sábado, 30 de janeiro de 2021

Portugueses conhecidos por nome estrangeiro

Vou aqui listar os nomes de vários personagens históricos a que se atribui, por vezes e erradamente, outra nacionalidade. Alguns serão mesmo estrangeiros e devem ser como tal considerados, mas aqui vou assumir que podem igualmente ser vistos como portugueses; um exercício, admito, algo demagógico, mas enfim. Esta malta é quase toda Renascentista, por isso deixo uma adenda a este post: uma lista breve de personalidades do humanismo renascentista português. Ainda que eu me esforce sempre por incluir bibliografia nos meus posts, desta vez não o vou fazer porque ela teria de ser excessivamente exaustiva e é coisa que dá sempre muito trabalho (e isto não é nem pretende ser um trabalho académico!), mas basta procurar pelos nomes das persoas que fàcilmente se chega a uma bibliografia geral.


Vasque de Lucène / Vasco de Lucena 
(diocese de Coimbra, c. 1435 — Louvain, 1512)
Um dos esquecidos! Provàvelmente o maior humanista português do século XV, mas desconhecido em Portugal. Sabe-se dele pràticamente apenas pelas notícias suas na Corte dos Duques da Borgonha, nos Países Baixos, a começar durante a regência da duquesa Isabel, que tinha muitos portugueses no seu entourage, e onde o filósofo fez grande parte da sua carreira.

Diego Colón / Diogo Colombo 
(Porto Santo ou Lisboa, 1479/1480 — Puebla de Montalbán, 1526)
Mais conhecido pelo nome castelhanizado, nasceu e foi inicialmente educado em Portugal pela mãe, Filipa Moniz, mulher de Cristóvão Colombo, antes de ter sido levado pelo pai para Huelva entre 1488 e 1491, data em que consta num documento do mosteiro de La Rábida. Em adulto, esteve sempre tão ocupado a convencer os reis a darem-lhe a herança do pai, que não consta que o preocupasse muito se era espanhol ou português.

Cristóbal (ou Christoval) Acosta / Cristóvão da Costa 
(Tânger?, 1515 — Huelva, 1594)
Naturalista, tradutor dos Colóquios de Garcia de Orta para espanhol, que publicou numa versão muito melhorada e aumentada. Um português de "Além Mar em África" que, após anos de serviço no Oriente ao serviço do rei de Portugal, fez a sua carreira médica na Espanha. Ele próprio se diz africanus ao mesmo tempo que se diz lusitanus.


Retrato de Dom Sebastião, rei de Portugal, atribuído a Alonso Sanches Coelho, c. 1575. Imagem do domínio público retirada da Wikimedia. O quadro pertence ao Kunsthistorisches Museum, Viena.


Alonso Sánchez Coello / Alonso Sanches Coelho 
(Benifairó de les Valls, 1531 — Madrid, 1588)
Nasceu perto de Valência, onde os pais, que eram mercadores portugueses, estavam por puro acaso, e fez toda a sua carreira na corte dos reis da Espanha, mas foi criado e educado em Portugal. Quando voltou à Espanha, aos 24 anos, já era um pintor profissional, o que significa que aprendeu o seu mester em Portugal (e na Flandres, para onde o rei Dom João III o mandou estudar).

Francisco Sánchez / Francisco Sanches
(diocese de Tui, 1551 — Toulouse, 1623)
Alcunhado "o Céptico" por ser um precursor (com Francis Bacon e Michel de Montaigne) da noção de dúvida metódica, depois desenvolvida por René Descartes; terá sido o primeiro a usar a expressão "método científico". Claramente minhoto, baptizado em Braga, tem a infeliz ideia de escrever algures que tinha nascido em território tudense, isto é, na cidade de Tui ou no seu termo. Acontece que o termo desta cidade (ou melhor, desta diocese) abrangia a margem esquerda do rio Minho até à reforma de 1513, o que estaria ainda bem presente nas gentes em 1551. Mesmo que tenha nascido na margem direita do rio, fez toda a sua carreira na França e nada teve a ver com a Espanha; não me incomoda, porém, que os galegos o considerem um dos seus grandes, já que, se Tui é Gallæcia, Braga também o é! 

