quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Bom Natal para todos!

Paula Rego, "Natividade" ou "Virgem Grávida", 2002. Capela do Palácio de Belém, Lisboa.

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Anatomia antiga

Figure of the Human Skeleton, c. 1250. Anonymous, Ms D.II.11, f. 169v, Öffentliche Bibliothek der Universität,...

Publicado por Centre for the Study of Medicine and the Body in the Renaissance - CSMBR em Segunda-feira, 30 de novembro de 2020

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Gonçalo Ribeiro Telles (1922-2020)

Quando eu vivi em Lisboa, há uns 12 anos, via-o muitas vezes no metro; fazia o que apregoava: andava de transportes públicos em vez de usar constantemente o poluidor automóvel.

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Quino [Joaquín Salvador Lavado] (1932-2020)

domingo, 30 de agosto de 2020

Citações Eruditas

"(...) [L]a muséologie est une philosophie du muséal investie de deux tâches : (1) elle sert de métathéorie à la science documentaire sensible, et (2) elle est aussi une éthique régulatrice de toute institution chargée de gérer cette fonction documentaire intuitive concrète, que cette institution revête ou non la figure officielle d'un musée… Cette conception de la muséologie est délibérément militante et engagée, elle dénonce la trop fréquente confusion entre le musée et la muséologie: c'est au musée lui-même que reviennent la tâche de présentation des expôts, le rôle d'instrument scientifique et l'interdisciplinarité, mais également le traitement des informations, en revanche c'est à la muséologie qu'appartient le choix des finalités. De là découle naturellement une mission, et le terme de mission est indiscutablement plus proche de ce qu'on attend d'une éthique que d'un projet scientifique."

— Bernard Deloche (2001) Le musée Virtuel, PUF, Paris. Sob a epígrafe Statut de la muséologie (pp. 115-145).


"The consensus among philosophers that there is no simple reduction of Mendelian to molecular genetics may seem surprising. For molecular biology is often, and rightly, portrayed as a triumph of the reductionist method in science — that is, the method of studying larger systems by studying how their micro parts work. (...) If a system, biological or physical, succumbs to reductionistic investigation, it does not follow that every macro-level pattern that the system exhibits can be eliminated in favour of a micro-level one."

— Samir Okasha (2019) Philosophy of Biology: A Very Short Introduction, OUP, Oxford, p. 115 [v. also chapter 2 for excellent summary of evolutionary theory].


O erudito e escritor galego Ricardo Carvalho Calero, de cujo Dia (ou, melhor, Ano) das Letras Galegas é justamente este de 2020. Algumas ligações: website oficial, Real Academia GalegaPortal Galego da Língua, Conselho da Cultura GalegaCiberdúvidas. Imagem tirada daqui.


