Quem passa na Rua da Sofia, em Coimbra, e se pode dar ao luxo de ignorar os automóveis, as multidões, os gases intoxicantes dos escapes, e levanta a cabeça e olha para as "paredes" da rua, fica certamente intrigado com a profusão de igrejas que aí existe. Igrejas quase do mesmo estilo que se repetem quase regularmente de ambos os lados da rua.
Bom, eu já me dei a esse luxo e, a mim, intrigou-me. E foi por isso que decidi ir pesquisar o porquê (ou melhor ainda, o como) da questão. Eu sabia que Portugal foi, e é, um dos mais católicos países do mundo, que foi (e é?) o país mais clerical da Cristandade, aquele onde os clérigos mais exerceram influência nos mais variados aspectos diários do país; mas, bolas, em plena cidade, com o Mosteiro de Santa Cruz ali ao pé, com tamanha regularidade, não conseguia perceber assim de imediato o que ocasionou tantas igrejas...
Fachadas Nordeste e Sudoeste da Rua da Sofia.
Comecei pelo mapa da cidade que se consegue grátis em qualquer posto de Informações da cidade e procurei o nome das igrejas. Com isso já pude pesquisar na net. Li umas coisas e comecei a notar uma palavra associada às igrejas: colégio. "Igreja e Colégio" de tal, é o que aparecia. Fui aos livros e percebi que havia mais Colégios Universitários (sim, porque Coimbra teve Colégios, mais ou menos como Oxford ou Cambridge, até ao liberalismo) do que os que eu conhecia e que hoje albergam departamentos da Universidade: o Colégio de Jesus (Departamento de Zoologia e Departamento de Ciências da Terra), o Colégio de São Jerónimo (Hospital Velho), o Colégio das Artes (Departamento de Bioquímica e Departamento de Arquitectura) e o Colégio de São Bento (Departamento de Botânica e Departamento de Antropologia).
Colégios na Rua da Sofia.
E aqui estava a explicação para a regularidade de igrejas na Rua da Sofia: eram as igrejas dos Colégios! A maior parte dos Colégios foi criada no século XVI, durante e imediatamente a seguir à Reforma da Universidade durante o reinado d'El-Rei Dom João III. Destinavam-se a clérigos que desejavam estudar na Universidade e pertenciam a ou eram geridos por ordens religiosas (daí se chamarem muitas vezes Colégios Monásticos). Para construir os edifícios dos Colégios abriu-se uma nova rua em Coimbra, a Rua "da Sophia", ou seja, da Sabedoria, exactamente por ser a rua dos Colégios.
O Estudo Geral (Universidade) foi instalado definitivamente em Coimbra no ano de 1537, primeiro ocupando anexos do Mosteiro de Santa Cruz (que era ao tempo uma autêntica universidade rival), icluindo os Colégios Crúzios de São Miguel e de Todos-os-Santos, e depois a Alcáçova Real (comprada finalmente ao rei em 1597), onde hoje ainda se encontra. Os Colégios foram instituídos por Frei Brás de Barros em 1535 (ainda que já tivessem sido sugeridos pelo Infante Dom Pedro, 1º Duque de Coimbra, quase um século antes) para permitir os estudos preparatórios à entrada na Universidade, albergar os estudantes e, vá lá, permitir as aulas da Universidade, que sofria de falta de instalações adequadas. A coisa não correu muito bem, mas as razões para tal dão certamente para uma tese de doutoramento e eu não me vou meter nisso. Posso dizer que os Colégios, como estavam nas mãos da Igreja, foram dissolvidos aquando da extinção das ordens religiosas em 1834 e os edifícios nacionalizados ou vendidos para diferentes fins, ficando a Universidade a funcionar sem eles.
Foto da Alta de Coimbra antes das demolições de 1942.