Baruch de Spinoza / Bento de Espinosa 
(Amsterdão, 1632 — Haia, 1677)
Nunca saiu dos Países Baixos, mas parece que a sua primeira língua era a portuguesa, e foi comprovadamente neste idioma que se processaram as formalidades da sua expulsão da comunidade judaica. Antes de de lá ser expulso, tinha inúmeros contactos em Portugal, até família ainda em Portugal (e nenhuma na Espanha), provàvelmente cripto-judeus ou mesmo já cristãos-novos.


Poderia também incluir Diego Rodríguez de Silva y Velázquez / Diogo Rodrigues Velázquez da Silva, que não só era neto de portugueses, como era pejorativamente tachado de português na Corte, mas admito que incluí-lo seria abusivo quando já o seu pai nasceu em Sevilha e o artista não parece ter tido uma educação sequer aportuguesada (Velázquez é o sobrenome da mãe).


GRANDES HUMANISTAS, ARTISTAS E CIENTISTAS DO RENASCIMENTO PORTUGUÊS
Vasco de Lucena (1435-1512), humanista
Nuno Gonçalves (séc. XV), pintor
Gil Vicente (c. 1465-c. 1536), dramaturgo
Tomé Pires (c. 1465-c. 1540), boticário e diplomata
Vasco Fernandes "Grão Vasco" (c. 1475-c. 1542), pintor
Gregório Lopes (1490-1550), pintor
Dom João de Castro (1500-1548), explorador e governador
Garcia de Orta (1501-1568), botânico
Damião de Góis (1502-1574), humanista
Pedro Nunes (1502-1578), matemático
"Amato Lusitano" (1515-1568), médico
Cristóvão da Costa (1515-1594), botânico
Luís Vaz de Camões (1524-1580), poeta
Alonso Sanches Coelho (1531-1588), pintor
João Baptista Lavanha (1550-1624), engenheiro e matemático
Francisco Sanches (1551-1623), filósofo
Pedro Teixeira (1570-1641), explorador
Filipe de Magalhães (1571-1652), compositor

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Farmacopeias publicadas em Portugal desde 1695

As farmacopeias são os catálogos dos medicamentos em uso, suas propriedades ("virtudes"), posologia ("doses") e fórmulas, e existem pelo menos desde a Materia Medica de Dioscórides. Em Portugal publicaram-se bastantes no século XVIII, incluindo a primeira com caráter oficial, a Pharmacopeia Geral (1794). Um bom artigo sobre o tema é o de Pita & Bell (2019) Da Pharmacopea Lusitana à Farmacopeia Portuguesa: uma viagem pela história do livro farmacêutico (sécs. XVIII-XXI). In Andrade & Carrington (Coords.), Do Manuscrito ao Livro Impresso I. Imprensa da Universidade de Coimbra & UA Editora - Universidade de Aveiro. https://doi.org/10.14195/978-989-26-1711-4_8
E aqui está um pequeno texto da Ordem dos Farmacêuticos. Ver também Nomenclatura química portuguesa no século XVIII, de António Amorim da Costa e Conceição et al. (2014) As farmacopeias portuguesas e a saúde pública. Acta Farmacêutica Portuguesa, vol. 3, n. 1, pp. 43-58. Para compilar esta lista diverti-me a transcrever os títulos, ou melhor, as primeiras páginas das antigas farmacopeias impressas em Portugal. A variação ortográfica é espantosa!


1695 Polyanthea Medicinal, de João Curvo Semedo (1635-1719)
NOTICIAS GALENICAS, E CHYMICAS, Repartidas em tres Tratados; DEDICADAS AO ILLUSTRISSIMO, E REVERENDISSIMO SENHOR LUIS DE SOUSA, Arcebiſpo de Lisboa, Cappellaõ Mòr de Sua Mageſtade, & ſeu Conſelheyro de Eſtado, por JOAM CURVO SEMMEDO, Medico, Familiar do Santo Officio, & Cavalleyro profeſſo da Ordem de Chriſto. LISBOA, Na Officina de MIGUEL DESLANDES, Impreſſor de Sua Mageſtade. Com todas as licenças neceſſarias, & Privilegio Real. M. DC. XCVII.

