quinta-feira, 23 de abril de 2020

Poemas e frases de Mario Quintana

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Ed. Objetiva - Alfaguara, 2013 (primeira edição, 1973).

O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso.
- Caderno H, p. 77

Datilografia: escrita por batuque.
- Caderno H, p. 80

Sim, todos devem fazer versos. Contanto que não venham mostrar-me.
- Caderno H, p. 98

Poeminha do contra
Todos esses que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!
- Caderno H, p. 105

Se pedissem a minha opinião, eu diria que o ópio do povo é o trabalho.
- Caderno H, p. 105

Deus é impróprio para adultos.
- Caderno H, p. 117

A sucata é o material em férias.
- Caderno H, p. 123

O verdadeiro fruto da árvore do conhecimento é a simplicidade.
- Caderno H, p. 145

Eu venho há muito desconfiando de que a infância é uma invenção do adulto. E o passado uma invenção do presente. Por isso é tão bonito sempre, ainda quando foi uma lástima... A memória tem uma bela caixa de lápis de cor.
- Caderno H, p. 146

O mal dos que estudam as superstições é não acreditarem nelas. Isso os torna tão suspeitos para tratar do assunto como um biologista que não acreditasse em micróbios.
- Caderno H, p. 149

A imaginação é a memória que enlouqueceu.
- Caderno H, p. 151

As reticências são os três primeiros passos do pensamento que continua por conta própria o seu caminho.
- Caderno H, p. 159

Uma das coisas que não consigo absolutamente compreender são os que se convertem a outras religiões. Para que mudar de dúvidas?
Caderno H, p. 168

Esta nossa mania de pronunciar corretamente os nomes estrangeiros... O diabo é que, para acertar por palpite, só não os pronunciamos como está escrito. Em 35, no Rio, um sueco, meu companheiro de pensão, me garantiu que Nobel lá se diz Nobél mesmo e não aqui como nestes Brasis: o Prêmio Nóbel, a Coleção Nóbel. Em contrapartida, os estrangeiros não se dão ao mesmo trabalho connosco. Não, não estou me queixando... Eu até gozava imenso um amigo francês que me chamou imperturbavelmente de “Messiê Quintaná” anos a fio, até que um de nós morreu. Era um excelente homem: deve estar no Paraísô.
Caderno H, p. 193

Maria, nunca mais me escrevas à máquina. Isso dá a impressão de falta de sinceridade. Porque, quanto a mim, não sei pensar à máquina. Só a lápis ou esferográfica.
Caderno H, p. 198

Uma definição apenas define os definidores.
Caderno H, p. 208

Ortografia. Costumava-se distinguir entre creação e criação. Exemplo: a creação de um poema, a criação de galinhas. Era limpo e nítido. Nada de confusões. Mas agora que tudo é um, como diziam os clássicos, ficou irremediavelmente perdido o que escrevi, um dia: “Deus creou o mundo e o diabo criou o mundo.” E agora? Para explicar tudo isso em mais palavras o que seria um verdadeiro crime — imaginem os circunlóquios que eu teria de fazer... Não faço!
Caderno H, p. 215

Clair de lune, chiaro de luna, claro de luna... mas os franceses, os italianos e os espanhóis saberão mesmo o que seja o luar, que nós bebemos de um trago numa palavra só?
Caderno H, p. 238

Dupla delícia: O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.
Caderno H, p. 262

O Profeta diz a todos: “eu vos trago a Verdade”, enquanto o poeta, mais humildemente, limita-se a dizer a cada um: “eu te trago a minha verdade”.
Caderno H, p. 264

O maior desmemoriado que existe é o crente. Ele jamais se cansa de ouvir a mesma história. E sempre esquece os mesmos mandamentos.
Caderno H, p. 282

Quando dês opinião, nunca deixes de escrever a data...
Caderno H, p. 306

O mais feroz  dos animais domésticos é o relógio de parede: conheço um que já devorou três gerações da minha família.
Caderno H, p. 316

A história foi assim como já lhes conto, metade pelo que ouvi dizer, metade pelo que inventei, e a outra metade pelo que sucedeu às deveras. Viram? É uma história tão extraordinária mesmo que até tem três metades... Bem, deixemos de filosofança e vamos ao que importa.
Caderno H, p. 317

O antinarciso: Esse estranho que mora no espelho (e é tão mais velho do que eu) olha-me de um jeito de quem procura adivinhar quem sou.
Caderno H, p. 321

Conviria não esquecer que o adorno veio antes do vestuário.
Caderno H, p. 322

O que prejudica a minha preguiça prejudica o meu trabalho.
Caderno H, p. 329

Qual ioga, qual nada! A melhor ginástica respiratória que existe é a leitura, em voz alta, dos Lusíadas.
Caderno H, p. 330

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