"A romantística de Otero Pedrayo nõ é uma romantística de tipo clássico. Se lermos a narrativa de Castelao (...) observaremos que deste homem de Rianjo podemos detectar as características de um escritor clássico. Contra o que alguns queriam no seu tempo, Castelao era um artista mui reflexivo. O próprio Otero Pedrayo sofreu a ilusõ de interpretar [a] Castelao como uma força da Natureza que produze a sua obra espontâneamente, como canta um regato, como mana uma fonte! Sõ palavras aproximadamente exactas que dedica Otero Pedrayo a comentar a maneira de escrever de Castelao. Péro sõ palavras erróneas: Castelao escrevia com minúcia e autocrítica extraordinária! Repassava contìnuamente o escrito, corrigia contìnuamente, buscando (o que nõ se deu nunca em Otero Pedrayo) uma harmonia de linguagem, umas cadências de (?) que fazem que a sua obra nos lembre [a] escritores da Antigüidade que se preocuparam sempre destes problemas de métrica prosística que são realmente alheios ao procedimento torrencial do próprio Otero Pedrayo. Tudo está medido, em Castelao. Cando volve sobre um tema (...), bule, arranja, perfecciona; a sua obra, pois, está medida. É uma obra calculada, de uma enorme consciência das necessidades técnicas para chegar a produzir um resultado o mais perfeito possível. Otero é todo o contrário. Se Castelao é um clássico, Otero é um romântico. Se Castelao emprega uma enorme economia no dizer poético, na expressõ prosística narrativa, Otero Pedrayo tende ao barroquismo, tende a concentrar numa frase elementos antagónicos que produzem essa tensõ que caracteriza, precisamente, o espírito barroco. E isto é, justamente, uma das dificuldades de Otero Pedrayo para produzir estruturas narrativas inteiramente satisfactórias. Otero Pedrayo (que possui um carácter verdadeiramente genial (...), a capacidade creativa, a fecundidade, a fertilidade, a potência viril de engendrar filhos literários), em troques, atua sempre com arreglo, com um brote de inspiraçõ que nõ sempre está regulado pelo control da própria autocrítica. (...) 
    Começando por a dicotomia de romantismo e realismo (...). Se entendermos por realismo a reproduçõ fiel das formas de existência da aldeia galega (incluindo, por suposto, dentro da aldeia os núcleos urbanos modestos que, na Galiça que Otero Pedrayo respinta, existiam já, e também as unidades domésticas de tipo senhorial que se situavam em meio do campo), e se entendermos por romantismo a creaçõ imaginária que idealiza e que reflexa um modelo de tipo volitivo, persoal, não filtrado, e um desejo de reproduzir a realidade objectiva, veremos que na maior parte dos romances de Castelao (...) se verifica uma inestável situaçõ de desequilíbrio, que diminui, efetivamente, o valor estrutural das suas obras (...). O que é valioso em Otero é a reproduçõ da realidade. (...)"

— Ricardo Carvalho Calero (1989) Conferência sobre Ramón Otero Pedrayo, vista no YouTube, Junho 2020; o texto transcrito aparece a partir dos 16'00''.


"Claro que sou cristão; e outra coisas, por exemplo budista, o que é, para tantos, ser ateísta; ou, outro exemplo, pagão. O que, tudo junto, dá português, na sua plena forma brasileira".

— Agostinho da Silva, Pensamento à Solta, in Textos e Ensaios Filosóficos II, p. 175.

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Cinco antigos momentos de ficção

1.
        O ventrículo esquerdo recusava-se a funcionar. Mas ela agarrava-se à vida sem saber bem porquê. Já tinha passado tanto tempo desde que tinha saído da barriga da mãe... Ela nem se lembrava de quanto tempo tinha passado! E o ventrículo esquerdo mantinha-se inconstante. Deixou de sentir as pernas. Também para quê agarrar-se à vida? Ela nem tinha gostado muito dela. Crescera, namorara, casara, tivera filhos e netos... e depois? O marido tinha sido um pândego, um imbecil cobarde que lhe fazia coisas quando chegava a casa bêbado, coisas em que ela não queria pensar... Já não sentia nada da barriga para baixo, as mãos estavam dormentes. Os filhos tinham sido trabalhos e preocupações, e no fim — porque houve um fim, muito antes deste que agora aí vem — no fim, os filhos abandonaram-na, foram viver longe, tornaram-se inalcançáveis por vontade própria... 
        O ventrículo ficou imóvel. O coração parou. Ouviu o aparelhómetro ali do hospital a dar um sinal e viu as enfermeiras a correr para ela, nem percebeu muito bem porquê. Os netos, ela nem os conhecia bem... Vinham visitá-la nas férias, alguns fins-de-semana por ano, mas depressa se aborreciam e escondiam-se por detrás dos jogos de vídeo e computadores e parafrenálias afins, para não ter de estar com ela nem sequer aqueles poucos dias. Deixou de sentir os braços, o pescoço. As enfermeiras mexiam nela, chamavam o nome dela; um médico apontava-lhe uma luz aos olhos. Os netos não estavam ali, ela sabia que não estavam. Nem os filhos. Deixou de sentir a nuca, depois os lábios, as pálpebras, a testa. Deixou de sentir-se. O esmorecido ventrículo levou a melhor. (A última coisa que ouviu foi um telemóvel.) 