1704 Pharmacopea Lusitana, de Dom Caetano de Santo António (m. 1730)
Pharmacopea Lusitana. Methodo Pratico de preparar, & compor os medicamentos na forma Galenica com todas as receitas mais uzuais. Offerecida a Sagrada, e sempre Observante Congregaçaõ dos Conegos Regulares de Sancto Auguſtinho do Reyno de Portugal &c. Por D. Caietano de Santo Antonio, Professo da mesma Ordem, boticario do Real Moſteiro de Santa Cruz de Coimbra. Em Coimbra, Com todas as licenças neceſſarias. Na Impreſſaõ de Joam Antunes, Mercador de livros. Anno de 1704.

1713 Pharmacopea Bateana, de George Bate (tradução de Dom Caetano de Santo António)
Pharmacopea Bateana na qual se contem quasi oytocentos medicamentos tirados dA pratica de Jorge Bateo Protomedico de Carlos Segundo Rey de Inglaterra, eſcrita pela ordem Alphabetica, Traduzida de Latim em Portuguez, e offerecida Ao Reverendissimo Padre D. Joseph de S. Joaõ Prior do Real Moſteyro de Santa Cruz, & Prelado do ſeu izento, adminiſtrador dos Moſteyros de S. Martinho de Crasto, & de S. Maria de Moya, Geral de toda a Congregaçaõ dos Conegos Regulares de S. Agoſtinho no Reyno de Portugal, & Cancellario da Univerſidade de Coimbra, &c. Por D. Caetano de S. Antonio Conego Regular de S. Agoſtinho, da Congregaçaõ de Santa Cruz de Coimbra, Boticario do Real Moſteyro de S. Vicente da Cidade de Lisboa, &c. Lisboa, Na Officina Real Deslandeſiana. Com todas as licenças neceßarias. 1713. E privilegio Real.

Primeira página da Pharmacopea Bateana. Imagem tirada daqui.

1716 Pharmacopea Ulyssiponense, de João Vigier (1662-1723)
Pharmacopea Ulyssiponense, Galenica, e Chymica, que contem os principios, diffiniçoens, e termos geraes de huma, & outra Pharmacia : & hum Lexicon univerſal dos termos Pharmaceuticos, com as preparaçoens Chymicas, & compoſiçoens Galenicas, de que ſe uſa neſte Reyno, & virtudes, & doſis dos medicamentos Chymicos. Hum Tratado da Eleyçam, deſcripçaõ, doſis, & virtudes dos purgantes vegetaes, & das drogas modernas de ambas as Indias & Braſil. Hum Vocabulario Universal, Latino e Portuguez de todas as drogas, animaes, vegetaes, & mineraes, aſſim modernas como antigas. Offerecida ao Senhor Doutor Joam Bernardes de Moraes, Phyſico mor de Sua Mageſtade, Por Joam Vigier, Nacional do Reyno de França, & morador neſta Corte de Lisboa. Lisboa, Na Officina de Pascoal da Sylva, Impreſſor de S. Mageſtade. M. DCCXVI. Com todas as licenças neceſſarias.

1735 Pharmacopea Tubalense, de Manuel Rodrigues Coelho (n. 1687)
Pharmacopea Tubalense Chimico-Galenica, Parte Primeira. Em que se faz nam só huma reflexam physica sobre os principios dos mixtos, expondo depois a diffiniçaõ de ambas as Pharmacopeas, e as opperações em que ſe dividem, com os objectos della inteiramente explicados. Mas tambem se mostra hum dicionario com muitas vozes, e termos de ambas as Pharmàcias, e a explicaçaõ dos mais verſados Synonomos, com que em diverſos idiotiſmos ſe pedem os ſimpleces medicinaes; e finaliza com a indagaçaõ dos tres Reynos Animal, Vegetal, e Mineral, com algumas objecções propoſtas, e decididas à cerca dos medicamentos deſte tam dilatado Imperio. Author Manoel Rodrigues Coelho, Boticario neſta Corte, e natural da Villa de Setubal. Offerecida ao Senhor Dezembargador Joaõ Alvares da Costa, Cavalleiro Professo na Ordem de Christo, da Academia Real da Historia erudictiſſimo Academico, Dezembargador rectiſſimo da Casa da Supplicaçaõ; Sapientiſſimo Expediente dos Aggravos, do Fiſco digniſſimo Juiz, das Nações de Alemanha, e Amburguenſe meretiſſimo Conſervador, do Real Tribunal do Conſelho de Guerra vigilantiſſimo Promotor, e do tombo da repreſalia Juiz Doutiſſimo, por Carlos da Sylva Correia. Lisboa Occidental, Na Officina de Antonio de Sousa da Sylva. M. DCC. XXXV. Com todas as licenças neceſſarias.

