Não é mesmo um conto, nem chega a ser um diálogo...
É um textozeco que me saiu e que eu acho giro.
sem título
— Chá com cebola — e pediu isto com toda a naturalidade. — Mas veja lá se o limão é fresco!
— Queira desculpar — disse o atarantado waiter —, percebi bem? Quer um chá de cebola?
— Percebeu mal — respondeu revirando os olhos —: quero um chá COM cebola.
— Ah, quer um chá... com cebola — tinha o ar de quem percebeu tudo e fez o gesto de apontar no bloco; mas... — Um chá de limão?
— Não, homem! — e voltando-se para mim: — Como é que esta gente é contratada para isto!
Voltou-se para o waiter:
— Um chá verde, chá chá, uma infusão de folhas de Camellia sinensis! Mas com cebola, percebeu agora?
— Â... Um chá verde com cebola...
O homemzinho, coitado, tinha agora o ar mais assustado e atrapalhado que eu já alguma vez vira nestas situações. Fingia anotar no caderno para não ter de a olhar nos olhos, mas a verdade é que não se mexia dali.
— Ouça — recomeçou ela condescendentemente —, faz o chá e traz à parte uma rodela de cebola fresca para eu pôr na chávena antes de deitar o chá.
E o homenzinho finalmente sorriu e anotou mesmo, num gesto que indicava claramente que antes só tinha fingido anotar. E depois mexeu-se.
Quanto voltou com o chá ela ficou danada:
— Então mas e o limão? Eu não lhe disse limão fresco?
O homenzinho estacou, ainda dobrado a colocar as coisas na mesa, a mandíbula balouçou-lhe sem que som algum saísse, os olhos arregalaram-se-lhe em perplexidade.
— Di-diss... Disse-me chá verde, madame!
— Chá verde com cebola, sei muito bem o que pedi! Então e o limão? Então não sabe que o chá verde vem sempre com uma rodela de limão?
E voltando-se outra vez para mim:
— Não sei mesmo como contratam estas pessoas. Really!
Escrito em Coimbra, a 26 de Julho de MMVII
Há 16 horas
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