Como é sabido, durante sessenta anos na viragem do século XVI para o XVII, Portugal partilhou o chefe do Estado com a Espanha (e outros territórios extra-peninsulares sob domínio espanhol). Os reis foram três, cada um reinando em Portugal sensìvelmente vinte anos:
1580-1598 Dom Filipe I de Portugal (1556-1598 Felipe II de España)
1598-1621 Dom Filipe II de Portugal (1598-1621 Felipe III de España)
1622-1640 Dom Filipe III de Portugal (1621-1665 Felipe IV de España)
Tècnicamente, o governo estava em Madrid, na pessoa do rei, mas na prática não era bem assim. Nas Cortes de Tomar de 1581 tinha ficado estabelecido que a Coroa de Portugal manteria um governo próprio em Lisboa, sendo o rei nele representado por um vice-rei (ou por um conselho de governadores). Em Lisboa permaneceriam as instituições tradicionais de governação do Estado, a saber: Secretaria de Estado, Secretaria das Mercês e Expediente, Conselho de Estado, Mesa do Desembargo do Paço, Mesa da Consciência e Ordens, Casa da Suplicação, Casa da Índia, Casa dos Contos, &c. Eis uma lista dos chefes de governo em Lisboa nesse período:
1580 - conselho de governadores / rei Dom António I, pessoalmente
1581 - rei Dom Filipe I, pessoalmente
1583 - 1.º vice-rei, Dom Alberto de Áustria, cardeal arquiduque
1593 - 1.º conselho de governadores (pres. Dom Miguel de Castro, arcebispo de Lisboa)
1600 - 2.º vice-rei, Dom Cristóvão de Moura, 1.º marquês de Castelo Rodrigo
1603 - 3.º vice-rei, Dom Afonso de Castelo Branco, bispo de Coimbra
1605 - 4.º vice-rei, Dom Pedro de Castilho, bispo de Leiria
1608 - 5.º vice-rei = 2.º vice-rei
1612 - 6.º vice-rei = 4.º vice-rei
1614 - 7.º vice-rei, Dom Frei Aleixo de Meneses, arcebispo de Braga
1615 - 8.º vice-rei, Dom Miguel de Castro, arcebispo de Lisboa
1617 - 9.º vice-rei, Don Diego de Silva y Mendonza, 1.º marquês de Alenquer
(1619 - rei Dom Filipe II, pessoalmente por 3 meses)
1621 - 2.º conselho de governadores (pres. Dom Martinho Afonso Mexia, bispo de Coimbra)
1623 - 3.º conselho de governadores (pres. Dom Diogo de Castro, 2.º conde de Basto)
1626 - 4.º conselho de governadores (pres. Dom Afonso Furtado de Mendonça, arcebispo de Braga)
1631 - 5.º conselho de governadores (sem presidente, apenas dois conselheiros)
1633 - 10.º vice-rei, Dom João Manuel, arcebispo de Lisboa
1633 - 11.º vice-rei, Dom Diogo de Castro, 2.º conde de Basto
1634 - 12.ª vice-rainha, Dona Margarida de Savóia, duquesa consorte de Mântua
1640 - rei Dom João IV, pessoalmente
Fonte: Oliveira Marques (2006, 6.ª ed.) Breve História de Portugal.
Conselho de Portugal, junto do rei em Madrid (1583-1668):
1583 - 1.º vice-rei, Dom Alberto de Áustria, cardeal arquiduque
1593 - 1.º conselho de governadores (pres. Dom Miguel de Castro, arcebispo de Lisboa)
1600 - 2.º vice-rei, Dom Cristóvão de Moura, 1.º marquês de Castelo Rodrigo
1603 - 3.º vice-rei, Dom Afonso de Castelo Branco, bispo de Coimbra
1605 - 4.º vice-rei, Dom Pedro de Castilho, bispo de Leiria
1608 - 5.º vice-rei = 2.º vice-rei
1612 - 6.º vice-rei = 4.º vice-rei
1614 - 7.º vice-rei, Dom Frei Aleixo de Meneses, arcebispo de Braga
1615 - 8.º vice-rei, Dom Miguel de Castro, arcebispo de Lisboa
1617 - 9.º vice-rei, Don Diego de Silva y Mendonza, 1.º marquês de Alenquer
(1619 - rei Dom Filipe II, pessoalmente por 3 meses)
1621 - 2.º conselho de governadores (pres. Dom Martinho Afonso Mexia, bispo de Coimbra)
1623 - 3.º conselho de governadores (pres. Dom Diogo de Castro, 2.º conde de Basto)
1626 - 4.º conselho de governadores (pres. Dom Afonso Furtado de Mendonça, arcebispo de Braga)
1631 - 5.º conselho de governadores (sem presidente, apenas dois conselheiros)
1633 - 10.º vice-rei, Dom João Manuel, arcebispo de Lisboa
1633 - 11.º vice-rei, Dom Diogo de Castro, 2.º conde de Basto
1634 - 12.ª vice-rainha, Dona Margarida de Savóia, duquesa consorte de Mântua
1640 - rei Dom João IV, pessoalmente
Fonte: Oliveira Marques (2006, 6.ª ed.) Breve História de Portugal.
Organigrama das instituições do governo de Portugal durante o período filipino. Fonte: Luxán Meléndez, p. 576.
