domingo, 26 de abril de 2020

Colégios Universitários em Coimbra

Mais um post no seguimento de todos os outros sobre colégios neste mesmo blog, principalmente: Colégios Universitários em Coimbra (tradução inglesa em The Lost Colleges of the University of Coimbra); Colégios Universitários em Coimbra (mais uma actualização...)Colégios Universitários em Lisboa, Colégios Universitários em ÉvoraUniversidades em Portugal. Ver também o post A Alta de Coimbra Reconstituída.

Preâmbulo
Esta post estava há muitos anos dormente nos bastidores da Gaveta com Saber, em rascunho para publicar em grande. Era para ser uma versão muito melhorada de um post anterior, no caminho para uma versão reduzida de um texto que eu gostaria, um dia, de aumentar e tentar publicar em livro. Todas as fontes em que eu me tenho apoiado para os posts sobre colégios neste blog são secundárias, já que nunca tive possibilidade (nem tempo) para aceder a quaisquer fontes primárias. Mas chegou o tempo de admitir que eu nunca hei de ter tempo para consultar as fontes primárias e para aprofundar e validar certos aspectos ainda bastante nebulosos na minha cabeça, mesmo para redigir um livro sem apoio institucional. Portanto, vou deixar aqui apenas o esquema dos capítulos desse livro, sem texto, para que possa servir de base de trabalho a alguém que se queira lançar a escrever um livro sobre os colégios universitários em Portugal do ponto de vista orgânico, institucional (e não do ponto de vista apenas patrimonial). Alguém tem de o fazer!

I. INTRODUÇÃO
Afinal o que é um colégio?
Os mosteiros e as primeiras universidades.
Os primeiros colégios universitários em Lisboa.

II. OS COLÉGIOS DO MOSTEIRO DE SANTA CRUZ
1535-1547 Colégio de São Miguel (1566 para a Inquisição)
1535-1547 Colégio de Todos-os-Santos (1566 para a Inquisição)
1537-1544 Colégio de São João Baptista (aulas mudadas p Univ)
1537-1544 Colégio de Santo Agostinho (aulas mudadas p Univ)
Menção à transferência da Universidade.

III. OS PRIMEIROS COLÉGIOS UNIVERSITÁRIOS EM COIMBRA
1539-1834   Colégio de São Tomás de Aquino
1540-1834   Colégio de Nossa Senhora do Carmo
1542-1759   Colégio das Onze Mil Virgens ou de Jesus
1543-1834   Colégio de Nossa Senhora da Graça
1543-1834   Colégio de São Jerónimo
1545-1834   Colégio de São Bernardo ou do Espírito Santo
1545-1566   Colégio de São Domingos de Gusmão

Note to Self: Começar cada secção com a lista dos colégios (eventualmente precedida de umas breves 3 linhas introdutórias) e só depois escrever o texto de cada um.

IV. O COLÉGIO DAS ARTES E O HUMANISMO EM PORTUGAL
1540-1834   Colégio (Maior) Pontifício e Real de São Pedro
1548-1759   Colégio (Menor) Real das Artes (1555 com o de Jesus)
1550-1834   Colégio (Maior) Real de São Paulo Apóstolo
Menção aos colégios jesuítas pelo Império, incluindo a Univ Évora.

V. A SEGUNDA VAGA DE COLÉGIOS UNIVERSITÁRIOS EM COIMBRA
1548-1834   Colégio de São João Evangelista dos Lóios
1550-1834   Colégio de São Boaventura dos Pimentas (na Baixa)
1552-1834   Colégio Novo de Santo Agostinho ou da Sapiência
1552-1834   Colégio da Santíssima Trindade
1555-1834   Colégio de São Bento de Núrsia
1566-1834   Colégio de Nossa Senhora da Conceição da Ordem Militar de Cristo de Tomar
1572-1834   Colégio de São Pedro da Venerável Ordem Terceira da Penitência de São Francisco de Assis (ou dos Terceiros, ou dos Borras)