1766 Colleccaõ de varias receitas, dos Jesuítas [Manuscrito Opp. NN. 17, Archivum Romanus Societatis Iesu, Roma]
Colleccaõ de varias receitas e segredos particulares das principaes boticas da nossa Companhia de Portugal, da India, de Macao, e do Brazil, compostas, e experimentadas pelos melhores Medicos, e Boticarios mais celebres que tem havido neſſas partes. Aumentada com alguns indices, e noticias muito curiozas, e neceſſarias para a boa direcçaõ, e acerto contra as enfermidades. Em Roma. An. M.DCC.LXVI. com todas as licenças neceſſarias.

1766 Pharmacopea Portuense, de António Rodrigues Portugal (1738-1788)
Pharmacopea Portuense, em a qual ſe achaõ muitas das compoziçoens que eſtaõ mais em uzo, e ſe naõ achaõ nas noſſas Pharmacopeas portuguezas, tiradas das pharmacopeas de Londres, de Edinburgo, de Pariz, de Fuller, da Medulla, e de outros varios authores, que todas vaõ poſtas em ordem alfabetica para o ſeu mais accomodado, e prompto uzo. Que dedica, e conſagra ao Ill.mo, e Ex.mo Senhor Joaõ de Almada, e Mello Do Conſelho de S. M. F. Tenente General dos ſeus Exercitos, Governador das Armas do Partido, e Cidade do Porto, Governador das Juſtiças, Prezidente da Marinha, e da Camara da meſma Cidade. &c. &c. &c. Antonio Rodrigues Portugal Cyrurgiaõ da Cidade do Porto, e della natural. PORTO: Na Offic. de Franciſco Mendes Lima. Anno de M. DCC. LXVI. Com todas as licenças neceſſarias.

1768 Pharmacopea Meadiana, de Richard Mead (tradução de António Rodrigues Portugal)
Pharmacopea Meadiana [...] PORTO: Na Officina de Franciſco Mendes Lima. Anno de M. DCC. LXVIII. Com todas as licenças neceſſarias.

1772 Pharmacopea Dogmatica, do Padre Frei João de Jesus Maria (1716-1795)
Pharmacopea Dogmatica Medico-Chimica, e Theorico-Pratica. Dividida em Duas Partes: Na primeira se tracta das principaes partes e operaçoens [...] Na segunda se daõ as necessarias noticias muito exactas [...] Obra Utilissima, a qualquer Profeſſor de Medicina, e particularmente preciſa aos PharmaceuticosDedicada ao nosso Reverendissimo D. Abbade Geral de S. Bento, E mais Monges deſta Congregaçaõ de Portugal, e Provincia do Braſil. Tomo I. Autor O P. Fr. Joaõ de Jesus Maria, Monge da meſma Congregaçaõ, e Adminiſtrador da Botica do Reformado, e Antiquiſſimo Moſteiro de Santo Thyrſo. PORTO: Na Officina de Antonio Alvares Ribeiro Guimar: Á sua cuſta impreſſa. Anno de MDCCLXXII. Com licença da Real Meza Cenſoria.

Primeira página da Pharmacopea Dogmatica. Imagem tirada daqui.

1785 Farmacopéa Lisbonense, de Manuel Joaquim Henriques de Paiva (1752-1829)
Farmacopéa Lisbonense ou Collecção Dos Simplices, Preparações, e Compoſições mais efficazes, e de maior uſo. Por Manoel Joaquim Henriques de Paiva MEDICO. LISBOA Na Officina de Filippe da Silva e Azevedo. Anno M. DCC. LXXXV. Com licença da Real Meza Cenſoria.

1794 Pharmacopeia Geral 
Pharmacopeia Geral para o Reino, e Dominios de Portugal, publicada por ordem da Rainha Fidelissima D. Maria I. Tomo I. Elementos de Pharmacia. Lisboa, na Regia Officina Typografica. Anno M. DCC. XCIV.