Eu agora, já não intrigado pelas igrejas mas pelos Colégios, continuando a pesquisa, consegui encontrar os nomes de muitos, de muitos mais do que estava à espera, tando da Baixa como da Alta. E partindo dos nomes tentei encontrar 1) a data de estabelecimento (não exactamente a de construção do edifício), e 2) a localização aproximada do edifício (a Alta de Coimbra foi destruída nos anos 1940 para a construção dos actuais edifícios da Faculdade de Letras, da Biblioteca Geral, da Faculdade de Medicina, do Departamento de Física, do Departamento de Química e do Departamento de Matemática).
Aqui fica o resultado da minha pesquisa, uma cronologia dos Colégios Universitários em Coimbra e umas breves notas sobre eles.
1527 Mosteiro de Santa Cruz (reforma)
1535 Colégio de São Miguel
1535 Colégio de Todos-os-Santos
1537 Universidade de Coimbra (refundação)
1539 Colégio de São Tomás
1540 Colégio de Nossa Senhora do Carmo
1540 Colégio de São Pedro *
1542 Colégio das Onze Mil Virgens ou de Jesus
1543 Colégio de Nossa Senhora da Graça
1545 Colégio de São Bernardo ou do Espírito Santo
1545 Colégio de São Domingos
1548 Real Colégio das Artes
1548 Colégio de São João Evangelista ou dos Lóios
1549 Colégio de São Jerónimo
1550 Colégio de São Paulo Apóstolo
1550 Colégio de São Boaventura ou dos Pimentas **
1552 Colégio da Santíssima Trindade
1552 Colégio Novo, de Santo Agostinho ou da Sapiência
1555 Colégio de São Bento
1566 Colégio de Nossa Senhora da Conceição, de Tomar ou de Cristo
1572 Colégio dos Franciscanos Calçados, dos Terceiros ou dos Borras *
1602 Colégio de Santo António da Pedreira
1603 Colégio de São José dos Marianos
1615 Colégio dos Militares
1616 Colégio de São Boaventura **
1707 Colégio de Santo António da Estrela
1755 Colégio de Santa Rita, dos Agostinhos Descalços ou dos Grilos
1779 Colégio de São Paulo Eremita
Mapa da localização dos Colégios Universitários em Coimbra.
Colégio de São Miguel - Estabelecido em 1535. Pertencente ao Mosteiro de Santa Cruz. Destinava-se a alunos canonistas e teólogos para fidalgos abastados. Deixa de existir em 1566 e no seu edifício e no do Colégio de Todos-os-Santos funcionou até 1821 o Tribunal da Inquisição.
Colégio de Todos-os-Santos - Estabelecido em 1535. Pertencente ao Mosteiro de Santa Cruz. Destinava-se a alunos honrados e pobres. Deixa de existir em 1566 e no seu edifício e no do Colégio de São Miguel funcionou até 1821 o Tribunal da Inquisição.
Colégio de São Tomás - Estabelecido em 1539 perto do rio, transferiu-se para a recentemente aberta Rua da Sofia, por causa das inundações, em 1546. Pertencente à Ordem Dominicana. Com a extinção das ordens religiosas, em 1834, o edifício passou para mãos privadas e sofreu sucessivas remodelações até se tornar o actual Palácio da Justiça, que, obviamente, já nada tem a ver com o edifício original quinhentista.
Colégio de São Tomás antes de ser transformado em Palácio da Justiça (sem data).
Colégio de Nossa Senhora do Carmo - Estabelecido em 1540, construído em 1541 pelo bispo do Porto, Frei Baltasar Limpo, para residência de clérigos que desejavam frequentar a Universidade. Em 1547 foi doado à Ordem dos Carmelitas Calçados. Com a extinção das ordens religiosas, em 1834, o edifício passou para a Venerável Ordem Terceira de São Francisco (1837), que nele tem hoje um Hospital-Asilo.