        Lisboa, 14 de Julho de 2008 


2.
        Já era o segundo bolo que a Teolinda fazia naquela tarde. O primeiro saiu muito, muito mal (pelo menos é o que ela diz). Eu tinha chegado a casa com os pés encharcados da enxurrada que passava na estrada. Não que chovesse, não: era um cano roto que explodiu pela terceira vez esta semana. Fora isso, estava um calor insuportável na rua e eu cheguei corado, a transpirar, cansado.
— Deixa lá isso, para que é outro bolo? — disse eu. — Esse forno só está a deixar a cozinha mais quente do que já está!
A Teolinda sussurrou-me "é uma surpresa", mas não explicou mais nada e eu não perguntei mais nada — assumi que não era para mim e desinteressei-me da questão.
Bebi um meio copo de água e despejei o resto no vaso com uma dicotiledónea que estava sobre o peitoral da janela. Estava tão seca que parecia que alguém a tinha andado a regar com ácido... 
        Ali de cima via os paralelepípedos desarrumados do chão da praça e as pessoas tristes que passavam. Uma discussão entre marido e mulher, alheios a tudo, sozinhos no mundo deles, que devia estar cheio de arame farpado. O calceteiro fazia ronha, fumando encostado a um prédio decadente, quiçá a impedir que caísse... Mais ao longe, a ribeira do cano roto. Dei à planta mais um copo de água. E tudo isto via eu da janela, enquanto ouvia o ruído incessante do aparelho de ar condicionado mesmo por baixo dela. 
        — Já está — disse a Teolinda.
         O bolo? Que rápido.

        Lisboa, 14 de Julho de 2008


3.
        Está em frente ao roupeiro, olhando para a amálgama que lá está. Ele nunca percebeu nada daquilo de roupa, ela é que tratava disso. Só que ela já tinha saído... Ele tirou umas calças que supôs não seriam dela, uma camisa que ele desejava que não fosse dela (os botões são à esquerda ou à direita?) e uma camisola de malha que ele tinha a certeza que não era dela porque ela não usava camisolas de malha. Vestiu-se e olhou para um espelho da porta. Não viu nada de errado — nunca via, apesar de ela criticar tudo! Tirou da gaveta do fundo o Patek Philippe — esforçada prenda do pai que estava ao lado do velhinho Casio que foi o seu primeiro relógio, e uma nota de 10 euros do maço de reserva. Estava a chover e ele pensou que era boa ideia usar o guarda-chuva novo que a tia Eduarda lhe tinha dado no Natal, mas não valia a pena, o seu velho e torto guarda-chuva ainda havia de durar muito, não valia a pena estar a estragar outro.
Fechou as portas do roupeiro e ao fechar a última viu uma nesga do cofre antigo que ele nunca tinha conseguido abrir — e aquilo sempre o intrigou. O que estaria lá dentro? Mas fechou a porta totalmente e suspirou: já estava atrasado para o trabalho...

