quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Universidades em Portugal

A primeira Universidade criada em Portugal foi, como toda a gente sabe, aquela que veio a ser a Universidade de Coimbra. Que veio a ser porque não o era aquando da sua criação, em 1290. Inclusivè não se chamava "Universidade", era o "Estudo Geral", e foi estabelecido em Lisboa. Acabou por saltitar, com toda a sua parafrenália de livros, instrumentos, mobília, docentes, estudantes, funcionários, etc., etc., entre Lisboa e Coimbra por todo o século XIV, num exercício de mobilidade exemplar para o século XXI, até que durante 160 anos tomou balanço em Lisboa para saltar de vez para Coimbra, em 1537. No início só teve três faculdades: Faculdade de Direito Canónico (Cânones), Faculdade de Direito Civil (Leis) e Faculdade de Medicina; em 1380 a Teologia deixou de ser ensino exclusivo dos Conventos Dominicanos e dos Conventos Franciscanos e passou a haver uma Faculdade de Teologia na Universidade. Estas quatro mantiveram-se até 1772, altura em que foram criadas a Faculdade de Matemática, a Faculdade de Filosofia Natural (Ciências) e, em 1836, a Faculdade de Direito (por fusão das de Direito Canónico e de Direito Civil). Só em 1911, com a grande reforma republicana do Ensino Superior, é que os nomes das Faculdades começam a ser familiares aos ouvidos do século XXI. As Artes (o que corresponderia ao actual Ensino Secundário) eram também ensinadas na Universidade como preparação para a frequência de qualquer uma das três Faculdades ditas Faculdades Maiores em contraposição à "Faculdade" de Artes, a Faculdade Menor; para retirar as Artes da alçada directa da Universidade, El-Rei Dom João III cria o Colégio das Artes, onde se passaram a lecionar.

Estudo Geral:
1290 Lisboa
1308 Coimbra
1338 Lisboa
1354 Coimbra
1377 Lisboa

1537 Universidade de Coimbra

Já a segunda Universidade criada em Portugal pouca gente sabe que foi aquela que veio a ser a Universidade de Évora. Que veio a ser porque não o era aquando da sua criação (estou a repetir-me?). Acontece que o Cardeal Infante (na altura ainda não era Cardeal Rei) Dom Henrique, Arcebispo de Évora, achou por bem criar outra Universidade, no Sul, para complementar a Universidade de Coimbra, no Norte (!?). Pediu autorização ao Papa e ao Rei e mandou a recém criada (1539) Companhia de Jesus estabelecer um Colégio em Évora, o Colégio do Espírito Santo, em 1551. Não contente com isso, ainda antes das obras do edifício estarem acabadas, pede ao Papa que faça do Colégio uma Universidade: a Universidade do Espírito Santo, estabelecida em 1559, em Évora. Não era exactamente uma Universidade pública, uma vez que pertencia aos Jesuítas, e não podia ensinar nem Medicina, nem Direito Civil, nem parte do Direito Canónico (podia ensinar tudo menos o que se ensinava nas Universidades...). Em 1759, o Conde de Oeiras (aka Marquês de Pombal) embirrou com os Jesuítas, expulsou-os de Portugal, nacionalizou tudo o que era deles e extinguiu a Universidade do Espírito Santo. Só muito depois, em 1973, é que se voltou a criar um Instituto Universitário em Évora, o qual veio a dar, em 1979, a Universidade de Évora. (A extinção da Universidade do Espírito Santo também fez com que, de 1759 a 1911, o Império Português só tivesse uma única Universidade, tal como antes, de 1290 a 1559.)

1551 Colégio do Espírito Santo
1559 Universidade do Espírito Santo
1759 (extinção)
1973 Instituto Universitário de Évora
1979 Universidade de Évora

A partir de 1911 a lista de criação de Universidades públicas em Portugal (ou melhor, no Império) é a seguinte:

1911 Universidade de Lisboa
1911 Universidade do Porto
1930 Universidade Técnica de Lisboa
1962 Universidade de Lourenço Marques
1962 Universidade de Luanda
1973 Universidade de Aveiro
1973 Universidade Nova de Lisboa
1973 Universidade do Minho
1976 Universidade dos Açores
1979 Universidade da Beira Interior
1979 Universidade do Algarve
1981 Universidade de Macau
1986 Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
1988 Universidade da Madeira
1988 Universidade Aberta

A esta lista pode-se juntar ainda a Universidade Católica Portuguesa (1971). Falando de Universidades em Portugal também é preciso fazer referência ao Ensino Superior antes de 1290: o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, o Mosteiro de São Vicente de Fora de Lisboa e o Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, foram autênticas Universidades durante a Idade Média, e mesmo já entrado o Renascimento. Mas isso, é uma outra história...

2 comentários:

C. a disse...

Olá :) gostei muito do texto! :D Estou a fazer um trabalho sobre a expansão do ensino elementar e a fundação de universidades na Idade Média e foi, na verdade, um dos documentos mais explícitos que encontrei ! (:

Anónimo disse...

achei muito bem não percebo nada mas sim muito bem