quarta-feira, 22 de julho de 2020

Le sonnet des voyelles

Rimbaud caricaturado por Luque na revista Les Hommes d'aujourd'hui em janeiro de 1888. Imagem tirada da Wikipedia Voyelles (sonnet)CC BY-SA 3.0

A noir, E blanc, I rouge, U vert, O bleu : voyelles,
Je dirai quelque jour vos naissances latentes :
A, noir corset velu des mouches éclatantes
Qui bombinent autour des puanteurs cruelles,

Golfes d'ombreE, candeur des vapeurs et des tentes,
Lances des glaciers fiers, rois blancs, frissons d'ombelles ;
I, pourpres, sang craché, rire des lèvres belles
Dans la colère ou les ivresses pénitentes ;

U, cycles, vibrements divins des mers virides,
Paix des pâtis semés d'animaux, paix des rides
Que l'alchimie imprime aux grands fronts studieux ;

O, suprême Clairon plein des strideurs étranges,
Silences traversés des Mondes et des Anges
 O l'Oméga, rayon violet de Ses Yeux !

        Arthur Rimbaud, Oeuvres, Paris, Garnier, 1960, p. 110. 

Famoso poema de Rimbaud, que começa com uma sinestesia entre som (as vogais) e côr, e parece oferecer "uma prova de que existe um nexo intrínseco entre os sons e os significados de um poema. O Prof. Étiemble demonstrou a inanidade de tais ilações, pois, já antes de Rimbaud, o dinamarquês Georg Brandes e [o francês] Victor Hugo tinham atribuído cores às vogais e, quando se comparam as equivalências estabelecidas pelos três autores, verifica-se que não apresentam acordo em nenhum ponto. Além disso, o soneto de Rimbaud não revela verdadeiramente um fenómeno [sinestésico] de audição colorida, pois quando pretende produzir uma visão de verde, o poeta acumula objectos verdes: mares víridos, pastagens; quando pretende evocar visões rubras, acumula: púrpuras, sangue escarrado, lábios belos. Como acentua o mencionado crítico, Rimbaud «esquece completamente o primeiro verso do seu poema, que fica no ar, bastante tolamente, e que nada tem a ver com o soneto propriamente dito. O primeiro verso poderia anunciar um exercício de audição colorida. Os restantes treze são o seu desmentido» (217)." 

(217) — Cf. R. Étiemble, Le mythe de Rimbaud. II  Structure du mythe, Paris, Gallimard, 1952. Veja-se também de R. Étiemble, Le sonnet des voyelles. De l'audition colorée, à la vision érotique, Paris, Gallimard, 1968.

In Vítor Manuel de Aguiar e Silva, Teoria da Literatura, 8.ª edição, Coimbra, Almedina, 2007, pp. 667-668. 

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