sábado, 30 de janeiro de 2021

Portugueses conhecidos por nome estrangeiro

Vou aqui listar os nomes de vários personagens históricos a que se atribui, por vezes e erradamente, outra nacionalidade. Alguns serão mesmo estrangeiros e devem ser como tal considerados, mas aqui vou assumir que podem igualmente ser vistos como portugueses; um exercício, admito, algo demagógico, mas enfim. Esta malta é quase toda Renascentista, por isso deixo uma adenda a este post: uma lista breve de personalidades do humanismo renascentista português. Ainda que eu me esforce sempre por incluir bibliografia nos meus posts, desta vez não o vou fazer porque ela teria de ser excessivamente exaustiva e é coisa que dá sempre muito trabalho (e isto não é nem pretende ser um trabalho académico!), mas basta procurar pelos nomes das persoas que fàcilmente se chega a uma bibliografia geral.


Vasque de Lucène / Vasco de Lucena 
(diocese de Coimbra, c. 1435 — Louvain, 1512)
Um dos esquecidos! Provàvelmente o maior humanista português do século XV, mas desconhecido em Portugal. Sabe-se dele pràticamente apenas pelas notícias suas na Corte dos Duques da Borgonha, nos Países Baixos, a começar durante a regência da duquesa Isabel, que tinha muitos portugueses no seu entourage, e onde o filósofo fez grande parte da sua carreira.

Diego Colón / Diogo Colombo 
(Porto Santo ou Lisboa, 1479/1480 — Puebla de Montalbán, 1526)
Mais conhecido pelo nome castelhanizado, nasceu e foi inicialmente educado em Portugal pela mãe, Filipa Moniz, mulher de Cristóvão Colombo, antes de ter sido levado pelo pai para Huelva entre 1488 e 1491, data em que consta num documento do mosteiro de La Rábida. Em adulto, esteve sempre tão ocupado a convencer os reis a darem-lhe a herança do pai, que não consta que o preocupasse muito se era espanhol ou português.

Cristóbal (ou Christoval) Acosta / Cristóvão da Costa 
(Tânger?, 1515 — Huelva, 1594)
Naturalista, tradutor dos Colóquios de Garcia de Orta para espanhol, que publicou numa versão muito melhorada e aumentada. Um português de "Além Mar em África" que, após anos de serviço no Oriente ao serviço do rei de Portugal, fez a sua carreira médica na Espanha. Ele próprio se diz africanus ao mesmo tempo que se diz lusitanus.


Retrato de Dom Sebastião, rei de Portugal, atribuído a Alonso Sanches Coelho, c. 1575. Imagem do domínio público retirada da Wikimedia. O quadro pertence ao Kunsthistorisches Museum, Viena.


Alonso Sánchez Coello / Alonso Sanches Coelho 
(Benifairó de les Valls, 1531 — Madrid, 1588)
Nasceu perto de Valência, onde os pais, que eram mercadores portugueses, estavam por puro acaso, e fez toda a sua carreira na corte dos reis da Espanha, mas foi criado e educado em Portugal. Quando voltou à Espanha, aos 24 anos, já era um pintor profissional, o que significa que aprendeu o seu mester em Portugal (e na Flandres, para onde o rei Dom João III o mandou estudar).

Francisco Sánchez / Francisco Sanches
(diocese de Tui, 1551 — Toulouse, 1623)
Alcunhado "o Céptico" por ser um precursor (com Francis Bacon e Michel de Montaigne) da noção de dúvida metódica, depois desenvolvida por René Descartes; terá sido o primeiro a usar a expressão "método científico". Claramente minhoto, baptizado em Braga, tem a infeliz ideia de escrever algures que tinha nascido em território tudense, isto é, na cidade de Tui ou no seu termo. Acontece que o termo desta cidade (ou melhor, desta diocese) abrangia a margem esquerda do rio Minho até à reforma de 1513, o que estaria ainda bem presente nas gentes em 1551. Mesmo que tenha nascido na margem direita do rio, fez toda a sua carreira na França e nada teve a ver com a Espanha; não me incomoda, porém, que os galegos o considerem um dos seus grandes, já que, se Tui é Gallæcia, Braga também o é! 

Baruch de Spinoza / Bento de Espinosa 
(Amsterdão, 1632 — Haia, 1677)
Nunca saiu dos Países Baixos, mas parece que a sua primeira língua era a portuguesa, e foi comprovadamente neste idioma que se processaram as formalidades da sua expulsão da comunidade judaica. Antes de de lá ser expulso, tinha inúmeros contactos em Portugal, até família ainda em Portugal (e nenhuma na Espanha), provàvelmente cripto-judeus ou mesmo já cristãos-novos.


Poderia também incluir Diego Rodríguez de Silva y Velázquez / Diogo Rodrigues Velázquez da Silva, que não só era neto de portugueses, como era pejorativamente tachado de português na Corte, mas admito que incluí-lo seria abusivo quando já o seu pai nasceu em Sevilha e o artista não parece ter tido uma educação sequer aportuguesada (Velázquez é o sobrenome da mãe).


GRANDES HUMANISTAS, ARTISTAS E CIENTISTAS DO RENASCIMENTO PORTUGUÊS
Vasco de Lucena (1435-1512), humanista
Nuno Gonçalves (séc. XV), pintor
Gil Vicente (c. 1465-c. 1536), dramaturgo
Tomé Pires (c. 1465-c. 1540), boticário e diplomata
Vasco Fernandes "Grão Vasco" (c. 1475-c. 1542), pintor
Gregório Lopes (1490-1550), pintor
Dom João de Castro (1500-1548), explorador e governador
Garcia de Orta (1501-1568), botânico
Damião de Góis (1502-1574), humanista
Pedro Nunes (1502-1578), matemático
"Amato Lusitano" (1515-1568), médico
Cristóvão da Costa (1515-1594), botânico
Luís Vaz de Camões (1524-1580), poeta
Alonso Sanches Coelho (1531-1588), pintor
João Baptista Lavanha (1550-1624), engenheiro e matemático
Francisco Sanches (1551-1623), filósofo
Pedro Teixeira (1570-1641), explorador
Filipe de Magalhães (1571-1652), compositor

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