terça-feira, 18 de abril de 2023

Citações peripandémicas

"Agora a regra era o prazer, um hedonismo atabalhoado, resumido numa frase repetida por Dora quando precisava de explicar a si mesma o sentido da sua nova vida: «Eu agora mando-me de cabeça!» Depois de anos de privações, de sexo regulamentar, da violência constringente do quotidiano, a motivação era aproveitar a vida ― essa vaga aspiração espiritual da modernidade ― que não era mais do que um conjunto de actividades banais e lúdicas, jantar fora, sair à noite..."
― Bruno Vieira Amaral, O mal dos outros, pp. 47-48.

"... I could no longer see myself sitting on a rock with seaweed in my hair, awaiting that phantom ship for which all women love to suppose they hunger..."
― Katherine Mansfield, In a German pension, p. 58.

"O mau não é ter uma ilusão, o mau é iludir-se."
― José Saramago, A Caverna, p. 88, Caminho.

"E arrumara um jeito de achar nas coisas simples e honestas a graça de um pecado."
― Clarice Lispector, A Hora da Estrela, p. 63.

"A sociedade, as leis, os governos, as religiões, os juízes, as morais, tudo que é força social organizada presta mão forte à Estupidez Onipotente."
― Monteiro Lobato, «Os negros», in Negrinha [Contos Completos, Biblioteca Azul, p. 395].

"(...) gente (...) que se ligava a ela por uma espécie de desprezo ávido, porque o rebaixamento da ama [patroa] os compensava das humilhações que lhe sofriam."
― Agustina Bessa-Luís, Os Meninos de Ouro, 1984, p. 14, Guimarães.

"Era agora respeitado como pioneiro pelos seus colegas, por quase todos, e fazia um ar superior, fingindo que não, fingindo que sua superioridade se mostrava, natural e independentemente de sua vontade, e que ele procurava escondê-la."
― Maria Isabel Barreno, O mundo sobre o outro desbotado, p. 65.

"(...) e se ela escapava ao sortilégio, é que a alma dos outros não tem a mesma transparência. À primeira vista, o gosto da razão científica tão arreigado no seu espírito não se coadunava muito com deduções desta natureza. No entanto, pensando melhor, tais juízos partiam de argumentos alicerçados no real: manias, doenças, tiques psicológicos e morais, etc. Não eram construções à toa."
― Carlos de Oliveira, Uma abelha na chuva, p. 170, Sá da Costa.


"Nós, os peninsulares, não empregamos indiferentemente as variedades de diminutivos, que possui em abundância a nossa língua. Entre um mulher a quem chamamos Luisita e outra que nos valeu a mais doce denominação de Luisinha, vai uma diferença considerável (...)."
― Júlio Dinis, "Os Novelos da Tia Filomela" in Serões da Província, p. 125 (vol. 1, ed. Civilização, 1970) ou p. 154 (vol. II das Obras Completas, Lello, s/d).

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