VI. OS COLÉGIOS FILIPINOS E SETECENTISTAS EM COIMBRA
1602-1834   Colégio de Santo António da Pedreira
1603-1834   Colégio de São José dos Marianos
1615-1834   Colégio das Ordens Militares de Santiago de Espada e de São Bento de Avis
1616-1834   Colégio de São Boaventura (na Alta)
1707-1834   Colégio de Santo António da Estrela
1755-1834   Colégio de Santa Rita dos Grilos
1779-1834   Colégio de São Paulo o Primeiro Eremita

VII. CONCLUSÃO
A dissolução dos colégios em 1834 e a venda do espólio dos colégios.
Subsequente destino dos espólios e dos edifícios dos colégios.
Menção à elevação a Património da UNESCO.
Novos colégios universitários em Lisboa.
Novos colégios em Coimbra no futuro?


Referências:
[  ] António Ribeiro de Vasconcelos, Os Colégios Universitários de Coimbra, Coimbra: Coimbra Editora, 1938.
[  ] Joaquim de Carvalho, Instituições de Cultura (séculos XIV-XVI)Projecto joaquimdecarvalho.org vida e obra, p. 3.
[  ] Teresa Maria Rodrigues da Fonseca Rosa, História da Universidade Teológica de Évora (Séculos XVI a XVIII), Lisboa: Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, 2013, ISBN 978-989-98314-0-7.
[  ] Rui Lobo, As quatro sedes do estudo Geral de Lisboa (1290-1537), in António Nóvoa (dir.) e Hermenegildo Fernandes (coord.), A Universidade Medieval em Lisboa Séculos XIII-XVI, Lisboa: Universidade de Lisboa e Edições Tinta-da-china, 2013, pp. 267-304 (principalmente da secção "Os colégios", pp. 298-304).
[  ] José Mattoso, O suporte social da universidade de Lisboa-Coimbra (1290-1537), in José Mattoso, Naquele Tempo - Ensaios de História Medieval, Lisboa: Temas e Debates e Círculo de Leitores, 2009, pp. 383-407. Este ensaio foi anteriormente publicado em História da Universidade em Portugal, vol. I, tomo I, Coimbra: Universidade de Coimbra e Fundação Calouste Gulbenkian, 1997, pp. 305-335; e parcialmente em Penélope. Fazer e desfazer a História, 13 (1994) pp. 23-35.
[  ] José Mattoso, A Universidade Portuguesa e as Universidades Europeias, in José Mattoso, Naquele Tempo - Ensaios de História Medieval, Lisboa: Temas e Debates e Círculo de Leitores, 2009, pp.193-212. Este ensaio foi anteriormente publicado em História da Universidade em Portugal, vol. I, tomo I, Coimbra: Universidade de Coimbra e Fundação Calouste Gulbenkian, 1997, pp. 5-29.

sábado, 25 de abril de 2020

Livros de Filosofia da Ciência

Ernst Mayr escreveu, num ensaio de 1965 publicado em 1969, que todos os livros que ele tinha na estante com o título de Filosofia da Ciência eram, no fundo, de Filosofia da Física. Queria ele dizer que os autores de obras desse tipo escreviam não apenas do ponto de vista dessa ciência, mas assumindo que tudo o que se pode aplicar à Física também se pode aplicar às outras ciências, esquecendo as suas especificidades (particularmente no que toca à Biologia). Felizmente isso já não é tanto assim, ainda que continue a existir um claro viés para a Física como arquétipo das ciências (também porque muitos dos autores de livros de filosofia da ciência são físicos de formação; por alguma razão que me escapa, os outros cientistas não se interessam por escrever livros assim, lamentàvelmente).


