post.

Teodoro de Almeida (1722-1804)
António Soares Barbosa (1734-1801)
Joaquim José Rodrigues de Brito (1753-1831)
José Agostinho de Macedo (1761-1831)
Silvestre Pinheiro Ferreira (1769-1846)
Vicente Ferrer Neto Paiva (1798-1886)
Joaquim Maria Rodrigues de Brito (1822-1873)
Pedro Amorim Viana (1822-1901)
Joaquim Maria da Silva (1830-1915)
Cunha Seixas (1836-1895)
Manuel Emídio Garcia (1838-1904)
[Tobias Barreto (1839-1889), brasileiro]
Antero de Quental (1842-1891)
Teófilo Braga (1843-1924)
Guerra Junqueiro (1850-1923)
Miguel Bombarda (1851-1910)
Basílio Teles (1856-1923)
Teixeira Bastos (1857-1902)
Sampaio Bruno (1857-1915)
Júlio de Matos (1857-1923)
Domingos Tarroso (1860-1933)
Raúl Brandão (1867-1930)
Teixeira de Pascoaes (1877-1952)
Teixeira Rego (1881-1934)
Leonardo Coimbra (1883-1936)
António Sérgio (1883-1969)
Raúl Proença (1884-1941)
Raúl Leal (1886-1964)
Fernando Pessoa (1888-1935)
Vieira de Almeida (1888-1962)
L. Cabral de Moncada (1888-1974)
Abel Salazar (1889-1946)
Fidelino de Figueiredo (1889-1967)
Aarão de Lacerda (1890-1947)
Joaquim de Carvalho (1892-1958)
Newton de Macedo (1894-1944)
Cassiano Abranches (1896-1983)
Augusto Saraiva (1900-1975)
Sant'Anna Dionísio (1902-1991)
José Marinho (1904-1975)
Álvaro Ribeiro (1905-1981)
José Brandão (1906-1984)
Agostinho da Silva (1906-1994)
Delfim Santos (1907-1966)
António Dias de Magalhães (1907-1972)
F. Cunha Leão (1907-1974)
Diamantino Martins (1909-1979)
Eudoro de Sousa (1911-1987)
Edmundo Curvelo (1913-1955)
Arnaldo Miranda Barbosa (1916-1973)
Vergílio Ferreira (1916-1996)
José Bacelar e Oliveira (1916-1999)
Dalila Pereira da Costa (1918-2012)
Afonso Botelho (1919-1996)
Júlio Fragata (1920-1985)
Orlando Vitorino (1922-2003)
Gustavo de Fraga (1922-2003)
Alexandre Fradique Morujão (1922-2009)
António Quadros (1923-1993)
Eduardo Lourenço (n. 1923)
Maria Manuela Saraiva (1924-1995)
José Enes (n. 1924)
João Baptista Machado (1927-1991)
Eduardo Abranches de Soveral (1927-2003)
António Telmo (1927-2010)
António José de Brito (n. 1927)
João Ferreira (n. 1927)
A. Castanheira Neves (n. 1929)
Fernando Gil (1937-2006)
Jesué Pinharanda Gomes (1939-2019)
Mário Sottomayor Cardia (1941-2006)
[Andrés Torres Queiruga (n. 1941), galego]
António Cândido Franco (n. 1956)
Paulo Borges (n. 1958)
Manuel Cândido Pimentel (n. 1961)

Sendo um competente guia de consulta para os iniciados (aprendi muito, só tenho a agradeço ao autor o esforço), esse texto está porém pejado de -ismos e -istas, o que torna a leitura difícil para quem, como eu, não conheça o significado preciso de cada um dos conceitos e nos exatos contextos em que são usados!

E cito: sensismo setecentista, criticismo kantiano, utilitarista, racionalismo espiritualista, krausista, cristianismo, criacionismo, saudosismo, empirismo sensista, ecletismo sensista, sensualista, idealismo, anti-idealismo, utilitarismo ético, inatismo leibniziano, providencialista, optimista, dualismo, imanentismo, emanatismo, teísmo, deísmo, pantiteísmo, panteísmo, panenteísmo, ateísmo ético e cientificista, monismo evolucionista e materialista, monismo panteísta, evolucionismo materialista, mecanicista, agnosticismo, retornismo, paganismo, espiritualismo, idealismo alemão, positivismo comtiano, materialismo, atomismo, legalista, universalista, realista ou ideo-racionalista, ideo-realista, pluralismo monadológico, ordinalismo teleológico, ontocosmologia panteísta, teodiceia, metafísica pessimista, pluralismo ontológico, espiritualismo ético, egoísmo, historicismo, naturalista, cosmologia evolucionista, reintegracionista, monismo dinâmico, dinamismo, idealismo ético anteriano, dualismo criacionista, silogismo, optimismo cristão, criacionismo leonardino, transformismo evolutivo, idealismo sergiano, voluntarismo, intelectualismo sergiano, idealismo racionalista, determinista, positivismo lógico, neopositivismo, neokantismo, nacionalismo, neoliberalismo, tomista, tridimensionalismo, neo-utilitarismo...

