"Waltz in the Sun," by Jane Jones
Era uma vez um Pas-de-deux que queria ser uma Valsa. Mas, coitado, não conseguia, faltava-lhe um tempo, só tinha dois. E a Valsa, com os seus três tempos, estava acima das suas possibilidades.
Um dia, o Pas-de-deux saiu à rua. Tinha andado a poupar: ia comprar um tempo. Finalmente ia ter três tempos como uma Valsa! Apenas o curto percurso até à loja, para o qual os seus dois tempos bastavam, o separavam de ser uma Valsa. Mas nesse curto percurso encontrou uma bela Bossa Nova, daquelas que fazem os corações palpitar mais forte. Que linda que era! E como sincopava, rebolando.
O Pas-de-deux esqueceu-se do tempo que lhe faltava, esqueceu-se dos seus dois tempos. Foi atrás dela. Era difícil acompanhar o dançar sincopado da Bossa Nova, com aquele quarto tempo maroto que desliza mais além e faz deslizar outras vontades... Tentou acompanhá-la, tentou mesmo. Mas não conseguia e ela afastava-se cada vez mais.
Esteva quase a desistir. Ela parecia indiferente, concentrada nas suas síncopas. Mas então — e naquele instante o Pas-de-deux sentiu-se flutuar no ar! — a bela Bossa Nova virou a cabeça, olhou para ele, sorriu-lhe... e sincopou até ele. O Pas-de-deux estava parado, bloqueado. Sentia-se como num sonho, vendo-a chegar.
E chegando a ele, a Bossa Nova agarrou-o pela cintura e... começou a valsar. Um, dois, três; um, dois, três. Devagar, primeiro, depois mais rápido. Um, dois, três; um, dois, três. E sem perceber como, o Pas-de-deux conseguiu, com o sincopado da Bossa Nova, o seu terceiro tempo. Nunca teria sido preciso ir comprá-lo, sozinho nunca seria capaz de se tornar uma Valsa. Só uma parceira lhe podia dar o tempo que lhe faltava.
E os dois, agora fundidos numa eterna Valsa, dançaram até ao pôr-do-sol.
FIM
Escrito em York, a 17 de Junho de MMX.