segunda-feira, 22 de junho de 2020

Autoras Portuguesas do Século XIX

É mesmo uma feliz surpresa quando descubro uma grande autora! Estou particularmente impressionado com Claudia de Campos e com a alta qualidade dos seus textos! Tal como para o post anterior, para esta lista excluí autoras cuja produção conhecida se cinge a textos religiosos, ou a apenas um ou dois poemas esparsos, ou a correspondência; excluí as autoras que só são conhecidas porque aparecem com um ou dois poemas em colectâneas; finalmente, incluí autoras cuja produção se efectivou já entrado o século XX, mas nascidas ainda no século XIX. Apesar destes limites que me auto-impus, na centúria de oitocentos já começam a ser muitas as mulheres que, felizmente, conseguem publicar as suas obras (e ser reconhecidas por isso, ainda que muitas mais estejam certamente por redescobrir). Por isso, não consigo fazer uma lista exaustiva. Aconselho a consulta da tese de doutoramento de Elen Biguelini para encontrar muitas outras mulheres que merecem ser incluídas aqui (e que o serão, tenha eu tempo).

Deixo, porém, uma note to self. Porque vejo aqui padrões (patterns), merecem mais pesquisa e talvez um post cada: as irmãs Souza; as irmãs Moraes Sarmento; as primeiras médicas, a primeira engenheira, a primeira arquitecta; as três primeiras deputadas ao Parlamento; CBA e as primeiras mulheres eleitoras; a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas e o Comité Português de La Paix et le Désarmement par les Femmes. Talvez também me ponha a ler sobre a tríade de pintoras de nível mundial Aurelia de Souza, Vieira da Silva e Paula Rego.


Maria Archer (1899-1982)
Maria Emília Archer Eyrolles Baltasar Moreira. Romancista prolífica. [ref1]

Lucinda Pinto (18??-19??)
Joana Joaquina Lucinda Pinto. A primeira mulher goesa formada em Medicina, pela Escola Médico-Cirúrgica de Goa em 1919. [ref1ref2ref3]

Sara Barchilon Benoliel (1898-1970)
Médica. [ref1]

Seomara da Costa Primo (1895-1986)
Bióloga. [ref1]

Marta de Mesquita da Câmara (1895-1980)
Usou o pseudónimo Tia Madalena. Escritora. Inúmeras obras publicadas.

Regina Quintanilha (1893-1967)
Regina da Glória Pinto de Magalhães Quintanilha de Sousa e Vasconcelos. Advogada, foi a primeira mulher a exercer em Portugal. [ref1]

Mathilde Bensaúde (1890-1969)
Mathilde Oulman Bensaúde. Bióloga. [ref1]

Maria Evangelina da Silva Pinto (1887-1973)
Médica. Formou-se na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa em 1915. [ref1]

Maria Matos (1886-1952)
Maria da Conceição de Matos Ferreira da Silva. Dramaturga e atriz. [ref1]
África (1935), teatro
Dizeres de Amor e de Saudade (1935), teatro
Direitos do Coração (1936), teatro
A Tia Engrácia (1936), teatro
Escola de Mulheres (1937), teatro

Virgínia Quaresma (1882-1973)
Virgínia Sofia Guerra Quaresma. Jornalista. [ref1]

Maria Joana de Freitas Pereira, (1880-19??)
Médica, pioneira na área da Radiologia. Terminou o curso de Medicina na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa em 1905. [ref1]

Sofia Quintino (1878-1964)
Médica. Defendeu a tese “Algumas palavras acerca de Sensibilização de Bactérias” formando-se em Medicina a 13 de Julho de 1905. [ref1]

Carolina Beatriz Ângelo (1878-1911)
Formou-se em Medicina em 1902 com o tema de dissertação "Prolapsos Genitais" e especializou-se em Ginecologia dez anos depois. Acabou assim por tornar-se a primeira cirurgiã em Portugal e a primeira a operar no Hospital de S. José, em Lisboa. Tornou-se a primeira mulher a votar em Portugal, na eleição para a Assembleia Nacional Constituinte de 1911. [ref1]