        Lisboa, 29 de Julho de 2008


4.
        Andy McTheach fazia-se passar por um turista como outro qualquer. Obrigava-se todos os dias a cumprimentar com a sua melhor Received Pronunciation, como um antigo locutor da BBC, o casal de australianos que estava hospedado naquele hotel. E como reparou que a maior parte dos turistas carregavam pequenos romances de bolso, deslocou-se à banca, retirou um livro ao calhas, olhou o preço sem piscar e depois de pagar foi sentar-se no lobby à espera do seu contacto português.
Folheou o livro. Não gostava nada de ler. Tinha-o feito para contentar a 1.ª mulher, Hannah, mas depois do divórcio depressa se deixou disso. A 2.ª mulher, Carlotta, também não gostara de ler, o que tinha sido um alívio. Ele só esperava que a sua noiva de agora também não gostasse. 
Mas fez um esforço, tinha de manter as aparências. Cruzou as pernas, acomodou-se no cadeirão de verga, tirou o chapéu Homburg e abriu o livro ao calhas. Leu o seguinte:
Chegou-se a ela, um centímetro de cada vez. Falava, mas não dizia nada. Ela estava calada, à espera. Quando as pontas dos narizes se tocaram ele parou de falar, chegou-se mais a ela e os lábios tocaram-se. Devagar, sentiu os lábios dela e deixou que ela sentisse os seus. O que aconteceu a seguir foi pura música.
Que ridículo! Estava ele a ler aquilo! Franziu os lábios com desdém. Apeteceu-lhe atirar o livro para longe. Os beijos não eram assim, ele nunca tinha demorado tanto tempo a beijar uma mulher. "Chegou-se a ela centímetro a centímetro". Pfui! Ele, Andrew Cuthbert McTheach, nunca esperava para sentir os lábios de uma  mulher, partia logo para a língua, abocanhava e chupava... Era assim que se beijava. "E o que aconteceu a seguir foi pura música". Ele nunca se preocupava com a música, quer estivesse a tocar ou não; eram só as carnes, o roçar, o esfregar, o apalpar, sexo duro e mais nada, não havia cá sentimentalismos! Ele, às suas companheiras (e eram muitas, mesmo depois de casado), nunca fizera nada mais do que sexo. Não se lembra de ter tocado ou beijado Hannah. Não se lembrava nem da textura da pele dela porque nunca esperou para a sentir...
Ouviu passos. Dirigiam-se para ele. O seu instinto pô-lo alerta. Era o seu contacto português, que lhe disse baixo:
— Do we have a deal?

        Lisboa, 31 de Julho de 2008


5.
        Josefina Ana, mulher dos seus sessenta e muitos, mal tratada pela vida mas desenvolta, tropeçou numa trouxa de roupa que trazia para lavar e foi de rebolão pelos degraus das Escadinhas de São Bernardo. Resultado: um ílio lascado, uma ulna partida, uma rótula deslocada e enésimos hematomas. Mas Josefina Ana não se apercebeu dos traumatismos. Não tinha vida para traumatismos. Levantou-se sem gemer, recolheu a roupa na trouxa, foi até aos tanques públicos e, apesar da anca inchada, do braço partido e da perna torta, lavou a roupa toda.
Na volta para casa, com as dores, desmaiou. A roupa lavada, que trazia à cabeça, espalhou-se pelo passeio sujo. Uns transeuntes ligaram para o 112 e lá foi Josefina Ana para o São José, onde o Doutor Miranda, grande clínico e muito perspicaz, fez o diagnóstico: um ílio lascado, uma ulna partida, uma rótula deslocada e enésimos hematomas. Mas Josefina Ana não compreendia: “Mas, ó Senhor Doutor... eu só caí das escadas!”

        Lisboa, 30 de Junho de 2009

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Governo de Portugal 1580-1640

Como é sabido, durante sessenta anos na viragem do século XVI para o XVII, Portugal partilhou o chefe do Estado com a Espanha (e outros territórios extra-peninsulares sob domínio espanhol). Os reis foram três, cada um reinando em Portugal sensìvelmente vinte anos:

1580-1598 Dom Filipe I de Portugal (1556-1598 Felipe II de España)
1598-1621 Dom Filipe II de Portugal (1598-1621 Felipe III de España)
1622-1640 Dom Filipe III de Portugal (1621-1665 Felipe IV de España)

Tècnicamente, o governo estava em Madrid, na pessoa do rei, mas na prática não era bem assim. Nas Cortes de Tomar de 1581 tinha ficado estabelecido que a Coroa de Portugal manteria um governo próprio em Lisboa, sendo o rei nele representado por um vice-rei (ou por um conselho de governadores). Em Lisboa permaneceriam as instituições tradicionais de governação do Estado, a saber: Secretaria de Estado, Secretaria das Mercês e Expediente, Conselho de Estado, Mesa do Desembargo do Paço, Mesa da Consciência e Ordens, Casa da Suplicação, Casa da Índia, Casa dos Contos, &c. Eis uma lista dos chefes de governo em Lisboa nesse período:

