quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Christian Mayer toca Théodore Dubois

Théodore Dubois (1837–1924), Toccata in G-Dur.

domingo, 15 de janeiro de 2023

As Aulas Públicas, séculos XVI a XIX

Até à extinção das ordens religiosas, em 1834, e à criação das escolas médicas e politécnicas (de Lisboa e do Porto, 2-3 anos depois), não foi só nos mosteiros, nas universidades (de Coimbra e de Évora) ou nos colégios que houve oportunidades para estudar e criar conhecimento académico em Portugal. Por incrível que pareça, aulas públicas ad hoc existiram entre os séculos XVI e XIX por todo o país e pelo império, com um intuito técnico, prático e experimental que estava largamente excluído do ensino livresco, teórico e dogmático das outras instituições. Pelo que pude coligir, houve um mínimo de 17 aulas, mais o Curso Superior de Letras, que vou também contabilizar aqui, apesar de se poder contar entre as escolas e institutos superiores oitocentistas que, em 1911, foram aglutinados em super-estruturas universitárias.

1556-1??? Aula de Medicina e Cirurgia no Hospital de T-os-S, Lisboa
1590-1759 Aula da Esfera, Lisboa
1594-1759 Aula do Risco, Lisboa
1691-1842 Aula de Medicina e Cirurgia no Hospital de Goa, Nova Goa
1699-1795 Aula de Geometria e Fortificação, Luanda
1759-1844 Aula do Comércio, Lisboa
1762-1803 Aula de Náutica, Porto
1768-1787 Aula de Gravura Artística na Imprensa Régia, Lisboa
1779-1803 Aula de Debuxo e Desenho, Porto
1781-1836 Aula Régia de Desenho de Figura e Arquitectura, Lisboa
1789-1836 Aula de Medicina e Anatomia, Luanda
1789-1851 Aula de Anatomia, Lourenço Marques
1789-1??? Aula de Anatomia no Hospital de Chaves; a que se seguirão outras em Elvas e no Porto.
1795-18?? Aula de Aritmética, Geometria e Trigonometria, Luanda
1800-1816 Aula Prática de Desenho de Figura, Rio de Janeiro
1858-1911 Curso Superior de Letras, Lisboa

Mais tarde hei-de escrever um texto mais completo e pesquisado sobre estas aulas públicas, ou então só sobre a aula de Goa e os estudos médicos. Ou talvez uma postagem sobre os hospitais pelo império, outro tópico também muito interessante!

Bibliografia
[ ] http://www.filorbis.pt/educar/histFormProf98.htm
[ ] http://193.137.22.223/pt/patrimonio-educativo/museu-virtual/exposicoes/a-instituicao-do-ensino-tecnico-em-portugal-no-sec-xix/
[ ] https://www.rtp.pt/programa/tv/p31026/e9
[ ] Germano de Sousa (2013) História da Medicina Portuguesa durante a Expansão.
[ ] Rómulo de Carvalho (2001) História do Ensino em Portugal, 3.ª edição.

domingo, 8 de janeiro de 2023

Linguajar jornalístico

― «Detido suspeito de homicídio numa esplanada em Santarém.» ― in O Mirante, 03/10/2022, 10:08.

Um bom exemplo do ambíguo e descuidado linguajar jornalístico que hoje se pratica: afinal, o homicídio foi cometido numa esplanada em Santarém, ou foi o suspeito que foi detido numa esplanada em Santarém? Mais tarde, no mesmo dia, a notícia é actualizada, mas o título fica ainda mais confuso com a eliminação do verbo:

― «Prisão preventiva para suspeito de homicídio numa esplanada em Santarém.» ― in O Mirante, 03/10/2022, 19:33.

Afinal, repito, foi o homicídio que foi cometido numa esplanada em Santarém, ou foi o suspeito que ficou em prisão preventiva numa esplanada em Santarém? Deve ser agradável ficar em prisão preventiva numa esplanada! Ou será que a prisão preventiva é para ser cumprida em Santarém ― a prisão do homem suspeito de ter cometido um homicídio numa esplanada? Ou será que o jornalista queria dizer que, no momento em que foi detido e depois preso preventivamente, o suspeito se encontrava numa esplanada em Santarém? E será evidente que a esplanada é mesmo em Santarém? 