Emilia de Sousa Costa (1877-1959)
Emília da Piedade Teixeira Lopes de Sousa Costa. Escritora, contista e activista do feminismo, considerada pioneira da literatura infantil em língua portuguesa. [ref1ref2]
Como eu vi o Brasil, Lisboa: Empresa Diário de Notícias, 1926.
Quem tiver filhas no mundo..., 1933. Portada criada por Raquel Roque Gameiro.
Lendas de Portugal, Porto: Empresa Nacional de Publicidade, 1935.
No reino do Sol, Porto: Ática, 2.ª edição, 1947. Em colaboração com Ofélia Marques.
- Publicou também inúmeros livros infantis.

Maria Cândida Parreira (1877–1942)
Maria Cândida de Oliveira Parreira. Advogada, política e poetisa. Em 1934, a convite de António de Oliveira Salazar, integrou a lista única de candidatos a deputados à recém-fundada Assembleia Nacional, acabando por vir efectivamente a desempenhar essas funções durante a I Legislatura do Estado Novo, entre Janeiro de 1935 e Novembro de 1938, na companhia de outras duas mulheres, Domitila de Carvalho e Maria Baptista Guardiola, todas elas solteiras e católicas. [ref1]

Cândida Aires de Magalhães (1875-1964)
Cândida Vaz de Carvalho Aires de Magalhães. Escritora. [ref1ref2]
Trevas Luminosas, 1919.
Falam os Meninos, 1927, contos para crianças
Asas Feridas, 1928.
Um Português, 1932, um folheto constituído por quatro sonetos e uma balada pela morte de D. Manuel II.
Gente Pequenina, 1935, livro para crianças.
- Colaborou em periódicos e almanaques.

Mafalda Mouzinho de Albuquerque (1874-1952)
Usou o pseudónimo Modesta. Escritora. [Lopes de Oliveira, p. 134]
Contos (1906)
Versos (1907)
O Coração de um Sábio (1908), romance
Um Rembrandt (1910)
Nevadas Penas (1913)
Ciúme (1918), teatro

Ana de Castro Osório (1872-1935)
Escritora e tradutora. Fundou a associação política Liga Republicana das Mulheres Portuguesas. Compilou, organizou, editou e publicou "Clepsidra", o único livro de Camilo Pessanha, em 1920, na editora por ela criada, Lusitânia. [ref1]
- Publicou vasta obra, principalmente estórias infantis e textos pedagógicos.

Rita de Moraes Sarmento (1872–1931)
Engenheira Civil, a primeira mulher a tirar este curso em Portugal. [ref1]

Domitila de Carvalho (1871-1966)
Domitila Hormizinda Miranda de Carvalho. [ref1]

Maria Veleda (1871-1955)
Maria Carolina Frederico Crispin; usou o pseudónimo Maria Veleda. Escritora e activista. [ref1]

Guilhermina de Moraes Sarmento (1870-19??)
Médica, uma das primeiras clínicas a nível nacional. [ref1]

Mécia Mouzinho de Albuquerque (1870-1961)
Escritora. [Lopes de Oliveira, p. 135]
A Tecedeira, poemeto, Lisboa, 1914
Fragmentos Históricos, versos, Lisboa, 1917
A Sonâmbula, contos, Lisboa, 1918, traduzidos em espanhol por Rafael Rotlan, Madrid, 1919
Rainha e Mártir, poemeto, Paris, 1920
Pela Vida Fora, versos, Lisboa, 1930
A Guitarra, versos, Lisboa, 1932
A Sua Majestade El-Rei Senhor Dom Manuel II, poemeto fúnebre, Lisboa, 1932;
Aventuras de Tomyris, romance, Lisboa, 1943
A Monja, Lisboa, 19??
Ao Fim da Estrada, no prelo 1948

Sophia de Souza (1870-1960)
Sophia Martins de Souza. Pintora. [ref1]

Maria Júdice da Costa (1870–1960)
Maria Bárbara Bicker Júdice da Costa. Cantora lírica. [ref1]