1805 Pharmacopea Chymica, Medica, e Cirurgica, de António José de Sousa Pinto (c. 1777-1853)
Pharmacopea Chymica, Medica, e Cirurgica, em que se expõem os remedios simples, e compostos, suas virtudes, preparação, doses, e molestias, a que são applicaveis. Dedicada ao muito alto e soberano Principe Regente D. João Nosso Senhor por Antonio José de Sousa Pinto Boticario nesta corte. LISBOA Na Impressão Regia Anno M. DCCC. V. Por Ordem de S. A. R.

1809 Pharmacologia, de Francisco Tavares (1750-1812)
Francisci Tavares Reginae. Fidelissimae. MARIAE I. Proto-medici. Cubicularii. Vir. patr. Consiliar. aul. Archiatr. lusit. Christ. milit. Eq. In conimbric. universit. med. d. mat. medic. inst. med. et prax. clin. P. P. O. emerit. Reg. cur. proto-medicat. deput. Censor. reg. Acad. r. sc. olisip. soc. effect. et. Acad. med. pract. barcinon. soc. intim. cet. cet. Pharmacologia novis recognita curis, aucta, emendata, et hodierno saeculo accommodata in usum praelectionum academicarum conimbricensium. Conimbricae : Typis Academicis, 1809.

1819 Pharmacopea Naval e Castrense, de Jacinto da Costa (1770-c. 1850)
Pharmacopea Naval, e Castrense. Offerecida ao Illustrissimo Senhor Fr. Custodio de Campos e Oliveira, Freire Conventual, e Commendador da Ordem de Christo, Cavalleiro da Nobilissima Ordem da Torre e Espada, Membro da Junta Chirurgica e Medica na Corte do Rio de Janeiro, Primeiro Chirurgião da Real Camara de Sua Magestade, com exercicio effectivo, Chirurgião Mór das Armadas e Exercito nos tres Reinos Unidos, Capitão de Mar e Guerra, e Coronel Graduado, etc. etc. etc. Pelo seu delegado Jacinto da Costa, Primeiro Chirurgião do Hospital Militar da Marinha, e approvado em Medicina Prática; Chirurgião do Numero da Armada Real, Examinador do Numero em Chirurgia Civil, e em Chirurgia, e Pharmacia Naval; Chirurgião Mór do Batalhão de Artilheria Nacional de Lisboa Occidental, etc. Tomo II. LISBOA: Na Impressão Regia. 1819. Por Ordem Superior

1833 Pharmacopea das Pharmacopeas, de B. J. O. T. Cabral
Pharmacopea das Pharmacopeas Nacionaes e Estrangeiras, excepto a Geral destes Reinos, citadas nos regimentos dos pharmaceuticos portuguezes de 1831 e de 1833: ou Collecção de todas as formulas e processos dos medicamentos preparados conforme as pharmacopeas Bateana, de Baumé, de Chevallier, de Dublin, d'Edimburgo, Franceza, de Fuller, Hespanhola, Herbipolitana, de Lewis, de Londres, Lusitana, de Palacios, de Parmentier, Suecica, de Swediaur, Tubalense, de Van Mons, de Virey, Wittenbergica; conforme as Pharmacologias Chirurgicas, de Londres, e de Plenck; conforme os Dispensatorios d'Edimburgo, e de Fulda; conforme os Formularios Magistraes de Cadet, e de Magendie; e conforme Boerhaave, Bodard, Buglivio, Darwin, Goulard, Henry (filho) Rego, Thenard, Tissot, e Van-Swieten; e também Das Formulas e Processos dos Medicamentos, cujas Preparações os Regimentos sobreditos não estão em Pharmacopea alguma, nem se achão na Geral destes Reinos; incluidos outros Additamentos importantes, e a designação das Virtudes e Doses dos Medicamentos, autorisada com a citação dos Praticos mais acreditados. Acompanhada d'estampas e taboas muito uteis: Compilada pelo Bacharel B. J. O. T. Cabral. Tomo I. LISBOA: Na Impressão Regia. 1833. Com licença.