Naturalmente, basta ler o corpo da notícia para que tudo isto fique claro, mas (e assumindo que a ambigüidade não seja propositada) o descuido na redacção do título ― palavras precipitadas para uma frase só para atrair a atenção de quem lê ― indicia amadorismo, senão mesmo um desprezo pelo leitor.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Citações ecléticas

«With Bach's music, you truly feel like you don't need anything else in life.»
― anonymous, read on YouTube, in comments to Bach Cantata 120 by the Netherlands Bach Society.

«Freewill is freewill for a purpose; you are doing something because it means something, not just "it's a random choice".»
― Sir Roger Penrose, on YouTube, The Institute of Art and Ideas, min 16;.

«Costumo considerar o livro [o 1.º livro que publicou, Balada de Amor ao Vento] como um livro adolescente. Agora estou adulta, então escrevo coisas adultas. E quando chegar à velhice vou escrever coisas... de infância!»
― Paulina Chiziane, em entrevista a "A Páginas Tantas" (Macau, 2013).

«E quem nos educa para o machismo são as mulheres (...). Eu questiono o porquê de ser-se mulher e ser-se machista.»
― Paulina Chiziane, em entrevista a "A Páginas Tantas" (Macau, 2013).

«Mozart veio pôr cobro, em muitos aspectos, a esse delírio operático, não por lhe opôr resistência, muito menos por fingir ignorá-lo ou desprezá-lo, mas porque se serviu dos mesmos ingredientes técnicos para produzir óperas de uma tal qualidade que inviabilizavam a concorrência no mercado do êxito dos produtos bàsicamente comerciais que se tinham mantido até aí no top das preferências do público.»
― António Victorino d'Almeida, in Músicas da minha vida, p. 102.

«A minha mãe não era capaz de resolver um problema se não o transformasse prèviamente num drama. Da mesma maneira que um matemático não compreende a realidade até que a apanha numa equação, ela não entendia uma dificuldade doméstica se não a transformasse numa catástrofe.»
― Juan José Millás, in Os objectos chamam-nos, p. 29.

"Nunca se adaptara aos electrodomésticos, tinha-lhes aversão. Eles desembaraçavam-na da sua epopeia, da sua vocação sacrificial (...). ― A mãe gosta de sacrificar-se."
― Agustina Bessa-Luís, Os Meninos de Ouro, 1984, p. 14, Guimarães.


«O património cultural é um conjunto de recursos herdados do passado.»
― Conselho da Europa, in Convenção de Faro, Art.º 2.º (2005).

«Eu hei de morrer de nada, só por acabar de viver.»
― Bartolomeu Sozinho, personagem de Mia Couto, in Venenos de Deus.

«It's fun that some folks think a secret group of rich people control everything, instead of the widely known group of rich people that control everything.»
― Solomon Giorgio, in @solomongiorgio, 11:20 PM - 27 Apr 21 - Twitter for iPhone.

«Durante seis anos tinham se amado muito. Não podiam viver um sem o outro. Os amigos diziam: esses dois, se um morrer, o outro se suicida. Os amigos não sabiam que havia sempre uma ameaça de mal-entendido entre eles. Eles se amavam, mas não se entendiam. Era como se o amor fosse mais forte porque substituía o entendimento, tinha função acumulada.»
― Luís Fernando Veríssimo, in As mentiras que os homens contam, p. 159.

«(...) sempre se diz que a história a escrevem os vencedores, mas também é certo que a inescrevem.»
― Susana Sanches Arins, in Seique, p. 48 ("Como terá sido").

«[Nazi genocide] revealed that Christianity's moral priorities were wrong. It now seemed plain that cruelty, discrimination and murder were evil in a way that fornication, blasphemy and impiety were not.»
― Prof. Alec Ryrie, in a Gresham College lecture, 9th May 2019, about min 40:00 on YouTube.