"A primeira lei da história seria não mentir e a segunda não contar tudo o que é verdade."
― máxima ciceroniana, v. Saraiva & Lopes, História da Literatura Portuguesa, p. 278.
"Aquela mulher era o demónio do bem. Embora não endireitasse o mundo, dava ao mundo a convicção da sua lamentável tortuosidade."
― João de Araújo Correia, Contos Bárbaros [A Consciência], p. 103.
"... pedindo-lhe protecção a troco de andar de rastos para o servir. O antigo patrão, menos condoído do pobre do que amigo dos seus interesses, conciliou a piedade e a velhacaria..."
― João de Araújo Correia, Contos Bárbaros [Perdão], p. 131.
"Vede, pelo mesmo, meus senhores, se podemos dizer com verdade que nunca, nunca, nunca pagaremos aos nossos irmãos de Portugal que nos tenham conservado e sobretudo que tenham feito do galego um idioma nacional. Mais afortunado que o provençal, encerrado na sua comarca própria, [o galego] não morrerá. No outro lado do oceano (...) ouvirá-se sempre a língua que falamos, que imos esquecendo e que de novo tenderá à vida que merece, se é que temos consciência dos deberes que por própria vontade nas impusemos. Na Ásia, na África, na mesma Oceania, falará-se ao lado das que conhece o mundo europeu... Deus que nos castigou tanto, deu-nos esta glória."
― Manuel Murguia, La Patria Gallega (1891).
"Na tenda do baratilleiro véndese canto inventóu a industria para matar o arte, canto discurréu o comercio para embazar a fe."
"Na loja do barateiro vende-se quanto inventou a indústria para matar a arte, quanto discorreu o comércio para basear a fé."
― Castelao, Os dous de sempre, c. 8.
"Para Rañolas a terra era de todos, como o sol, a choiva e o vento."
― Castelao, Os dous de sempre, c. 9.
"O xefe de Pedro (...) tense por amante da lei porque lhe gusta ser xuez do veciño."
"O chefe de Pedro (...) tem-se por amante da lei porque gosta de ser juiz do vizinho."
― Castelao, Os dous de sempre, c. 20.
"(...) o filão mais importante do humor português (...) a sátira alheia às especulações do espírito, visando romper os automatismos tendentes a reduzi-lo [o espírito] a uma vida larvar (...). Abortado o humanismo por acção da censura inquisitorial, combatidas todas as inovações do pensamento, (...) todos os reflexos de autonomia intelectual e de desrespeito para com a hierarquia feudal de valores, o humor português (...) passa a desenvolver-se numa atmosfera de terror e desconfiança, exclusivamente empenhado em esconjurar (...) o apostolado sinistro, muito real e terra-a-terra. Só em Oitocentos (...) voltamos a encontrar (...) a ironia. (...) Essa ironia cujos critérios assentam na suspensão do juízo filosófico e destroem pela base a confiança na própria ordem do cosmos, reduzindo-a sistemàticamente ao absurdo. O sarcasmo, a sátira violenta, o atirar pedras ao leitor com entusiasmo e concisão não são com ele [Gervásio Lobato]. O seu modo é a ironia aquiescente, a amável sátira de costumes, que não intranqüiliza o leitor."
― Ernesto Sampaio, no prefácio à edição da editora Vega (1997) de Lisboa em Camisa de Gervásio Lobato, pp. 7 e 8.
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