Ordem Cronológica Inversa
• Okasha (2015) Philosophy of Science: A Very Short Introduction, 2nd Ed. [1st Ed. 2002]. Oxford, Oxford University Press.
 Lecourt, dir. (2006) Dictionnaire d’histoire et philosophie des sciences. 4e édition augmentée [1999, 1e édition].
 Laugier & Wagner (2004) Philosophie des sciences, 2 vols.
 Andler, Fagot-Largeault & Saint-Sernin (2002) Philosophie des sciences, 2 vols.
 Wagner, dir. (2002) Les philosophes et la science.
• Lecourt (2001) La philosophie des sciences. Colection « Que sais-je ? » N.º 3624. Paris, PUF.
 Châtelet (1993) Les enjeux du mobile : mathématique, physique, philosophie.
 Gonseth (posth. 1990) Le problème de la connaissance en philosophie ouverte.
• Harré (1986) The philosophies of science, 2nd ed. [1972, 1st ed.]. Oxford, Oxford University Press.
 Goodman (1985) Faits, fictions et prédictions.
 Manifeste du Cercle de Vienne et autres écrits, sous la direction de A. Soulez, Paris, PUF, 1985.
 Hacking (1983) Concevoir et expérimenter.
 Feyerabend (1975) Against Method: Outline of an Anarchist Theory of Knowledge.
 Hempel (1972) Éléments d’épistémologie.
• Harré (1970) The principles of scientific thinking. London, Macmillan.
 Canguilhem (1966) Le normal et le pathologique.
 Dagognet (1964) La raison et les remèdes.
 Koyré, Études newtoniennes (1964), Paris, Gallimard, 1968.
 Hanson (1963) The Concept of Positron.
 Kuhn (1962) The Structure of Scientific Revolutions.
• Toulmin (1961) Foresight and Understanding.
 Popper (1959) Logique de la découverte scientifique (versão aumentada da 1.ª edição em 1934).
 Hanson (1958) Patterns of Discovery.
• Toulmin (1953) The Philosophy of Science.
 Wittgenstein (posth. 1953) Philosophische Untersuchungen.
 Bachelard (1951) L’activité rationaliste de la physique contemporaine.
 Bachelard (1934) Le nouvel esprit scientifique.
 Wittgenstein (1921) Tractatus logico-philosophicus.
 Russell (1912) Problèmes de philosophie.
 Duhem (1906) La théorie physique, son objet, sa structure.
 Mach (1883) La mécanique, exposé historique et critique de son développement.

 Comte (1830-1842) Cours de philosophie positive, 2 vols.

Ordem Alfabética
 Andler, Fagot-Largeault & Saint-Sernin (2002) Philosophie des sciences, 2 vols.
 Bachelard (1934) Le nouvel esprit scientifique.
 Bachelard (1951) L’activité rationaliste de la physique contemporaine.
 Canguilhem (1966) Le normal et le pathologique.
 Châtelet (1993) Les enjeux du mobile : mathématique, physique, philosophie.
 Comte (1830-1842) Cours de philosophie positive, 2 vols.
 Dagognet (1964) La raison et les remèdes.
 Duhem (1906) La théorie physique, son objet, sa structure.
 Feyerabend (1975) Against Method: Outline of an Anarchist Theory of Knowledge.
 Gonseth (posth. 1990) Le problème de la connaissance en philosophie ouverte.
 Goodman (1985) Faits, fictions et prédictions.
 Hacking (1983) Concevoir et expérimenter.
 Hanson (1958) Patterns of Discovery.
 Hanson (1963) The Concept of Positron.
• Harré (1970) The principles of scientific thinking. London, Macmillan.
• Harré (1986) The philosophies of science, 2nd ed. [1972, 1st ed.]. Oxford, Oxford University Press.
 Hempel (1972) Éléments d’épistémologie.
 Koyré, Études newtoniennes (1964), Paris, Gallimard, 1968.
 Kuhn (1962) The Structure of Scientific Revolutions.
 Laugier & Wagner (2004) Philosophie des sciences, 2 vols.
• Lecourt (2001) La philosophie des sciences. Colection « Que sais-je ? » N.º 3624. Paris, PUF.
 Lecourt, dir. (2006) Dictionnaire d’histoire et philosophie des sciences. 4e édition augmentée [1e édition].
 Mach (1883) La mécanique, exposé historique et critique de son développement.
 Manifeste du Cercle de Vienne et autres écrits, sous la direction de A. Soulez, Paris, PUF, 1985.
• Okasha (2015) Philosophy of Science: A Very Short Introduction, 2nd Ed. [1st Ed. 2002]. Oxford, Oxford University Press.
 Popper (1959) Logique de la découverte scientifique (versão aumentada da 1.ª edição em 1934).
 Russell (1912) Problèmes de philosophie.
• Toulmin (1953) The Philosophy of Science.
• Toulmin (1961) Foresight and Understanding.
 Wagner, dir. (2002) Les philosophes et la science.
 Wittgenstein (1921) Tractatus logico-philosophicus.
 Wittgenstein (posth. 1953) Philosophische Untersuchungen.