Maria Olivia Ribeiro Pessoa Cabral (1870-1955)
Médica. [ref1]

Emília Patacho (1870-1944)
Emília Cândida da Silva Patacho. Médica. Foi directora do Reformatório de Lisboa para o sexo feminino (1909-1931). Nesta Instituição acumulava as funções de médica e assistente de menores. [ref1]
Monografia do Reformatório de Lisboa (Sexo feminino), Ministério da Justiça e dos Cultos: Serviços Juridicionais e Tutelares de Menores, Vila do Conde, Tipografia do Reformatório de Vila do Conde, 1931.

Aurelia Moraes de Sarmento (1869-19??)
Médica. Matriculou-se na Academia Politécnica do Porto, com apenas 16 anos, nas cadeiras que faziam parte do plano de estudos como sendo obrigatórias para o ingresso na Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Licenciou-se em Medicina na Escola Médico-Cirúrgica do Porto em 1891 com a tese Hygiene da Primeira Infancia, tendo sido a primeira mulher a licenciar-se me Medicina na Escola do Porto, seguida da sua irmã mais velha Laurinda Morais de Sarmento. Aurélia e Laurinda abriram um consultório médico privado que se situava no n.º 579 da Rua do Almada, no Porto, o qual estava vocacionado para doenças de senhoras e crianças, e tinha um serviço de partos a qualquer hora. [ref1ref2]

Laurinda de Moraes Sarmento (1867-19??)
Médica, 1.ª mulher matriculada na Escola Médico-Cirúrgica do Porto. [ref1]

Emília dos Santos Braga (1867-1950)
Emília Adelaide Xavier dos Santos e Silva Braga. Pintora naturalista, discípula da José Malhoa e professora de Vieira da Silva. [ref1]

Alice Moderno (1867-1946)
Alice Augusta Pereira de Melo Maulaz Moderno. Professora, escritora, tradutora, jornalista, publicista e poetisa, que se distinguiu como feminista e activista dos direitos dos animais. [ref1ref2]
- Publicou inúmeros romances e outros textos, e colaborou abundantemente em periódicos, alguns dos quais dirigiu.

Adelaide Cabete (1867-1935)
Adelaide de Jesus Damas Brazão e Cabete. Médica, activista feminista. [ref1]

Aurelia de Souza (1866-1922)
Maria Aurelia Martins de Souza. Pintora. [ref1]

Maria Teodora Pimentel (1865-19??)
Médica. Obteve o diploma do magistério primário, tendo sido professora de instrução primária e do ensino secundário. Após ter frequentado a Escola Politécnica de Lisboa transitou para a Escola Médico-Cirúrgica onde defendeu o "Acto Grande" no dia 8 de Novembro de 1895. [ref1]


Retrato da escritora Claudia de Campos, tirado no atelier de Maria Eugenia Reya Campos, em Lisboa. Da mão da escritora pode ler-se "Souvenir de Colette", um dos seus pseudónimos, e a data de 12 de Setembro de 1891. Imagem colectada daqui.

Claudia de Campos (1859-1916)
Maria Claudia de Campos; usou os pseudónimos Colette e Carmen Sylva. Escritora e activista feminista. [ref1ref2ref3; ref4]
Rindo... (contos), Lisboa, Oficina Tipográfica da Empresa Literária de Lisboa, 1892
Ultimo Amor, Lisboa, M. Gomes Editor, 1894
Mulheres (Ensaios de psychologia feminina), Lisboa, M. Gomes Editor, 1895.
A Esphinge, Lisboa, M. Gomes Editor, 1897
Elle: com retracto da auctora, Lisboa, Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão, 1899
A Baronesa de Staël e o Duque de Palmela, Lisboa, Tavares Cardoso & Irmão, 1901
- Vários ensaios, contos, prefácios e colaborações com periódicos.