Governo em Lisboa (1580-1640):
1580 - conselho de governadores / rei Dom António I, pessoalmente
1581 - rei Dom Filipe I, pessoalmente
1583 - 1.º vice-rei, Dom Alberto de Áustria, cardeal arquiduque
1593 - 1.º conselho de governadores (pres. Dom Miguel de Castro, arcebispo de Lisboa)
1600 - 2.º vice-rei, Dom Cristóvão de Moura, 1.º marquês de Castelo Rodrigo
1603 - 3.º vice-rei, Dom Afonso de Castelo Branco, bispo de Coimbra
1605 - 4.º vice-rei, Dom Pedro de Castilho, bispo de Leiria
1608 - 5.º vice-rei = 2.º vice-rei
1612 - 6.º vice-rei = 4.º vice-rei
1614 - 7.º vice-rei, Dom Frei Aleixo de Meneses, arcebispo de Braga
1615 - 8.º vice-rei, Dom Miguel de Castro, arcebispo de Lisboa
1617 - 9.º vice-rei, Don Diego de Silva y Mendonza, 1.º marquês de Alenquer
(1619 - rei Dom Filipe II, pessoalmente por 3 meses)
1621 - 2.º conselho de governadores (pres. Dom Martinho Afonso Mexia, bispo de Coimbra)
1623 - 3.º conselho de governadores (pres. Dom Diogo de Castro, 2.º conde de Basto)
1626 - 4.º conselho de governadores (pres. Dom Afonso Furtado de Mendonça, arcebispo de Braga)
1631 - 5.º conselho de governadores (sem presidente, apenas dois conselheiros)
1633 - 10.º vice-rei, Dom João Manuel, arcebispo de Lisboa
1633 - 11.º vice-rei, Dom Diogo de Castro, 2.º conde de Basto
1634 - 12.ª vice-rainha, Dona Margarida de Savóia, duquesa consorte de Mântua
1640 - rei Dom João IV, pessoalmente

Fonte: Oliveira Marques (2006, 6.ª ed.) Breve História de Portugal.



Organigrama das instituições do governo de Portugal durante o período filipino. Fonte: Luxán Meléndez, p. 576.

Em Madrid (e Valhadolid 1601-1606), e seguindo a lógica polissinodal da monarquia filipina, o rei governaria Portugal através de um conselho constituído por portugueses, instrumento que deveria servir de ponte entre o rei e o vice-rei (ou os governadores). Este conselho teve regimentos em 1586, 1607 e 1633; foi substituído por uma junta em 1639 e finalmente reestabelecido em 1658 (após a secessão de Portugal e, portanto, sem ter qualquer utilidade), para ser extinto em 1668 com o reconhecimento oficial por parte da monarquia espanhola da separação definitiva de Portugal. Eis a lista dos presidentes do Conselho de Portugal (inicialmente com o título de vèdor da Fazenda): [Nota anedótica: Juan de Borja era filho de São Francisco de Borja e de Leonor de Castro, portuguesa; veio a casar com Francisca Barreto, também portuguesa, e o seu filho Carlos de Borja nasceu em Lisboa. Um exemplo da "política matrimonial hispano-lusa nada sorprendente entre algunas familias de la aristocracia cortesana peninsular de los siglos xvi y xvii, incentivada durante la época de la Unión de Coronas (1580-1640)".]

Conselho de Portugal, junto do rei em Madrid (1583-1668):
substituído por uma Junta de Portugal entre 1639-1658
1583 - vèdor Dom Cristóvão de Moura, 1.º marquês de Castelo Rodrigo
1600 - vèdor Don Juan de Borja, conde de Ficalho iure uxoris
1607 - pres. Dom Carlos de Borja, duque de Villahermosa iure uxoris  
1616 - pres. Dom Frei Aleixo de Meneses, arcebispo de Braga
1617 - pres. Dom Carlos de Borja, duque de Villahermosa iure uxoris 
1647 - (pres.) Dom Jerónimo de Ataíde, "marquês de Colares"
1668 - supressão definitiva do Conselho

