Apetecia-lhe um chá. Era tarde, era quente, era triste, o dia, mas a ela, não sabia explicar porquê, apetecia-lhe um chá. Pôs a chaleira ao lume, no velho fogão a gás, com a chama pouco azul, queimando mal. Ela tinha uma caixa de chás, uma linda caixa de madeira polida, fechada com trinco, que tinha por dentro pequenos compartimentos onde cabia o chá, em sacos ou em folha. Escolheu oolong. Bebia sempre oolong, mas mantinha outros chás não sabia bem porquê. Um saquinho de oolong basta. Tirou o bule do armário, depositou o saquinho.
A água demorava a ferver... Chamou o saci, que veio num turbilhão de vento e apagou o lume! Ela reacendeu-o e o saci riu, e rodou mais e o lume apagou-se outra vez. She frowned, mas não disse nada. Acendeu outra vez o lume, a água estava quase a ferver. O saci interessou-se por outra coisa: a bela caixa de chás. Abriu o trinco sem barulho, espreitou para dentro e os seus olhinhos travessos brilharam. Ela tirou duas chávenas e dois pires do armário, colocou duas colheres na mesa e o açucareiro vienês.
A água ferveu enfim. O saci parecia desinteressado. Ela, com um pano, pegou na chaleira e despejou a água para o bule — que já tinha o saco de chá. Repôs a chaleira ao lume, cheirou o cheiro do oolong, que já subia no ar. Nisto, quase sem ela se aperceber, o saci, rindo, abre a caixa de chás e vira-a ao contrário por cima do bule fumengante; despeja tantos chás quanto pode para dentro do bule! Ela berra, tenta agarrá-lo, a bela caixa cai no chão. Rindo sempre, o saci escapa-se, rodopia e desaparece noutro turbilhão de vento, fazendo folhas de chá voarem no ar e derrubando o bule de chá, que se parte.
E todo o chão ficou coberto com um morno mar de chá... Ela sentou-se na bancada com os pés a balouçar olhando o mar com olhinhos brilhantes. Apetecia-lhe mesmo um chá!
Escrito em Abrantes, a 26 de Dezembro de MMIX
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