Maria Paes Moreira (1857-1941)
Maria Leite da Silva Tavares Paes Moreira. Médica. Foi a primeira aluna a matricular-se na Academia Polytechnica do Porto em 1884. Tinha 27 anos e era a única mulher entre os 206 matriculados. Mas o seu nome não consta da lista alfabética: o tipógrafo não acreditou tratar-se de uma mulher e escreveu Mário em vez de Maria. [ref1ref2]

Amélia Cardia (1855-1938)
Amelia dos Santos Costa Cardia. Uma das poucas mulheres a exercer Medicina em Portugal na segunda metade do século XIX. Médica, escritora e espírita. [ref1]
- romances "A Judia", "Episódios da Guerra" (contos), "Na Atmosfera da Terra", este último de cariz neo-espiritualista, e "Pecadora: romance psicológico" (1934).

Angelina Vidal (1853-1917)
Angelina Casimira do Carmo da Silva Vidal; usou o pseudónimo Republicana Viseense. Foi uma jornalista, tradutora, professora, olissipógrafa e escritora. Activista pelos direitos dos mais pobres e dos das mulheres, compactuando com a ideologia republicana e socialista. [ref1ref2]
- Publicou obra vastíssima em romance, conto, teatro e colaborações em periódicos e almanaques, incluindo periódicos no Brasil, em Angola e na Espanha.

Carolina Michaëlis de Vasconcelos (1851-1925)
Linguísta, professora universitária. Uma das duas primeiras mulheres admitidas como sócias da Academia das Sciencias de Lisboa (junto com Maria Amália Vaz de Carvalho). [ref1]

Maria Amália Vaz de Carvalho (1847-1921)
Escritora, polígrafa e poetisa, activista feminina, autora de contos e poesia, mas também de ensaios e biografias. Uma das duas primeiras mulheres admitidas como sócias da Academia das Sciencias de Lisboa (junto com Carolina Michaëlis de Vasconcelos). [ref1]

Maria Eugenia Reya Campos (1842?-1917)
Fotógrafa, a primeira fotógrafa profissional em Portugal; nascida em Valência de Alcântara, Espanha, filha de pai português. [ref1]

Hermenegilda de Lacerda (1841-1895)
Hermenegilda Teles de Lacerda. Escritora prolífica. [ref1]
- Teatro - Entre dois deveres, A verdadeira nobreza, O apóstolo; Deus existe e Heroismo de mulher.
- Romance: A mariquinhas da gruta; O eremita da ilha do Faial; Uma narrativa ao ar livre, Uma recordação dos 14 anos, Da fatalidade à felicidade, A voz da natureza, Faze bem não olhes a quem e O valle da feiticeira.
- Poesia: Horas crepusculares.

Ana Plácido (1831-1895)
Ana Augusta Vieira Plácido, viscondessa de Correia Botelho; assinava A.A. (Ana Augusta) e usou os pseudónimos Gastão Vidal de Negreiros Lopo de Souza. [ref1]
- Colaborou em diversas publicações e fez inúmeras traduções e adaptações.
Luz coada por ferros. Escriptos originaes, Lisboa, na Typ Universal, 1863.
Herança de Lágrimas, Guimarães, Redacção Vimaranense, 1871.[pseud. Lopo de Souza]

Antonia Getrudes Pusich (1805-1883)
Jornalista, a primeira mulher jornalista em Portugal. [ref1]


Bibliografia Geral
[ ] http://www.escritoras-em-portugues.eu/
[ ] https://debategraph.org/Details.aspx?nid=133376
[ ] Américo Lopes de Oliveira (1983) Escritoras Brasileiras, Galegas e Portuguesas. Braga: Tip. Silva Pereira.
[ ] Américo Lopes de Oliveira e Mário Gonçalves Viana (1967) Dicionário Mundial de Mulheres Notáveis. Porto: Lello & Irmão.
[ ] https://revistacaliban.net/a-literatura-feminina-em-portugal-480d17ecbe04
[ ] Elen Biguelini (2017) Tenho escrevinhado muito: Mulheres que escreveram em Portugal (1800-1850). Tese de doutoramento, Universidade de Coimbra.

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