Livros de Filosofia da Biologia


 Grene & Mendelsohn (1976) Topics in the Philosophy of Biology.
• Pichot (1980) Éléments pour une théorie de la biologie.
 Rosenberg (1985) The Structure of Biological Science.
 Griffiths (1992) Trees of Life: Essays in Philosophy of Biology.
• Pichot (1993) Histoire de la notion de vie.
 Hull & Ruse (1998) The Philosophy of Biology.
 Sterelny & Griffiths (1999) Sex and Death: An Introduction to Philosophy of Biology.
 Sober (2000) Philosophy of Biology, 2nd Edition.
 Mayr (2004) What Makes Biology Unique: Considerations on the Autonomy of a Scientific Discipline.
 O'Hear (2005) Philosophy, Biology and Life.
 Weber (2005) Philosophy of Experimental Biology.
 Okasha (2006) Evolution and the Levels of Selection.
 Sober (2006) Conceptual Issues in Evolutionary Biology.
 Garvey (2007) Philosophy of Biology.
 Hull & Ruse (2007) The Cambridge Companion to the Philosophy of Biology.
 Matthen & Stephens (2007) Philosophy of Biology (Handbook of Philosophy of Science).
 Agutter & Wheatley (2008) Thinking About Life: The History and Philosophy of Biology and Other Sciences.
 Rosenberg & McShea (2008) Philosophy of Biology: A Contemporary Introduction.
 Sarkar & Plutynski (2008) A Companion to the Philosophy of Biology.
 Barberousse et al. (2009) Mapping the Future of Biology: Evolving Concepts and Theories.
 Ruse (2009) Defining Darwin: Essays on the History and Philosophy of Evolutionary Biology.
 Ayala & Arp (2010) Contemporary Debates in Philosophy of Biology.
 Richards (2010) The Species Problem: A Philosophical Approach.
• Pichot (2011) Expliquer la vie. De l'âme à la molécule.
 Dupré (2012) Processes of Life: Essays in the Philosophy of Biology.
 Kampourakis (2013) The Philosophy of Biology: A Companion for Educators.
 Godfrey-Smith (2014) Philosophy of Biology.
 Kaiser et al. (2014) Explanation in the Special Sciences: The Case of Biology and History.
 Braillard & Malaterre (2015) Explanation in Biology: An Enquiry into the Diversity of Explanatory Patterns in the Life Sciences.
 Love (2015) Conceptual Change in Biology: Scientific and Philosophical Perspectives on Evolution and Development.
 Okasha (2019) Philosophy of Biology, A Very Short Introduction.

E porque o espaço é de graça, organizei a mesmíssima lista por ordem alfabética do sobrenome do primeiro autor, para facilitar a vida...