*
Colégio de São Pedro - Estabelecido em 1540 pelo bispo de Miranda, Dom Rodrigo de Carvalho, para que 12 clérigos pobres mirandeses pudessem estudar. O edifício na Baixa foi construído entre 1543 e 1548. Em 1572, El-Rei Dom Sebastião I concedeu a este Colégio o edifício junto à Alcáçova Real (a Sul do que é hoje a Porta Férrea), passando o Colégio de São Pedro a usufruir de dois edifícios, um na Baixa, outro na Alta. O edifício da Baixa acabou por passar para a Ordem Terceira Regular de São Francisco (frades Franciscanos Calçados ou frades Terceiros, vulgo "Borras"). Na Alta, o Colégio destinava-se a doutores e licenciados para estágio via ensino, ou seja, para quem após completados os estudos pretendia ser lente na Universidade mas ainda não tinha lugar.
Colégio das Onze Mil Virgens ou de Jesus - Estabelecido em 1542 pela Companhia de Jesus (frades Jesuítas). Foi o primeiro Colégio Jesuíta em todo o Mundo e o maior de Coimbra. A sua finalidade era preparar missionários, principalmente para o Oriente. Tinha capacidade para mais de 200 alunos, corpo docente e pessoal auxiliar. Com a expulsão da Companhia em 1759, os bens do Colégio foram anexados à Fazenda da Universidade. A sua igreja passou à categoria de Sé Catedral (Sé Nova) de Coimbra em 1772, e o seu edifício, com a reforma pombalina da Universidade, foi adaptado entre 1773 e 1775 para albergar o Museu de História Natural (Museu Zoológico), que lá se mantém ainda hoje.
Colégio de Jesus numa foto antiga (sem data).
Colégio de Nossa Senhora da Graça - Estabelecido em 1543 por Frei Luís de Montoia para a Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho. A planta do edifício (do arquitecto Diogo de Castilho) foi o protótipo para os futuros colégios monásticos da cidade. Por carta régia, o Colégio é incorporado na Universidade em 1549. Com a extinção das ordens religiosas, em 1834, o edifício passou para a Irmandade do Senhor dos Passos e para o Colégio do Exército. Hoje é um Quartel Militar.
Colégio do Espírito Santo ou de São Bernardo - Estabelecido em 1545. Patrocinado pelo Cardeal Infante Dom Henrique. Pertenceu à Ordem de Cister. No século XIX foi transformado num palacete.
Colégio de São Domingos - Estabelecido em 1545, funcionou apenas até 1566, ainda com o edifício inacabado.
Real Colégio das Artes - Estabelecido em 1548, funcionou inicialmente nas instalações do Colégio de São Miguel e do Colégio de Todos-os-Santos (pertencentes ao Mosteiro de Santa Cruz). Em 1555 é confiado à Companhia de Jesus (frades Jesuítas); em 1566 é transferido para casas junto do Colégio de Jesus (pertencente aos Jesuítas); em 1568 inicia-se a construção do edifício definitivo, que ainda hoje existe. Em 1759 os Jesuítas são expulsos e o edifício do Colégio é incorporado na Universidade. Era um Colégio um pouco diferente dos outros, não só por ter sido criado pelo Estado, mas porque exerceu funções específicas: as Artes corresponderiam ao actual Ensino Secundário e eram ensinadas na Universidade como preparação para a frequência de qualquer uma das três Faculdades ditas Faculdades Maiores em contraposição à "Faculdade" de Artes, a Faculdade Menor; para retirar as Artes da alçada directa da Universidade, El-Rei Dom João III cria o Colégio das Artes. Virtualmente todos os propensos estudantes da Universidade deveriam estudar primeiro neste Colégio antes de se matricular nela. Isto não funcionou bem e o Rei acabou por entregar o Colégio a uma ordem religiosa.
Colégio de São João Evangelista ou dos Lóios - Estabelecido em 1548. Pertencente aos Cónegos Seculares de São João Evangelista (padres Lóios). Em 1597 os Lóios passam para a Alta mas só constroem um edifício entre 1631 e 1638, no Largo da Feira, hoje sensìvelmente o Largo da Sé Nova. Foi extinto em 1834 e no edifício funcionaram o Governo Civil e outras repartições do Estado até ser demolido em 1942.
Colégio dos Lóios (fachada do Governo Civil) antes de 1942.
