terça-feira, 3 de maio de 2016

As Academias Científicas e Literárias em Portugal e no Brasil nos Séculos XVII e XVIII

Com excepção das academias reais (com apoios do Estado), que duraram décadas, as academias eram particulares (sem apoios do Estado) e duravam pouco tempo, mesmo quando se muniam de estatutos detalhados e de um programa de investigação ambicioso. A maioria das academias teve uma produção reduzida ou nula, e talvez só a Arcádia Lusitana tenha sido de real influência na literatura. Também noto que várias academias apareceram pela vontade de um único patrono, criando novas academias em reacção a divergências ou ao desinteresse dos próprios membros de academias velhas (ex. o Conde da Ericeira, que criou ou recriou três; Monravá y Roca, que criou uma e tentou criar outra; e as três ou quatro academias médicas portuenses que foram todas obra do mesmo grupo de académicos).

Para referência incluo em itálico as academias militares, que foram também criadas no século XVIII, mas essas funcionaram desde o início como autênticas escolas práticas do exército e da marinha, com objectivos científicos mas práticos, e nunca com os objectivos diletantes ou culturais das academias particulares; todas as academias militares eram reais (com apoio do Estado), enquanto que apenas duas (ou três) das literárias e científicas o eram. Nota: a Academia de Portugal em Roma [ou Academia Portuguesa das Artes em Roma], fundada em 1712 com privilégio real, era também uma escola prática de belas artes e não uma associação diletante (v. post anterior).


Academias Literárias e Científicas Reais e mais importantes:
1720/12/08, Academia Real da Historia Portugueza
1747, Academia Litúrgica Pontifícia em Portugal [aulas só em 1756, de facto só em 1758]
1752, Arcádia Lusitana ou Ulissiponense
1779/12/24, Academia Real das Sciencias de Lisboa
1790, Academia das Bellas-Letras de Lisboa [Nova Arcádia] (de Dom José Luís de Vasconcelos e Sousa, 6.º Conde de Pombeiro jus uxoris, 1.º Marquês de Belas)

Academias Literárias e Científicas Particulares:
1647-1667, Academia dos Generosos [1.ª vez] (de Dom António Álvares da Cunha)
1663-1665, Academia dos Singulares de Lisboa
1664-1???, Academia dos Solitários de Santarém
1673-1683, Academia Instantânea (de Dom Fernando Correia de Lacerda, Bispo do Porto)
1685-1686, Academia dos Generosos [2.ª vez] (de Dom Luís da Cunha)
1693-1693, Academia dos Generosos [3.ª vez] (de Dom Francisco Xavier de Meneses, 4.º Conde da Ericeira)
1696-1704, [Academia das] Conferências Discretas e Eruditas [ou Academia dos Generosos, 4.ª vez] (de Dom Francisco Xavier de Meneses, 4.º Conde da Ericeira)
1701, Academia Militar da Praça de Viana
1707, Academia Militar da Corte
1714-1725, Academia dos Anónimos ou dos Ocultos
1715-1716, Academia do Núncio Monsenhor Firrau
1716-1720, Academia dos Ilustrados
1717-1720, Academia Portuguesa [ou Academia dos Generosos, 5.ª vez] (de Dom Francisco Xavier de Meneses, 4.º Conde da Ericeira), incorporada na Academia Real da História
1720-17??, Academia de Retórica (do Padre José Leite, no Colégio de Santo Antão)
1721-17??, Academia dos Laureados de Santarém
1721-17??, Academia Problemática de Setúbal
1721-17??, Academia Problemática de Guimarães
1724-1725, Academia Brasílica dos Esquecidos (no Brasil)
fl. 1724...?, Academia dos Aplicados
1728-17??, Academia dos Aquilinos de Aveiro
1730-17??, Academia dos Unidos de Torre de Moncorvo
1731-17??, Academia Bracarense
1732, Academia Militar da Praça de Elvas
1732, Academia Militar da Praça de Almeida
1734-17??, Academia dos Renovados
fl. 1735...?, Academia Latina e Portuguesa (de Filipe José da Gama)
1736-173?, Academia dos Felizes (no Brasil)
1739-174?, Academia das Quatro Ciências (do Dr Don Antonio de Monravá y Roca)
fl. 1742...?, Academia dos Escolhidos de Lisboa
1748-1749, Academia Cirúrgica Protótipo-Lusitânica Portuense (Porto)
1749-1752, Academia Medico-Portopolitana [ou Academia dos Escondidos] (Porto)
1752-175?, Academia dos Selectos (no Brasil)
1756-17??, Academia Mariana (de Frei Manuel do Cenáculo)
1759-1760, Academia Brasílica dos Renascidos (no Brasil)
1759-1764, Academia Real Cirúrgica Portuense (Porto)
1772-17??, Academia Científica do Rio de Janeiro (no Brasil)
1777-1798, Academia dos Obsequiosos (de João Dias Talaya Sotomaior)
1779, Academia Real de Marinha
1790, Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho
- Academia dos Insignes
- Academia Literária (Brasil)

Fontes consultadas:
- J. Mendes dos Remédios (1914) História da Literatura Portuguesa. Lisboa: Lumen. [pp. 424ss]
- J. Silvestre Ribeiro (1871-1914) História dos estabelecimentos scientificos em Portugal. 19 tomos. Lisboa: Academia Real das Sciências. [Tomo I, pp. 154ss]
- J. Silvestre Ribeiro (1853) Primeiros traços d'uma resenha de litteratura portugueza. Lisboa: Imprensa Nacional. [pp. 138ss]
- J. Martins e Silva (2002) Anotações sobre a história do ensino da Medicina em Lisboa, desde a criação da Universidade Portuguesa até 1911 – 1ª Parte. Revista da Faculdade de Medicina de Lisboa 7(5): 237-249.
- A. A. Banha de Andrade (1966) Vernei e a cultura do seu tempo. Coimbra: Imprensa de Coimbra [pp. 60ss]
- I. Drummond Braga (2001) As realidades culturais. In Nova História de Portugal (dir. J. Serrão e A. H. Oliveira Marques), vol. VIII Portugal da Paz da Restauração ao Ouro do Brasil (coord. A. Freitas Meneses). Lisboa: Editorial Presença.

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