 Agutter & Wheatley (2008) Thinking About Life: The History and Philosophy of Biology and Other Sciences.
 Ayala & Arp (2010) Contemporary Debates in Philosophy of Biology.
 Barberousse et al. (2009) Mapping the Future of Biology: Evolving Concepts and Theories.
 Braillard & Malaterre (2015) Explanation in Biology: An Enquiry into the Diversity of Explanatory Patterns in the Life Sciences.
 Dupré (2012) Processes of Life: Essays in the Philosophy of Biology.
 Garvey (2007) Philosophy of Biology.
 Godfrey-Smith (2014) Philosophy of Biology.
 Grene & Mendelsohn (1976) Topics in the Philosophy of Biology.
 Griffiths (1992) Trees of Life: Essays in Philosophy of Biology.
 Hull & Ruse (1998) The Philosophy of Biology.
 Hull & Ruse (2007) The Cambridge Companion to the Philosophy of Biology.
 Kaiser et al. (2014) Explanation in the Special Sciences: The Case of Biology and History.
 Kampourakis (2013) The Philosophy of Biology: A Companion for Educators.
 Love (2015) Conceptual Change in Biology: Scientific and Philosophical Perspectives on Evolution and Development.
 Matthen & Stephens (2007) Philosophy of Biology (Handbook of Philosophy of Science).
 Mayr (2004) What Makes Biology Unique: Considerations on the Autonomy of a Scientific Discipline.
 O'Hear (2005) Philosophy, Biology and Life.
 Okasha (2006) Evolution and the Levels of Selection.
 Okasha (2019) Philosophy of Biology, A Very Short Introduction.
• Pichot (1980) Éléments pour une théorie de la biologie.
• Pichot (1993) Histoire de la notion de vie.
• Pichot (2011) Expliquer la vie. De l'âme à la molécule.
 Richards (2010) The Species Problem: A Philosophical Approach.
 Rosenberg (1985) The Structure of Biological Science.
 Rosenberg & McShea (2008) Philosophy of Biology: A Contemporary Introduction.
 Ruse (2009) Defining Darwin: Essays on the History and Philosophy of Evolutionary Biology.
 Sarkar & Plutynski (2008) A Companion to the Philosophy of Biology.
 Sober (2000) Philosophy of Biology, 2nd Edition.
 Sober (2006) Conceptual Issues in Evolutionary Biology.
 Sterelny & Griffiths (1999) Sex and Death: An Introduction to Philosophy of Biology.
 Weber (2005) Philosophy of Experimental Biology.

Alguns sites utilíssimos (quase sine qua non) de Philosophy of Biology:
http://plato.stanford.edu/entries/biology-philosophy/
http://www.iep.utm.edu/biology/
https://www.rep.routledge.com/articles/overview/biology-philosophy-of/v-1
http://philpapers.org/browse/philosophy-of-biology
https://www.hps.cam.ac.uk/students/research-guide/philosophy-biology

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Poemas e frases de Mario Quintana

Baixar Livro Caderno H – Mario Quintana em PDF, ePub, mobi ou Ler ...
Ed. Objetiva - Alfaguara, 2013 (primeira edição, 1973).

O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso.
- Caderno H, p. 77

Datilografia: escrita por batuque.
- Caderno H, p. 80

Sim, todos devem fazer versos. Contanto que não venham mostrar-me.
- Caderno H, p. 98

Poeminha do contra
Todos esses que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!
- Caderno H, p. 105

Se pedissem a minha opinião, eu diria que o ópio do povo é o trabalho.
- Caderno H, p. 105

Deus é impróprio para adultos.
- Caderno H, p. 117

A sucata é o material em férias.
- Caderno H, p. 123

O verdadeiro fruto da árvore do conhecimento é a simplicidade.
- Caderno H, p. 145

Eu venho há muito desconfiando de que a infância é uma invenção do adulto. E o passado uma invenção do presente. Por isso é tão bonito sempre, ainda quando foi uma lástima... A memória tem uma bela caixa de lápis de cor.
- Caderno H, p. 146

O mal dos que estudam as superstições é não acreditarem nelas. Isso os torna tão suspeitos para tratar do assunto como um biologista que não acreditasse em micróbios.
- Caderno H, p. 149

A imaginação é a memória que enlouqueceu.
- Caderno H, p. 151

As reticências são os três primeiros passos do pensamento que continua por conta própria o seu caminho.
- Caderno H, p. 159

Uma das coisas que não consigo absolutamente compreender são os que se convertem a outras religiões. Para que mudar de dúvidas?
Caderno H, p. 168