1835 Codigo Pharmaceutico Lusitano, de Agostinho Albano da Silveira Pinto (1785-1852)
Codigo Pharmaceutico Lusitano ou Tratado de Pharmaconomia, No qual s'explicão as regras e preceitos com que se escolhem, conservão e prepárão os Medicamentos; e se appresentão as virtudes, usos e dóses das fórmulas pharmaceuticas. Por Agostinho Albano da Silveira Pinto, Doutor em Filosofia, Medico da Real Camera, Director da Real Academia de Marinha e Commercio, e da Regia Eschola Chirurgica do Porto, Socio da Real Academia das Sciencias de Lisboa, etc. etc. etc. Coimbra, Na Imprensa da Universidade. 1835.

1876 Pharmacopêa Portugueza
Pharmacopêa Portugueza. Edição Official. Lisboa. Imprensa Nacional. 1876

1935 Farmacopeia Portuguesa IV (1.ª edição)
Farmacopeia Portuguesa. Edição Oficial. Imprensa Nacional de Lisboa. 1935

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Contistas de Portugal

Sou um grande apreciador do conto, da narrativa curta, dshort story (expressão inglesa que, porém, mais corretamente seria traduzida por novela ou noveleta) e leio bastante do que se tem publicado nessa forma literária na língua portuguesa. Quase todos os grande escritores acabam por escrever um ou outro conto, mas nem sempre um bom romancista ou um bom poeta é também um bom contista. Florbela Espanca, por exemplo, escreveu (e publicou) vários livros de contos, mas a qualidade deles não chega nem de perto à dos poemas da autora. A narrativa curta tem especificidades que requerem um comando exímio da técnica narrativa.

Em Portugal, o "conto literário moderno", como lhe chama Mónica Serpa Cabral, ou "conto de autor" (por oposição ao conto popular, de tradição oral e criação coletiva) é um desenvolvimento do século XIX, e costuma marcar-se o seu início com Herculano. Ao ler o prefácio da Antologia de Salema descobri que, apesar disso, a narrativa curta em língua portuguesa tem antecedentes em Gonçalo Fernandes Trancoso, no século XVI, que publicou um livro com pequenas narrativas de caráter moralizante, muitas baseadas em fábulas ou parábolas pré-existentes, proto-contos fora do gosto literário moderno, mas que tiveram várias edições e que ainda hoje se lêem muito bem. Vale talvez a pena transcrever o que diz Salema sobre o percurso histórico do conto em Portugal: 

"[A] narrativa curta, condensando um episódio, um caso humano ou a perspectivação duma figura e da sua circunstancialidade, teve tradicionalmente grande lugar na literatura portuguesa. Desponta com os relatos lendários, mais ou menos efabulados, que povoam as crónicas medievais, os «livros de linhagens» e as evocações hagiológicas dos frades cistercienses de Alcobaça; ganha forma novelística mais nítida com as narrativas cavaleirescas dos séculos XV e XVI; assume-se definidamente nos Contos e Histórias de Proveito e Exemplo (1575) de Gonçalo Trancoso; prossegue uma trajectória versátil nos séculos XVII e XVIII em narrativas apologéticas como as de Manuel Bernardes e da freira Maria do Céu e nas histórias epigramáticas de vários autores setecentistas. O Romantismo e, logo a seguir, o Realismo e o Naturalismo do século XIX renovaram e enriqueceram numerosamente o género nas temáticas e nos estilos..." (p. 7)

Aqui neste post vou fazer uma listagem dos melhores contistas em Portugal (vou deixar as restantes literaturas lusófonas para depois). Baseio-me tanto em antologias (ver a bibliografia no fim do post), como no meu gosto e experiência pessoal como leitor. Por exemplo, escolho não incluir a escritora Ana de Castro Osório, porque acho que os textos que publicou como contos são de escassa qualidade e pouco interesse. Por outro lado, incluo José Saramago, que não costuma ser primàriamente reconhecido como contista, porque concordo com ele ao considerar que A Viagem do Elefante (uma obra brilhante) tem a estrutura de um conto. Ver também o projeto de investigação Bibliografia do Conto Português (séc. XIX- XX).