Talvez seja útil saber que tais palavras existem para depois as ir procurar num dicionário, num compêndio de termos filosóficos ou numa enciclopédia universal, mas ainda assim, num livro que busca mostrar «o essencial», parece-me excessivo.

Três notas, que são, no fundo, a mesma. Têm a ver com a noção de evolução, que parece ser usada na Filosofia com uma definição completamente diferente da que tem na Biologia, e eu isso não sabia. Um excerto do texto:

Deste modo, a evolução deveria ser compreendida como ascensão dos seres à liberdade, (...) sendo o progresso a lei da evolução, esta não poderá deixar de ter um sentido ético, de tender para a criação de uma ordem racional (...). Para Antero, o bem constituiria o momento final da evolução do ser (...) etc.
pp. 34-35 

Ora esta evolução que progride até o momento final é aberrante em termos biológicos! A única coisa que tem em comum com o conceito de evolução biológica é o nome! A evolução dos seres vivos ocorre por alteração da frequência de traços numa população que se reproduz ao longo do tempo: não ocorre por progressão desses traços de um patamar para outro sucessivamente até um determinado patamar superior! Suspeito que Antero tenha sido mais uma vítima da interpretação errada que Spencer fez da teoria darwiniana, dando-lhe laivos positivistas que ela não tinha. Outro excerto:

Teófilo Braga e os seus mais directos colaboradores (...) procediam à divulgação da doutrina positivista (na versão pessoal e heterodoxa de Teófilo) entre 1878 e 1887. Teófilo, entendendo ser necessário rever e actualizar a doutrina comtiana, acabou por convertê-la numa metafísica monista, materialista, mecanicista e evolucionista que veio a enformar e dominar o ensino público e a constituir o principal substrato ideológico do Partido Republicano. Domingos Tarroso (1881) critica a "epidemia positivista", em especial a sua gnosiologia e o seu modo de conceber a natureza da filosofia e a relação entre filosofia e ciência.
pp. 37-38

Interessa-me saber que alguém (Tarroso) criticou o positivismo, mas fico na dúvida sobre afinal que raio de positivismo é que ele criticou, se Teófilo o converteu numa coisa completamente diferente a que pôs o nome de positivismo! E aquela metafísica evolucionista o que é? Mais umas coisas a progredir de patamar em patamar? Outro excerto ainda:

Era neste singular conceito de criação que radicava o evolucionismo de Pascoaes, segundo o qual sucessivas revelações forçadas da alma, que, sendo excedência de uma forma viva e mais antiga pelo corpo, é criadora e reveladora de Deus, que, por seu intermédio, de criador material se torna criatura espiritual. 
p. 56

Lá está outra vez a noção de "sucessão evolutiva", whatever that may be. Ficamos, portanto, a saber que Antero, Teófilo e Pascoaes, três pensadores ditos evolucionistas, nada conheciam de evolução biológica a não ser o nome.

Para terminar, anoto o meu espanto ao descobrir que a noção de Filosofia Portuguesa não é paralela à que eu tenho de Ciência Portuguesa. [NB ver também a postagem de 28/02/2024]

Para mim, e talvez porque eu venha de uma área científica, a Ciência Portuguesa é a ciência que é feita em Portugal, por cientistas portugueses ou estrangeiros, ou mesmo a que é feita no estrangeiro por cientistas portugueses; mas é a mesma Ciência que é feita na Finlândia, na Indonésia ou em qualquer parte do mundo. E se não o fosse nem seria Ciência, porque a Ciência é universal. A Ciência Portuguesa é apenas o ramo português desse universo supranacional (ou anacional) e não pode ser diferente dos outros ramos. É a CIÊNCIA PORTUGUESA.

A Filosofia Portuguesa parece ser exatamente o oposto: um esforço para tornar a Filosofia que se faz em Portugal e/ou por filósofos portugueses (estarão os estrangeiros excluídos por princípio?) o mais diferente possível da que se faz na Finlândia, na Indonésia ou em qualquer outra parte do mundo! Não parece existir um objectivo de contribuir para algo maior, universal e aberto; pelo contrário, procura-se o que exista de mais ímpar, local e fechado. Excluindo todo o resto: o que não é português não interessa. É a FILOSOFIA PORTUGUESA.

Parece que, desde os anos 1980, a Filosofia Portuguesa faz uma concessão a uma filosofia estrangeira, a Filosofia Brasileira, na tentativa de atingir uma Filosofia Luso-Brasileira. Não me parece uma grande mudança na noção que enfatiza o adjectivo e não o substantivo. Fica um clube maior, mas continua um clube fechado. Espero estar enganado e que alguém me corrija.

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