Colégio de São Jerónimo - Estabelecido em 1549, construído a partir de 1565. Extinto em 1834, em 1836 o edifício passou para a Universidade que, em 1848, o transformou no seu Hospital.
Colégio de São Paulo Apóstolo - Estabelecido em 1550, o edifício só foi inaugurado em 1563, sensìvelmente onde hoje é a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra. Era destinado originalmente a clérigos pobres e posteriormente a doutores e licenciados para estágio via ensino, ou seja, para quem após completados os estudos pretendia ser lente na Universidade mas ainda não tinha lugar. Foi extinto em 1834 e o edifício entregue à Universidade, que em 1912 aí instalou a Faculdade de Letras.
Edifício do Colégio de São Paulo Apóstolo entre 1888 e 1912.
**
Colégio de São Boaventura (na Baixa)
ou dos Pimentas - Estabelecido em 1550. Pertencente aos Franciscanos Conventuais da Província de Portugal ("Venturas"), depois aos Capuchos de Santo António e finalmente aos Franciscanos do Algarve ("Pimentas"). A existência na Alta de outro Colégio diferente também chamado "de São Boaventura" suscita confusão sobre a distinção entre os dois: que descrição pertence a qual, que datas pertencem a qual? Só consegui ficar com a certeza de que o da Baixa era o "dos Pimentas" e que foi criado em 1550, e que foi o da Alta que, no século XIX, foi transformado em Museu Antropológico.
Colégio da Santíssima Trindade - Estabelecido em 1552, construido a partir de 1562 na Couraça de Lisboa. Pertencente à Ordem da Santíssima Trindade da Redenção dos Cativos. Era na sua igreja que o culto religioso da Universidade se realizava quando a Capela da Universidade estava impedida. Extinto em 1834, o edifício foi vendido a particulares. Hoje encontra-se em ruínas para serem restauradas.
Colégio Novo, de Santo Agostinho ou da Sapiência - Estabelecido em 1552 pelo bispo de Coimbra, Dom Afonso Castelo Branco. Pertencente ao Mosteiro de Santa Cruz, que viu vantagem em construir um Colégio na Alta: na altura os Colégios de São Miguel e de Todos-os-Santos já não existiam, existindo apenas o "Colégio" de Santa Cruz. A construção durou de 1593 a 1604. Com a extinção das ordens religiosas, em 1834, o edifício passou para uma instituição na dependência da Santa Casa da Misericórdia de Coimbra. Hoje é propriedade da Misericórdia, e nele funcionam a igreja, o museu e o arquivo desta instituição, e a Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra.
Colégio de São Bento - Estabelecido em 1555 por Frei Diogo de Murça, reitor da Universidade. A construção começou em 1576. Pertencente à Ordem de São Bento (frades Beneditinos). Extinto em 1834, foi entregue à Universidade.
Colégio de Nossa Senhora da Conceição, de Tomar ou de Cristo - Estabelecido em 1566 para a Ordem de Cristo. Inicialmente instalados no Colégio de São Jerónimo, os monges-estudantes decidem instalar-se "nuns cerrados" fora de portas. Extinto em 1834, passa por muitas peripécias até ser demolido para se fazer a Penitenciária de Coimbra.
Colégio da Conceição onde hoje é a Penitenciária; são reconhecíveis no centro da foto o Aqueduto de São Sebastião e as estufas do Jardim Botânico (sem data).
*
Colégio dos Franciscanos Calçados, dos Terceiros ou dos Borras - Estabelecido em 1572 (ver Colégio de São Pedro). Em 1834 foi extinto.
Colégio de Santo António da Pedreira - Estabelecido em 1602 por frades Franciscanos Reformados ou Capulhos ("Pedreiras") Extinto em 1834, o edifício passou para particulares e hoje é a Casa de Infância Dr. Elísio de Moura, na Rua dos Grilos.
Colégio de São José dos Marianos - Estabelecido em 1603. Construído a partir de 1606. Extinto em 1834, no edifício instalaram-se sucessivamente o Hospital dos Lázaros, o Real Colégio Ursulino das Chagas (das Ursulinas, para educação de meninas, não universitário) em 1851, e o Hospital Militar em 1910, que se mantém até hoje.
