domingo, 31 de março de 2024

Origem das Palavras Divergentes

via POPULAR ― via ERUDITA
(?) açor ― azul (?)
adro ― átrio
alhear ― alienar
aprender ― apreender
areia ― arena
auto ― acto
avesso ― adverso
cabido ― capítulo
cadeira ― cátedra
caldo ― cálido
catar ― captar
chama ― flama
chantar ― plantar
chão ― plano
chave ― clave
cheio ― pleno
ciclo ― círculo
coalhar ― coagular
colheita ― colecta
conceição ― concepção
cuidar ― cogitar
dedo ― dígito
delgado ― delicado
desenho ― desígnio
direito ― directo
dobro ― duplo
escutar ― auscultar
eu ― ego
feito ― facto
fogo ― fócus/foco
frio ― frígido
herdeiro ― hereditário
inteiro ― íntegro
lavrar ― laborar
leal ― legal
leigo ― laico
limpo ― límpido
logro ― lucro
macho ― másculo
madeira ― matéria
mãe ― madre
meio ― médio
mèzinha ― medicina
nédio ― nítido
olho ― óculo
paço ― palácio
pai ― padre
palavra ― parábola
partilha ― partícula
povoação ― população
primeiro ― primário
receitar ― receptar
redondo ― rotundo
rezar ― recitar
rotura ― ruptura
sé ― sede
segre ― século
segredo ― secreto
selo ― sigilo
senhor ― sénior
sobrar ― superar
solteiro ― solitário

sexta-feira, 22 de março de 2024

Citações sobre ciência e história, explicação e ideologia

"We now live in the paradoxical situation that the physicists who are supposed to deal with matter describe an animated universe which is inseparable from consciousness, and the life scientists who are supposed to be dealing with a living world see only a machine."

― Iain McGilchrist, in conversation with John Cleese, 11:28. https://youtu.be/qMTA1qP4yC0?t=687


"Today’s 'Do-it-yourself biologists' are different [from the great thinkers of ancient Greece or the gentlemen scientists of the 18th and 19th centuries], because they are not following mainstream science. In the last half century, as technology grew prohibitively expensive, researchers were forced to turn to central funding sources, and science became increasingly institutionalized. Tinkerers were no longer welcome. The 21st-century DIYbio movement is now challenging that dogma."

― Jef Akst, News Editor of "The Scientist" magazine, March 2013, p. 12 (Editorial) 


"As luzes das cidades não só impedem cagarras, toutinegras e tartarugas de encontrarem o seu caminho, mas também nos impedem a nós, humanos, de desfrutar do céu noturno. Em 1994, quando um terramoto cortou a eletricidade em Los Angeles, muitos habitantes da cidade contactaram os centros de emergência, preocupados com uma «nuvem prateada gigante» no céu noturno. Era a Via Láctea, que há anos estava encoberta pelo brilho urbano."

― «Quando a noite se torna dia», in Pardela: Revista da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, N.º 65 Outono/Inverno 2022, pp. 19-20.


"Laplace, que vivia numa época em que se acreditava num universo determinístico, imaginou que se alguém conhecesse todas as causas determinaria os efeitos, conheceria o futuro. O intento que ele imaginou ficou conhecido como demónio de Laplace. A sobriedade da razão dar-lhe-ia uma visão da perspectiva da eternidade, mas hoje a ciência tende a crer num universo incerto, probabilístico, em que a aleatoriedade tem um papel fundamental. O andar do bêbedo faz parte do próprio tecido do Universo."

― Afonso Cruz (2019) O macaco bêbedo foi à ópera. Da embriaguez à civilização. FFMS, p. 57.


"Professional mathematicians, for their part, tend to keep calculation at arm’s length. (...) Entire branches of mathematics are removed from calculation, and even where calculations surface, the creative elements of mathematical intelligence reside in dreaming up such methods in the first place, understanding their inner workings and applying them in novel settings. The specific act of calculation is secondary and offers little joy or illumination."

― Junaid Mubeen (2022), Mathematical Intelligence: A Story of Huma Superiority over Machines, p. 13.


"[Francis] Bacon contesta os filósofos gregos, em especial Aristóteles, desconhecendo que cem anos antes D. João de Castro e até mesmo os seus navegadores tinham identificado os perigos do raciocínio dedutivo, assim como a sua inutilidade para a compreensão dos novos mares, territórios e astros que iam encontrando no caminho para o Atlântico Sul." (p. 173)

"(...) «arte» aqui, como então, tem o sentido grego de techné, ou technéi, de onde derivam técnica e tecnologia (...) Um curto parêntese sobre conhecimento e tecnologia: os anglo-americanos usam uma distinção útil entre «saber» (to know that) e «saber como» (to know how). O primeiro tipo de conhecimento resulta da penetração nos segredos da natura. O segundo traduz a aplicação desses conhecimentos a práticas; aliás, não só os aplicam como os desviam do seu lugar natural. Por outras palavras, a techné é uma alteração da natureza para fins utilitários." (pp. 241-242)

"(...) Os estudos pós-coloniais insistem na acentuação da verdade de lana caprina das intenções imperiais do processo dos Descobrimentos, como se se tratasse de uma descoberta do nosso tempo, que apenas Marx, Foucault e os demais gurus dos estudos culturais e pós-coloniais nos tivessem permitido detectar. Na verdade, o que vimos presenciando na produção «científica» proveniente desse campo é, acima de tudo, uma denúncia fortemente condenatória de um processo que nunca procurou esconder as suas motivações de fundo, pelo simples facto de, na época da sua ocorrência, nunca antes ter sido posta em causa a sua legitimidade. Hoje, tocados que estamos todos pela generalização de um dos valores contidos já na ideia de modernidade, o da igualdade ― que o século XX arvorou como sua grande conquista, primeiro concentrando-se no estatuto das mulheres e depois alargando-o a todos os outros segmentos da população até então inferiorizados pela hegemonia branca de raiz europeia, ― esse valor está presente em tudo, inclusivè num campo como a história, por vezes catapultando moralizações completamente anacrónicas, a despeito de todos os efeitos benéficos gerados por uma reiterada tomada de consciência da sua relevância. Quer dizer, pois, que a novidade trazida por muitos estudos de história pós-colonial consiste fundamentalmente no juízo ético sobre acontecimentos, sem contribuir de modo significativo para o entendimento dos mesmos." (p. 244)

― Onésimo Teotónio Almeida (2018) O Século dos Prodígios. A Ciência no Portugal da Expansão. Quetzal.