1482-1552 Bernardim Ribeiro
1496-1570 João de Barros
1500-1572 Francisco de Morais Cabral
1515-1585 Gonçalo Fernandes Trancoso
1515-1585 Jorge Ferreira de Vasconcelos
1520-1561 Jorge de Montemor
1522-1591 Gaspar Frutuoso
15??-15?? Diogo Fernandes
1540-1595 Fernão Álvares do Oriente
15??-1606 Fernão Rodrigues Lobo Soropita
15??-16?? Baltasar Gonçalves Lobato
1576-1660 Diogo de Paiva de Andrade
1580-1622 Francisco Rodrigues Lobo
159?-165? António Henriques Gomes
1604-1674 Diogo Ferreira Figueiroa
1608-1666 Francisco Manuel de Melo
1644-1710 Padre Manuel Bernardes
1658-1753 Sóror Maria do Céu
Morgado da Silveirinha
Elói de Sá Sotto Maior
Francisco Soares Toscano
Francisco Saraiva de Sousa
Gaspar Pires Rebelo
João Nunes Freire
1695-1753 Alexandre de Gusmão
1722-1804 Padre Teodoro de Almeida

Página do primeiro conto da edição original de 1575 dos Contos de Gonçalo Trancoso.

1799-1854 Almeida Garrett
1810-1877 Alexandre Herculano
1822-1871 Rebelo da Silva
1825-1890 Camilo Castelo Branco
1835-1863 Rodrigo Paganino
1835-1890 Júlio César Machado
1836-1915 Ramalho Ortigão
1837-1903 Francisco Manuel de Melo Breyner, 4.º conde de Ficalho
1839-1871 Júlio Dinis
1842-1895 Manuel Pinheiro Chagas
1842-1906 Pedro Ivo
1843-1924 Teófilo Braga
1844-1868 Álvaro do Carvalhal
1845-1900 Eça de Queirós
1848-1919 Teixeira de Queirós
1951-1923 António Vasco de Melo, 9.º conde de Sabugosa
1854-1917 Abel Botelho
1855-1911 Bernardo Pinheiro Correia de Melo, 1.º conde de Arnoso
1856-1931 Henrique Lopes de Mendonça
1857-1911 Fialho de Almeida
1859-1916 Cláudia de Campos
1860-1941 Manuel Teixeira Gomes
1861-1908 Trindade Coelho
1862-1934 Brito Camacho
1867-1930 Raúl Brandão
1869-1947 Júlio Brandão
1875-1941 Carlos Malheiro Dias 
1876-1962 Júlio Dantas
1878-1930 António Patrício
1885-1963 Aquilino Ribeiro
1887-1925 António Sardinha
1888-1935 Fernando Pessoa
1890-1916 Mário de Sá-Carneiro
1892-1958 Irene Lisboa
1893-1970 Almada Negreiros
1894-1930 Florbela Espanca
1898-1974 Ferreira de Castro
1899-1982 Maria Archer
1899-1985 João de Araújo Correia
1899-1985 José Gomes Ferreira
1901-1969 José Régio
1901-1978 Vitorino Nemésio
1901-1980 José Rodrigues Miguéis
1902-1963 José Loureiro Botas
1902-1970 Tomás de Figueiredo
1903-1980 Domingos Monteiro
1903-1987 João Gaspar Simões
1904-1993 Armindo Rodrigues
1905-1974 Branquinho da Fonseca
1906-1991 Lília da Fonseca
1907-1995 Miguel Torga
1908-1979 Joaquim Paço d'Arcos
1909-1949 Soeiro Pereira Gomes
1910-1968 Castro Soromenho
1910-1995 José de Lemos
1910-1998 Joaquim Pacheco Neves
1910-2001 Rogério de Freitas
1911-1969 Alves Redol
1911-1991 José Marmelo e Silva
1911-1993 Manuel da Fonseca
1912-1985 Faure da Rosa
1915-2000 Luís Forjaz Trigueiros
1916-1993 Mário Dionísio
1916-1996 Vergílio Ferreira
1918-1993 Maria da Graça Freire
1919-1989 Fernando Namora
1919-2004 Sophia de Mello Breyner Andresen
1919-1978 Jorge de Sena
1920-1975 Ruben A.
1920-2008 Luís Cajão
1921-1981 Carlos de Oliveira
1921-1997 Antunes da Silva
1921-1998 Maria Judite de Carvalho
1921-2010 Matilde Rosa Araújo
1921-2016 Mário Braga
1921-2018 Natália Nunes
1922-2003 Maria Ondina Braga
1922-2010 José Saramago
1922-2019 Agustina Bessa-Luís
1923-1980 Mário-Henrique Leiria
1923-1993 Natália Correia
1923-2006 Mário Cesariny
1923-2013 Urbano Tavares Rodrigues
1924-1986 Alexandre O'Neill
1925-1992 Graça Pina de Morais
1925-1998 José Cardoso Pires
1925-2008 Luís Pacheco
1926-2003 Augusto Abelaira
1926-2007 Fernanda Botelho
1927-1996 David Mourão-Ferreira
1927-2015 Luísa Dacosta
1929-2015 Ana Hatherly
1930-2015 Herberto Helder
1930-2016 Vasconcelos Sobral
1930-2019 Maria Alberta Menéres
1931-2008 Maria Gabriela Llansol
1932-2020 E. M. de Melo e Castro
1933-2015 António Rebordão Navarro
1934-2017 Baptista-Bastos
1936-2002 Álvaro Guerra
1936-hoje Manuel Alegre
1936-hoje Mário Zambujal
1937-2015 Vítor Silva Tavares
1937-hoje Maria Teresa Horta
1938-1997 Dórdio Guimarães
1938-2020 Maria Velho da Costa
1939-2016 Maria Isabel Barreno
1939-2018 Altino do Tojal
1939-hoje António Barahona da Fonseca
1940-hoje Teolinda Gersão
1941-2002 José Martins Garcia
1941-hoje António Manuel Pires Cabral
1941-hoje Mário Cláudio
1942-2014 Vasco Graça Moura
1942-hoje António Lobo Antunes
1943-hoje Alice Vieira
1943-hoje Almeida Faria
1944-hoje Mário de Carvalho
1945-hoje José Viale Moutinho
1945-hoje Teresa Veiga
1946-hoje Lídia Jorge
1946-hoje Onésimo Teotónio Almeida
1949-hoje António Mega Ferreira
1949-hoje Hélia Correia
1949-hoje João de Melo
1949-hoje Nuno Júdice
1950-hoje Vergílio Alberto Vieira
1954-hoje Luísa Costa Gomes
1956-hoje Mafalda Ivo Cruz
1958-hoje Ana Teresa Pereira
1962-hoje Francisco José Viegas
1964-hoje Dulce Maria Cardoso
1965-hoje José Riço Direitinho
1968-hoje António Manuel Venda
1970-hoje Gonçalo M. Tavares
1971-hoje Válter Hugo Mãe
1974-hoje Jacinto Lucas Pires
1974-hoje José Luís Peixoto
1975-hoje Cláudia Andrade

