Não trajais borzeguis pretos,
que na corte são defesos,
ora com borzeguis pretos!
Não trajais o qu'é defeso,
porque quem trai o vedado,
anda sempre aventurado,
a ser avexado e preso.
Creio-vos andar aceso,
ora em cuidados secretos,
ora com borzeguis pretos!
E se saber a razão
deste meu trajo quereis:
a cor que trajo nos pés
me deu do coração.
porque os meus cuidados,
acesos e mais secretos,
era má ventura pretos!
Vilancico de anónimo português do século XVI