Colégio dos Militares - Estabelecido em 1615 a Norte do Colégio de São Bento. Destinava-se aos membros fidalgos das Ordens Militares de Santiago de Espada e São Bento de Avis. Foi extinto em 1834 e o edifício passou para a Universidade (que lá instalou o Hospital dos Lázaros em 1853, vindo do Antigo Colégio de São José dos Marianos) e foi demolido nos anos 1940.
**
Colégio de São Boaventura (na Alta) - Estabelecido em 1616 (ver Colégio de São Boaventura na Baixa ou dos Pimentas). Em 1625, os frades Venturas obtiveram licença pontifícia para adquirir o edifício de um antigo colégio e casas vizinhas na Rua Larga. O conjunto foi remodelado como Colégio entre 1665 e 1678. Foi extinto com as ordens religiosas em 1834. Foi nele que se formou o primeiro núcleo do Museu Antropológico da Universidade; foi demolido em 1942.
Colégio de Santo António da Estrela - Estabelecido em 1707 pelo provincial Frei Ambrósio de Santo Agostinho, iniciou-se a construção em 1715. Pertencente aos frades Fanciscanos. Com a extinção das ordens religiosas, em 1834, o edifício passou para mãos privadas, passando por várias remodelações e um incêndio. Hoje só resta a antiga igreja, onde funciona a Junta de Freguesia de Almedina.
Colégio de Santa Rita, dos Agostinhos Descalços ou dos Grilos - Estabelecido em 1755. Pertencente à Ordem dos Eremitas Descalços de Santo Agostinho ("Grilos"). Extinto em 1834, no edifício instalaram-se colégios masculinos.
Colégio de São Paulo Eremita - Estabelecido em 1779 na Rua Larga. Extinto em 1834, o edifício foi sucessivamente sede do Conselho Superior de Instrução Pública, do Instituto de Coimbra, de um Museu de Antiguidades e Arqueologia e da Associação Académica de Coimbra até à sua demolição em 1942.
Colégios na Baixa (Rua da Sofia).
Podem encontrar mais fotos e melhores descrições em http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=503390, um thread d' O Prof. Godin.
Colégios na Alta.
Daqui se pode ver que (à parte os de Santa Cruz) havia três Colégios diferentes dos outros: o das Artes, o de São Paulo Apóstolo e o de São Pedro. O primeiro era como que uma "Escola Secundária" ou "Preparatória à entrada na Universidade"; os outros dois, chamados Colégios "Seculares", eram o que hoje se poderia chamar Colégios "Graduados", para estudantes graduados (bacharéis, licenciados, mestrandos/mestres, doutorandos/doutores) que pretendessem ficar com um lugar na Universidade, assim que tal lugar vagasse. Uma vez que a maior parte dos Colégios (todos os outros além destes) pertenciam a ordens religiosas e se destinavam a monges estudantes principalmente de Teologia, pode dizer-se que o sistema de Colégios de Coimbra funcionava apenas para a Faculdade de Teologia, enquanto que os estudantes das outras Faculdades (claramente em maior número no total da Universidade) tomavam alojamento no meio da população coimbrã (Taveira, 2002).
Colégios visíveis na foto da Alta antes das demolições.