Bibliografia:
- Fernando Ribeiro de Mello (1967). Antologia do Conto Fantástico Português. Edições Afrodite. [2.ª edição revista por E. M. de Melo e Castro (1974)]
- Temístocles Linhares (1968) Antologia do Moderno Conto Português. Editora Civilização Brasileira.
- João Palma-Ferreira (1981) Novelistas e contistas portugueses dos séculos XVII e XVIII. Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
- João Palma-Ferreira (1982) Novelistas e contistas portugueses do século XVI. Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
- Álvaro Salema (1984) Antologia do Conto Português Contemporâneo. Instituto de Cultura Portuguesa
- Maria Saraiva de Jesus (2000) Antologia do Conto Realista e Naturalista (Obras Clássicas da Literatura Portuguesa Séc. XIX, #53). Campo das Letras.
- João de Melo (2002) Antologia do Conto Português. Publicações Dom Quixote. 
- Petar Petrov (2002) Antologia do Conto Português Contemporâneo / Антология на съвременния португалски разказ (edição bilingue Português-Búlgaro). Pet Plus. [link]
- Vasco Graça Moura (2003) Os melhores contos e novelas portugueses. Selecções do Reader’s Digest.
- Zacarias Nascimento (2003) Contos Portugueses. Plátano Editora.
- Autores Vários (2006) Contos de Oitocentos: Antologia Inédita de Contos Portugueses do Século XIX. Fronteira do Caos.
- Maria Isabel Rocheta e Serafina Martins (2007) Conto Português - Séculos XIX-XXI. Edições Caixotim.
- Pedro Sena-Lino (2008) Contos Policiais. Porto Editora.