Esta nossa mania de pronunciar corretamente os nomes estrangeiros... O diabo é que, para acertar por palpite, só não os pronunciamos como está escrito. Em 35, no Rio, um sueco, meu companheiro de pensão, me garantiu que Nobel lá se diz Nobél mesmo e não aqui como nestes Brasis: o Prêmio Nóbel, a Coleção Nóbel. Em contrapartida, os estrangeiros não se dão ao mesmo trabalho connosco. Não, não estou me queixando... Eu até gozava imenso um amigo francês que me chamou imperturbavelmente de “Messiê Quintaná” anos a fio, até que um de nós morreu. Era um excelente homem: deve estar no Paraísô.
Caderno H, p. 193

Maria, nunca mais me escrevas à máquina. Isso dá a impressão de falta de sinceridade. Porque, quanto a mim, não sei pensar à máquina. Só a lápis ou esferográfica.
Caderno H, p. 198

Uma definição apenas define os definidores.
Caderno H, p. 208

Ortografia. Costumava-se distinguir entre creação e criação. Exemplo: a creação de um poema, a criação de galinhas. Era limpo e nítido. Nada de confusões. Mas agora que tudo é um, como diziam os clássicos, ficou irremediavelmente perdido o que escrevi, um dia: “Deus creou o mundo e o diabo criou o mundo.” E agora? Para explicar tudo isso em mais palavras o que seria um verdadeiro crime — imaginem os circunlóquios que eu teria de fazer... Não faço!
Caderno H, p. 215

Clair de lune, chiaro de luna, claro de luna... mas os franceses, os italianos e os espanhóis saberão mesmo o que seja o luar, que nós bebemos de um trago numa palavra só?
Caderno H, p. 238

Dupla delícia: O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.
Caderno H, p. 262

O Profeta diz a todos: “eu vos trago a Verdade”, enquanto o poeta, mais humildemente, limita-se a dizer a cada um: “eu te trago a minha verdade”.
Caderno H, p. 264

O maior desmemoriado que existe é o crente. Ele jamais se cansa de ouvir a mesma história. E sempre esquece os mesmos mandamentos.
Caderno H, p. 282

Quando dês opinião, nunca deixes de escrever a data...
Caderno H, p. 306

O mais feroz  dos animais domésticos é o relógio de parede: conheço um que já devorou três gerações da minha família.
Caderno H, p. 316

A história foi assim como já lhes conto, metade pelo que ouvi dizer, metade pelo que inventei, e a outra metade pelo que sucedeu às deveras. Viram? É uma história tão extraordinária mesmo que até tem três metades... Bem, deixemos de filosofança e vamos ao que importa.
Caderno H, p. 317

O antinarciso: Esse estranho que mora no espelho (e é tão mais velho do que eu) olha-me de um jeito de quem procura adivinhar quem sou.
Caderno H, p. 321

Conviria não esquecer que o adorno veio antes do vestuário.
Caderno H, p. 322

O que prejudica a minha preguiça prejudica o meu trabalho.
Caderno H, p. 329

Qual ioga, qual nada! A melhor ginástica respiratória que existe é a leitura, em voz alta, dos Lusíadas.
Caderno H, p. 330

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Línguas efectivamente faladas em Portugal

Nunca encontrei uma lista completa (ou sequer estimada) de todas as línguas faladas efectivamente em Portugal. Pesquisando as línguas de Portugal, eu encontro sempre a notícia de que a língua portuguesa e a língua mirandesa são as línguas oficiais em Portugal. Tudo certo: é natural que qualquer texto sobre este tema comece por aí. Mas muitos escritos partem daí para trás, discorrendo sobre outras línguas asturo-leonesas (o rionorês, o guadramilês, o mirandês de Sendim [ou sendinês]), sobre dialectos raianos (o barranquenho, a fala de Xálima, o português oliventino), sobre as línguas dos povos que viveram em tempos no território português (o celta, o lusitano, o latim, o árabe), e nada oferecem, de facto, sobre as línguas que são faladas hoje em Portugal. Comecei eu, então, a coligir uma pequena listagem.

