"...a viscondessa de Mello gostava de ser sincera e expansiva com os medicos da sua confiança. Instruidos, adquirindo na intimidade da sciencia uma grande largueza de vistas (...) Cleo encontrava nelles pessoas que a entendiam, a quem podia mostrar todos os seus soffrimentos physicos e muitos dos seus estados moraes, deante de quem podia desvendar parte do seu pensamento e satisfazer essa imperiosa necessidade da alma: a confissão, pois que o confessionario da egreja lhe não merecia fé. Ajoelhava lá por cumprir uma simples formalidade; mais nada. Eram-lhe em geral tão antipathicos os padres como sympathicos lhe eram os medicos. Recusava-se-lhe a intelligencia a acreditar na pretenciosa sabedoria e infallibilidade de doutrinas d'aquelles, que só tinha por verdadeiros quando, sobre os degraus do altar, tomam a sagrada hostia, murmurando: Domine non sum dignus, ao passo que depunha uma relativa e dôce confiança na sciencia humana, limitada, embora, e nos que no coração a ella se dedicavam."
― Claudia de Campos, Elle, pp. 78-79, 1.ª edição, 1899.
"O que a filha de Luiza Fratel [Cleo] comprehendeu n'aquelle transe afflictivo, é que as nossas acções, boas ou más, nos seguem pela vida fóra, e que das suas influencias combinadas se fórma uma grande parte do nosso destino."
― Claudia de Campos, Elle, p. 193, 1.ª edição, 1899.
"...a mentira do casamento, onde o homem faz gala mesmo da sua polygamia, a despeito da monogamia legal, e onde tudo figura excepto o sentimento."
― Claudia de Campos, Elle, p. 197, 1.ª edição, 1899.
"Se nos metamorphoseassemos n'este momento em Adão e Eva, e eu lhe confessasse que tinha, por curiosidade, cravado os dentes no travôso fructo do peccado, o que fazia Paulo? (...) Adão era um grande philosopho (...) Em vez de abandonar-se a coleras impotentes, planeando vinganças tardias, adoptou a unico expediente plausivel... comeu tambem!..."
― Claudia de Campos, Rindo..., p. 75.
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