Em Madrid (e Valhadolid 1601-1606), e seguindo a lógica polissinodal da monarquia filipina, o rei governaria Portugal através de um conselho constituído por portugueses, instrumento que deveria servir de ponte entre o rei e o vice-rei (ou os governadores). Este conselho teve regimentos em 1586, 1607 e 1633; foi substituído por uma junta em 1639 e finalmente reestabelecido em 1658 (após a secessão de Portugal e, portanto, sem ter qualquer utilidade), para ser extinto em 1668 com o reconhecimento oficial por parte da monarquia espanhola da separação definitiva de Portugal. Eis a lista dos presidentes do Conselho de Portugal (inicialmente com o título de vèdor da Fazenda): [Nota anedótica: Juan de Borja era filho de São Francisco de Borja e de Leonor de Castro, portuguesa; veio a casar com Francisca Barreto, também portuguesa, e o seu filho Carlos de Borja nasceu em Lisboa. Um exemplo da "política matrimonial hispano-lusa nada sorprendente entre algunas familias de la aristocracia cortesana peninsular de los siglos xvi y xvii, incentivada durante la época de la Unión de Coronas (1580-1640)".]
Conselho de Portugal, junto do rei em Madrid (1583-1668):
substituído por uma Junta de Portugal entre 1639-1658
1583 - vèdor Dom Cristóvão de Moura, 1.º marquês de Castelo Rodrigo
1583 - vèdor Dom Cristóvão de Moura, 1.º marquês de Castelo Rodrigo
1600 - vèdor Don Juan de Borja, conde de Ficalho iure uxoris
1607 - pres. Dom Carlos de Borja, duque de Villahermosa iure uxoris
1616 - pres. Dom Frei Aleixo de Meneses, arcebispo de Braga
1617 - pres. Dom Carlos de Borja, duque de Villahermosa iure uxoris
1647 - (pres.) Dom Jerónimo de Ataíde, "marquês de Colares"
1668 - supressão definitiva do Conselho
Secretários do Conselho (e da Junta) de Portugal em Madrid
1583-1586 Nuno Álvares Pereira
1583-1602 Pedro Álvares Pereira, Estado
1602-1607 Luís de Figueiredo, fazenda
1602-1605 Martim Afonso Mexia, Estado
1605-1606 João Brandão Soares, eclesiástico
1602-1614 Fernão de Matos, eclesiástico e Estado
1614-1631 Francisco de Lucena, Estado
1631-1631 Marçal da Costa, Estado
1631-1643 Diogo Soares, Estado, fazenda e justiça
1631-1632 Luís Falcão, Índia
1602-1629 Francisco de Almeida de Vasconcelos, faz. e mercês
1629-1655 Gabriel Almeida de Vasconcelos, mercês
1655-1668 Afonso de Lucena
1658-1668 Francisco António de Almeida
1666-1668 Crispim Gonçalves Botelho
Fonte: Santiago de Luxán Meléndez (1986, publicada 1988) La revolución de 1640 en Portugal : sus fundamentos sociales y sus caracteres nacionales : el Consejo de Portugal, 1580-1640. Tesis Doctoral, Universidad Complutense de Madrid.
Conselho de Estado, junto do vice-rei em Lisboa (1583-1640)
(não confundir com o Conselho de Estado junto do rei em Madrid)
Conselho de Estado, junto do vice-rei em Lisboa (1583-1640)
(não confundir com o Conselho de Estado junto do rei em Madrid)
...
V. também Jean-Frédéric Schaub (2001) Portugal na Monarquia Hispânica (1580-1640), Livros Horizonte.
2 comentários:
tenho de regressar aqui mais vezes a este blog!
é muito inspirador:)
foi o Filipe I (II de Espanha) que organizou a invencível armada em Lisboa para atacar a Inglaterra incorporando os maiores galeões portugueses que ficaram em grande parte destruídos, uma vez que a Inglaterra ganhou as batalhas e venceu a invencível armada
foi logo um mau começo!
Obrigado Portugalredecouvertes!
Sim, foi o rei Dom Filipe I que organizou a armada de 1588 inicialmente em Lisboa, depois na Corunha, de onde partiu de facto para o canal da Mancha. Mas há muitos mitos àcerca desse episódio: dos dez galeões portugueses (que estavam feitos para as grandes viagens no mar alto, e não para manobras no espaço exíguo do estreito de Dover) nada menos do que sete regressaram à península, e das quatro galés portuguesas três regressaram; também os ingleses não ganharam grandes batalhas, a armada foi desbaratada por uma combinação de mau tempo e incompetência dos comandantes; também não foi começo nenhum para o rei, nem mau nem bom, já que esse confronto foi um entre muitos desde que os holandeses começaram a sua guerra da independência em 1568 (a chamada "Guerra dos Oitenta Anos"). Mais: depois da de 1588, o rei Filipe mandou várias outras armadas a Inglaterra, e conseguiu de facto desembarcar tropas na Grã-Bretanha em 1595 e na Irlanda em 1601, episódios que são ainda hoje muitas vezes "esquecidos" pela historiografia anglo-saxónica.
O período filipino português é extremamente rico e é pena que ainda hoje seja visto através do nacionalismo romântico oitocentista, tachado como uma época onde nada aconteceu e que é melhor esquecer, o que não é verdade (a chegada ao Tibete e a exploração da Amazónia são apenas dois exemplos conhecidos). Se calhar ainda vou escrever um post sobre este período...
Cumprimentos,
Miguel
Fontes:
- http://bibliotecavirtualdefensa.es/BVMDefensa/i18n/catalogo_imagenes/grupo.cmd?path=75240
- http://wesulm.bravehost.com/history/sp_armada.htm
- http://wesulm.bravehost.com/history/eng_armada.htm
- várias obras sobre Felipe II, ex. Parker (2014) "Imprudent King: A New Life of Philip II", ou Kamen ou Lynch ou Elliott, ou em português Bouza (2005) "D. Filipe I", sem esquecer Braudel (1976) "The Mediterranean and the Mediterranean World in the Age of Philip II", uma obra essencial mas que já começa a estar um bocado datada.
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