Línguas oficiais: [1]
- português
- mirandês

Línguas autóctones: [2]
- rionorês
- guadramilês
- caló português

Línguas ensinadas: [3]
- inglês ................................ 59,6 %
- francês .............................. 21,5 %
- espanhol (castelhano) ....... 14,8 %
- alemão
- latim

E até aqui tudo bem, estas línguas são aquelas sobre as quais encontro dados fidedignos: são faladas no dia-a-dia, são ensinadas e são usadas por pessoas que vivem em Portugal em 2020. E são já dez! Porém, existe todo um universo linguístico que parece ser sumàriamente esquecido: os imigrantes. Com uma imigração diversificada desde há pelo menos um par de décadas, é lógico contar as línguas dos imigrantes entre as línguas faladas em Portugal, ainda que essas línguas não sejam originárias deste país, nem estejam incluídas nos programas oficiais de ensino. Mesmo sabendo que a maioria dos imigrantes provêm de países de língua oficial portuguesa, nada garante que essas pessoas não falem outras línguas que sabemos existir de facto nesses países, a par com o português.

Línguas da imigração (2018) para Portugal: [4]
- brasileiros .................... português, 274 línguas indígenas [5]
- cabo-verdianos ............ português, crioulo cabo-verdiano
- romenos ....................... romeno, húngaro, romani
- ucranianos ................... ucraniano, russo
- britânicos ..................... inglês, galês, escocês, gaélico irlandês
- chineses ....................... chinês mandarim, 292 línguas vivas [6]
- franceses ...................... francês, ~10 línguas regionais [7]
- italianos ....................... italiano, ~25 línguas territoriais [8]
- angolanos .................... português, 6 línguas nacionais, ~40 locais [9]
- guineenses (Bissau) .... português, kriol, ~18 línguas autóctones [10]
- espanhóis .................... espanhol, galego, catalão, basco, aranês
- alemães ....................... alemão
- nepaleses ..................... nepalês, ~128 línguas nacionais [11]
- indianos ....................... inglês, 22 línguas oficiais, 780 línguas [12]
- são-tomenses ............... português, forro, angolar, principense
- holandeses ................... neerlandês
- búlgaros ....................... búlgaro, turco, romani
- bengaleses .................. bengalês [13]
- moldavos ..................... romeno
- venezuelanos ............... espanhol, ~70 línguas indígenas [14]
- paquistaneses .............. inglês, urdu, ~66 línguas indígenas [15]
- russos ....................... russo, 35 línguas oficiais, ~100 minoritárias [16]
- suecos .......................... sueco, 5 línguas minoritárias [17]
- belgas .......................... francês, neerlandês, alemão
- estado-unidenses ......... inglês, espanhol
- moçambicanos ............. português, ~41 línguas autóctones [18]
- polacos ......................... polaco
- suíços ........................... alemão, francês, italiano, romanche
- irlandeses ..................... inglês, gaélico irlandês
- timorenses .................... português, tétum, 15 línguas nacionais [19]
- marroquinos ................. árabe, berbere
- guineenses (Conacri) ... francês, 40 línguas nativas [20]
- sul-africanos ................ inglês, africâner, 9 línguas nacionais [21]
- finlandeses .................. finlandês, sueco
- senegaleses .................. francês, 36 línguas nativas [22]
- austríacos ..................... alemão
- dinamarqueses ............. dinamarquês
- cubanos ....................... espanhol
- colombianos ............. espanhol, 65 línguas ameríndias, 2 crioulos [23]
- canadianos .................. inglês, francês
- iranianos ..................... persa, ~12 línguas irânicas [24]
- noruegueses ................ norueguês
- húngaros ..................... húngaro
- lituanos ....................... lituano
- gregos ......................... grego moderno
- argentinos ................... espanhol
- checos ......................... checo
- letões .......................... letão
- japoneses .................... japonês
- australianos ................ inglês, 250 línguas aborígenes [25]
- eslovacos ................... eslovaco
- luxemburgueses ......... francês, alemão, luxemburguês
- estónios ...................... estónio
- eslovenos ................... esloveno
- cipriotas ..................... grego moderno, turco
- malteses ..................... maltês, inglês, italiano