Percebi que foram criados ao todo 19 Colégios no século XVI, 4 no século XVII e 3 no século XVIII. Ainda não percebi se houve mesmo um Colégio de Santa Cruz, pertencente ao Mosteiro de Santa Cruz, se "Colégio de Santa Cruz" é expressão sinónima de Mosteiro de Santa Cruz. De qualquer maneira, fiquei com a certeza que o Mosteiro de Santa Cruz tinha Colégios próprios, o Colégio de São Miguel e o Colégio de Todos-os-Santos (que Frei Brás de Barros fundou em 1535), extintos em 1566, e posteriormente o Colégio Novo; porém, encontrei no texto do Prof. Fernando Taveira (2002) mais dois nomes associados a Santa Cruz, Colégio de Santo Agostinho e Colégio de São João Batista, que se situavam "um à direita e outro à esquerda do Mosteiro" de quem olha de frente para a igreja. Ainda não tenho mais informação àcerca destes hipotéticos Colégios, se são má interpretação do texto, se é um erro do próprio autor, se é uma confusão com outros Colégios de nome ou de localização semelhante, se, portanto, sequer existiram; porém, na GEPB está explícito que à data de implantação da Universidade em Coimbra, o Mosteiro de Santa Cruz teria quatro Colégios, não apresentando qualquer informação sobre os mesmos, nem sequer os seus nomes; uma vez que dois dos quais são claramente São Miguel e Todos-os-Santos, estes outros dois podem muito bem ser os restantes, o que também poderia explicar o porquê do Colégio de Santo Agostinho na Alta ser chamado Colégio Novo (Colégio Novo de Santo Agostinho, talvez). Tentarei encontrar algo mais sobre eles e incluí-los na tabela cronológica.
Encontrei ainda mais dois nomes de Colégios Universitários associados a Coimbra: Colégio de Santa Bárbara e Colégio dos Carmelitas Descalços. O primeiro, apesar de ser pràticamente português, não se situava em território nacional: era um Colégio da Universidade de Paris, arrendado por Diogo de Gouveia em 1520 para alojar estudantes portugueses; dele tentarei falar noutro post. Sobre o segundo não encontro qualquer informação; só coloco três hipóteses: 1) é de facto Colégio Universitário "per se" sobre o qual ainda não consegui encontrar informação fidedigna; 2) é nome alternativo a outro Colégio já descrito; e 3) é colégio não universitário.
Para quem tem interesse na orgânica dos Colégios Universitários actuais aconselho vivamente o site http://collegiateway.org/. O seu autor defende vigorosamente a adopção do sistema de Colégios por qualquer Universidade com ou sem passado colegiado, e eu penso que ele tem razão... mas isso é um outro post!
Como curiosidade,:
Em 1540 havia 537 matriculados na Universidade
Em 1570 havia 693 matriculados na Universidade.
Em 1573 havia 1.000 matriculados na Universidade.
Em 1674 havia 1.100 matriculados na Universdiade.
Em 1684 havia 1.700 matriculados na Universidade.
Em 1720 havia 2.500 matriculados na Universidade.
Em 1765 havia 4.629 matriculados na Universidade e 3.371 nos Colégios.
Em 2006 havia c. 20.000 matriculados na Universidade.
Fontes consultadas:
-Almeida, Á. D. & Belo, D. 2007.
Portugal Património, Vol. III. Lisboa: Círculo de Leitores.
-
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Vols. 7 e 33. Lisboa: Editorial Enciclopédia. s/d.
-
Guia de Portugal, Vol. III. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. 1941 (1984, 2ª ed.).
-http://www.cm-coimbra.pt
-http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=368636
-http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=503390
-http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?p=9567659
-
Lexicoteca, Vol. XVIII. Lisboa: Círculo de Leitores. 1988.
-Mattoso, J. (coord.) 1993.
História de Portugal, Vol. III. Lisboa: Círculo de Leitores.
-Taveira, F. 2002.
Early Modern Coimbra: The Town and the University. http://www.chsc.uc.pt/biblioteca/digital/008.htm
Não consultados:
-"Conteúdo" Comunicação sobre a influência dos colégios da "Alta" e o desenvolvimento da arte em Coimbra e sua região.
-Gonçalves , A. Nogueira. 1982. Os Colégios Universitários de Coimbra e o Desenvolvimento da Arte, in
A Sociedade e a Cultura de Coimbra no Renascimento, Actas do Simpósio Internacional Organizado Pelo Instituto de História da Arte da Universidade de Coimbra. Coimbra: Epartur.
-Revista
Monumentos Nº 25. 2006.
-Santana, P. 2003. Identidade e globalização: uma geografia da memória da Alta de Coimbra.
Cadernos de Geografia Número Especial, pp. 21-35.