Secretários do Conselho (e da Junta) de Portugal em Madrid
1583-1586 Nuno Álvares Pereira
1583-1602 Pedro Álvares Pereira, Estado
    1602-1607 Luís de Figueiredo, fazenda
    1602-1605 Martim Afonso Mexia, Estado
        1605-1606 João Brandão Soares, eclesiástico
    1602-1614 Fernão de Matos, eclesiástico e Estado
        1614-1631 Francisco de LucenaEstado
            1631-1631 Marçal da Costa, Estado
                1631-1643 Diogo SoaresEstado, fazenda e justiça
                1631-1632 Luís Falcão, Índia
    1602-1629 Francisco de Almeida de Vasconcelos, faz. e mercês
            1629-1655 Gabriel Almeida de Vasconcelos, mercês
                    1655-1668 Afonso de Lucena
                        1658-1668 Francisco António de Almeida
                            1666-1668 Crispim Gonçalves Botelho

Fonte: Santiago de Luxán Meléndez (1986, publicada 1988) La revolución de 1640 en Portugal : sus fundamentos sociales y sus caracteres nacionales : el Consejo de Portugal, 1580-1640. Tesis Doctoral, Universidad Complutense de Madrid.


Conselho de Estado, junto do vice-rei em Lisboa (1583-1640)
(não confundir com o Conselho de Estado junto do rei em Madrid)
...


V. também Jean-Frédéric Schaub (2001) Portugal na Monarquia Hispânica (1580-1640), Livros Horizonte.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Le sonnet des voyelles

Rimbaud caricaturado por Luque na revista Les Hommes d'aujourd'hui em janeiro de 1888. Imagem tirada da Wikipedia Voyelles (sonnet)CC BY-SA 3.0

A noir, E blanc, I rouge, U vert, O bleu : voyelles,
Je dirai quelque jour vos naissances latentes :
A, noir corset velu des mouches éclatantes
Qui bombinent autour des puanteurs cruelles,

Golfes d'ombreE, candeur des vapeurs et des tentes,
Lances des glaciers fiers, rois blancs, frissons d'ombelles ;
I, pourpres, sang craché, rire des lèvres belles
Dans la colère ou les ivresses pénitentes ;

U, cycles, vibrements divins des mers virides,
Paix des pâtis semés d'animaux, paix des rides
Que l'alchimie imprime aux grands fronts studieux ;

O, suprême Clairon plein des strideurs étranges,
Silences traversés des Mondes et des Anges
 O l'Oméga, rayon violet de Ses Yeux !

        Arthur Rimbaud, Oeuvres, Paris, Garnier, 1960, p. 110. 

Famoso poema de Rimbaud, que começa com uma sinestesia entre som (as vogais) e côr, e parece oferecer "uma prova de que existe um nexo intrínseco entre os sons e os significados de um poema. O Prof. Étiemble demonstrou a inanidade de tais ilações, pois, já antes de Rimbaud, o dinamarquês Georg Brandes e [o francês] Victor Hugo tinham atribuído cores às vogais e, quando se comparam as equivalências estabelecidas pelos três autores, verifica-se que não apresentam acordo em nenhum ponto. Além disso, o soneto de Rimbaud não revela verdadeiramente um fenómeno [sinestésico] de audição colorida, pois quando pretende produzir uma visão de verde, o poeta acumula objectos verdes: mares víridos, pastagens; quando pretende evocar visões rubras, acumula: púrpuras, sangue escarrado, lábios belos. Como acentua o mencionado crítico, Rimbaud «esquece completamente o primeiro verso do seu poema, que fica no ar, bastante tolamente, e que nada tem a ver com o soneto propriamente dito. O primeiro verso poderia anunciar um exercício de audição colorida. Os restantes treze são o seu desmentido» (217)." 

(217) — Cf. R. Étiemble, Le mythe de Rimbaud. II  Structure du mythe, Paris, Gallimard, 1952. Veja-se também de R. Étiemble, Le sonnet des voyelles. De l'audition colorée, à la vision érotique, Paris, Gallimard, 1968.

In Vítor Manuel de Aguiar e Silva, Teoria da Literatura, 8.ª edição, Coimbra, Almedina, 2007, pp. 667-668.