Ainda se pode com certeza juntar a esta lista outras línguas dos recentes refugiados, etc. Sabemos também que o hebreu clássico é usado sine qua non nos ritos religiosos das comunidades hebraicas, logo devem existir falantes desta língua em Portugal. O latim, ensinado nos seminários católicos, e o árabe, talvez se possam contar entre as línguas religiosas. Ainda que seja talvez excessivo dizer que haja comunidades representativas das diversas línguas indígenas, nativas, autóctones em Portugal, é muito possível que o número de línguas efectivamente faladas no território português seja superior a 50, e isto sem contar com a Língua Gestual Portuguesa (a terceira língua oficial de Portugal [26], poucas vezes mencionada) e outras línguas gestuais que talvez existam. Tal como se diz que em Londres se falam mais de 250 línguas [27], também em Lisboa se falarão muito mais línguas do que só o português, o inglês e o espanhol truncado dos turistas...

Referências
[1] Constituição da República Portuguesa, Artigo 11.º, parágrafo 3; o mirandês é reconhecido e protegido oficialmente no concelho de Miranda do Douro, Lei n.º 7/99, de 29 de Janeiro.
[2] http://www.revistas.unilab.edu.br/index.php/mandinga/article/view/1https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/cal%C3%B3https://en.wikipedia.org/wiki/Cal%C3%B3_language
[3] Pacheco et al. (2017) Educação e formação de adultos em Portugal: retrato estatístico de uma década - 2016. Lisboa: Instituto Nacional de Estatística. 
[4] População estrangeira com estatuto legal de residente (N.º) por Nacionalidade , https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0001236&contexto=pi&selTab=tab0https://www.publico.pt/2019/12/18/sociedade/noticia/numero-nepaleses-franceses-portugal-cresceu-ultimos-10-anos-1897775, v. também , https://pt.countryeconomy.com/demografia/migracao/imigracao/portugal
[5] https://indigenas.ibge.gov.br/estudos-especiais-3/o-brasil-indigena/lingua-falada.html
[6] https://en.wikipedia.org/wiki/China#Languages
[7] https://fr.wikipedia.org/wiki/Langues_r%C3%A9gionales_ou_minoritaires_de_France
[8] https://it.wikipedia.org/wiki/Lingue_dell%27Italia
[9] https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADnguas_de_Angola
[10] https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADnguas_da_Guin%C3%A9-Bissau
[11] https://en.wikipedia.org/wiki/Languages_of_Nepal
[12] https://en.wikipedia.org/wiki/Languages_of_India
[13] O Bangladesh é um país monolingual, o bengalês é falado por 98% da população e outras línguas (inglês, árabe, persa) são faladas apenas secundàriamente , https://en.wikipedia.org/wiki/Languages_of_Bangladesh#Other_languages
[14] https://en.wikipedia.org/wiki/Languages_of_Venezuela#Indigenous_languages
[15] https://en.wikipedia.org/wiki/Languages_of_Pakistan
[16] https://en.wikipedia.org/wiki/Languages_of_Russia
[17] https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADnguas_da_Su%C3%A9cia
[18] https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADnguas_de_Mo%C3%A7ambique
[19] https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADnguas_de_Timor-Leste
[20] https://en.wikipedia.org/wiki/Languages_of_Guinea
[21] https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADnguas_da_%C3%81frica_do_Sul
[22] https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADnguas_do_Senegal
[23] https://en.wikipedia.org/wiki/Languages_of_Colombia
[24] https://en.wikipedia.org/wiki/Languages_of_Iran
[25] https://en.wikipedia.org/wiki/Languages_of_Australia
[26] Constituição da República Portuguesa, Artigo 74.º, parágrafo 2, alínea h), incluída na 5.ª revisão constitucional (1997), Lei n.º 1/97, de 20 de Setembro, https://www.dge.mec.pt/lingua-gestual-portuguesa.
[27] http://projectbritain.com/regions/languages.htm, embora o número seja mais próximo das 82 línguas segundo os censos de 2011, https://data.london.gov.uk/dataset/main-language-spoken-at-home-borough.